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Cientistas conseguem fazer “reviver” fósseis humanos

Cabeça reconstruída de uma jovem Neandertal encontrada em Gibraltar a partir de cinco fragmentos do crânio.

Uma equipe suíço-boliviana de cientistas da Universidade de Zurique faz renascer os mais distantes ancestrais dos seres humanos através de uma pioneira técnica de realidade virtual tridimensional.

Ao combinar seus conhecimentos em tecnologias da computação, Christoph Zollikofer e Marcia Ponce se tornaram especialistas reconhecidos mundialmente na reconstrução computadorizada de fósseis pré-históricos.

A técnica inovadora da dupla de cientistas, cujo maior destaque é a série de projetos de reconstrução virtual em alta tecnologia, também ajuda a responder a importantes questões sobre a evolução da espécie humana.

Desde 1992 e graças aos resultados do trabalho, os dois estão recebendo convites de pesquisadores de todas as partes do mundo para descobrir como é possível extrair o máximo possível de informações de raros, fragmentários e, muitas vezes, também danificados fósseis.

Um dos projetos é o “Toumai”, também conhecido pelo nome científico de “Sahelanthropus tchadensis”. Trata-se de fragmentos do crânio da mais antiga criatura próxima à espécie humana, ou hominídeo, que teria vivido há sete milhões de anos atrás. Os ossos descobertos no Chad datam de um momento quando, de acordo com as informações genéticas, os ancestrais do homem e os ancestrais dos chimpanzés teriam tomado diferentes caminhos na história da evolução.

Em 2005 o paleontologista francês Michel Brunet havia pedido a equipe para reconstruir o crânio de Toumai. No final, as informações recolhidas permitiram descobrir novas evidências de que o Toumai não era um ancestral do gorila, ao contrário do que muitos cientistas acreditavam, mas sim um bípede, condição básica para o status de hominídeo.

“Eles são os melhores do mundo no domínio da reconstrução virtual”, declarou Brunet à revista especializada “Science”.

Mais recentemente a dupla reagrupou “John of Anina”, de 42 mil anos de idade, o primeiro Homo sapiens europeu, descoberto no sudoeste da Romênia. O trabalho levou a intensivas pesquisas sobre nosso “primo” evolucionário, o Homem de Neandertal.

“Sempre estivemos interessados na reconstrução dos momentos-chave da evolução”, afirma Zollikofer à swissinfo.

Peça por peça

Juntar antigos fósseis é um processo extremamente esmerado, que em muitos casos pode exigir até três anos do trabalho da equipe da técnica especial virtual.

“Um dos maiores problemas de estudar a evolução humana é o fato de termos muito poucos fósseis à disposição”, explica Zollikofer. “Mesmo quando encontramos um, normalmente ele está fragmentado ou deteriorado. A questão básica é como retirar o máximo possível de informações sem tocá-lo”.

O primeiro passo é o recolhimento de dados, o que hoje em dia é tipicamente feito através de tomografia computadorizada para escanear os fragmentos fósseis. Esse procedimento produz pedaços virtuais de um objeto, que pode posteriormente ser recomposto em três dimensões no computador.

A dupla de cientistas utiliza um software gráfico especial, no qual eles adicionam também seu profundo conhecimento de anatomia humana, para isolar eletronicamente cada fragmento e recriar as partes que faltam.

Como reconstruir um vaso quebrado, eles podem “colar” virtualmente as peças de um crânio completo ou outras partes do corpo. Depois elas podem ser analisadas e comparadas com as de outras espécies.

Neandertal

Depois o tecido pode ser adicionado aos contornos de um rosto através de tecnologias modernas de análise do esqueleto. Finalmente os resultados, como os apresentados na reconstrução do Toumai, são impressionantes até para os especialistas.

“É uma criatura que está além da imaginação”, avalia Zollikofer. “Isso é o que mais fascina na ciência: você pode chegar a conclusões que nunca esperava”.

Graças às pesquisas realizadas pela equipe em Zurique sobre os Neandertais, a comunidade científica tem agora uma visão mais clara do desenvolvimento e processo evolucionário que produziram tanto o homem de Neandertal como os humanos modernos.

“Agora podemos dizer que desde o seu nascimento os Neandertais já eram diferentes de nós. Outra importante mensagem é que não somos os únicos humanos. Já houve outra espécie humana”, conclui o pesquisador.

Mesmo depois de quinze anos, as construções virtuais dos dois continuam causando impacto.

“Quando você vê o Neandertal, que são tão próximos de nós, especialmente as crianças, é emocionante quando você começa a se perguntar o que ocorreu com a criança quando ela morreu e seus pais”, adiciona Zollikofer.

swissinfo, Simon Bradley

Um hominídeo é um membro da família biológica dos Hominidae, os “grandes macacos”, que incluem humanos e seus ancestrais fósseis, chimpanzés, gorilas e orangotangos.
Paleoantropologia é a área da antropologia física que estuda a evolução humana.
O Museu Antropológico da Universidade de Zurique organiza atualmente uma exibição sobre o homem de Neandertal e as descobertas de fósseis dos últimos 151 anos. Ela está aberta até 16 de dezembro de 2007.

O Neandertal era uma espécie do gênero Homo (Homo neanderthalensis) que habitou a Europa e partes do oeste da Ásia de cerca de 230.000 a aproximadamente 29.000 anos atrás (Paleolítico Médio e Paleolítico Inferior, no Pleistoceno).

Os Neandertais eram adaptados ao frio, como mostrado pelos seus grandes cerébros, seu curto mas volumoso e largo nariz. Essas características são destacadas pela seleção natural nos climas frios, e também são observadas nas modernas populações sub-árticas. Seus cérebros eram aproximadamente 10% maiores em volume que os dos humanos modernos. Na média, os Neandertais tinham cerca de 1,65 m de altura e eram muito musculosos.

Seu estilo característico de ferramentas de pedra é chamado de cultura musteriense. (Texto: Wikipédia em português)

iniciou os estudos em biologia na Universidade de Zurique. Depois ele estudou violoncelo por três anos, antes de retornar à universidade para completar um PhD em neurobiologia relativo à locomoção de formigas do deserto. Ele é professor de antropologia da Universidade de Zurique desde 2004.

Marcia Ponce de León nasceu em La Paz, Bolívia. Ela estudou engenharia civil e também foi uma séria estudante de piano. Em meados dos anos 90, ela se mudou para Zurique para estudar biologia. Em 2000, ela se tornou em PhD em antropologia. Sua tese foi focalizada no desenvolvimento dos Neandertais. Atualmente ela é conferencista sênior de antropologia da Universidade de Zurique.

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