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Forum Social Mundial foi maior encontro de esquerdas

Centenas de movimentos, organizações não governamentais, sindicatos e intelectuais decidiram intensificar as manifestações e a resistência à "globalização neoliberal". Comprometeram-se também a aplicar as idéias alternativas discutidas no 1º Fórum Social Mundial e decidiram que o 2º FSM também será realizado em Porto Alegre, em janeiro de 2002.

O 1º Fórum Social Mundial de Porto Alegre (FSM) foi o maior encontro até agora de todos os que se opõem, de uma maneira ou outra, ao chamado neoliberalismo. Depois de uma série de manifestações pontuais de protesto contra a Organização Mundial do Comércio (OMC) e contra o Fórum de Davos, entre outras, cerca de 10 mil pessoas de 117 países estiveram na capital gaúcha. Foram credenciados 3.400 delegados e mais de mil jornalistas, segundo os organizadores do evento.

Durante 5 dias, houve cerca de 300 conferências e debates, numa verdadeira maratona de 13 horas diárias. Movimentos campesinos, índios, trabalhadores, 240 autoridades locais, 426 parlamentares de 26 países, o Fórum de Porto Alegre ultrapassou as previsões mais otimistas de seus organizadores.

“Para nós da delegação suíça, a conclusão é muito positiva. Acho que demos aqui uma imagem bem melhor da Suíça do que aquela que a polícia e o governo deram em Davos”, segundo o deputado federal socialista Pierre-Yves Maillard. Ele afirma ter sido informado que a Suíça teria sido condenada no documento final do FSM, se a delegação não tivesse repudiado o que ocorria em Davos na declaração feita na sessão inaugural do Fórum de Parlamentares. O deputado afirmou também que com o que ocorreu em Porto Alegre “os que vão a Davos não representam mais o pensamento econômico único”.

Os parlamentares decidiram criar uma rede internacional para atuar junto aos movimentos sociais e organizações não governamentais (ONGS) para coordenar ações no mundo inteiro para a construção de um novo modelo econômico e social, alternativo ao neoliberalismo. Na Carta de Porto Alegre que divulgaram, os parlamentares apóiam a anulação da dívida dos países pobres e a taxação de capital especulativo com a aplicação da Taxa Tobin.

Agricultores, índios, trabalhadores e jovens se organizam

A Via Campesina, movimento mundial de agricultores, pequenos proprietários, trabalhadores rurais e povos indígenas anunciou uma aliança internacional contra o modelo neoliberal. O movimento é contra os transgênicos e terá uma agenda internacional de protestos contra a Organização Mundial do Comércio (OMC). O hondurenho Rafael Alegria, da direção da Via Campesina, declarou que a agricultura precisa sair da agenda da OMC. “Não podemos aceitar que as multinacionais nos digam o que e como produzir”, declarou.

Reunidos durante três dias em Porto Alegre, 700 representantes de grupos indígenas debateram os efeitos da globalização sobre as comunidades indígenas. No documento final que divulgaram, os índios exigem, a nível internacional, uma educação diferenciada (bilíngüe e bicultural), políticas de proteção ambiental em áreas indígenas, reconhecimento das organizações indígenas e consolidação da convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que se refere ao direito de posse e utilização de terras pelos índios.

A adoção de medidas de incentivo às indústrias nacionais, o fortalecimento do Mercosul para enfrentar o acordo da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), o fim das barreiras protecionistas dos USA e dos países europeus e a diminuição do comprometimento de recursos para o pagamento da dívida externa são as reivindicações de centrais sindicais do Brasil, América Latina, Indonésia e da Confederação Mundial do Trabalho (CMT), reunidas em Porto Alegre. Os sindicatos defendem também a redução de impostos às empresas e setores locais geradores de emprego e renda.

“A experiência deste Fórum marca o início de uma nova etapa de propostas em direção a um mondo mais justo e solidário”, afirmou o secretário da CMT, Eduardo Estévez. As reivindicações de Porto Alegre serão apresentadas no próximo congresso da CMT, em outubro, na Romênia, a 140 organizações de 117 países.

Mais de 2 mil jovens reunidos no Acampamento da Juventude do Fórum Social Mundial definiram um calendário de protestos para este ano. Em abril, estarão presentes em Buenos Aires, na reunião dos ministros das Relações Exteriores da América para discutir o Alca, acordo de livre comércio desejado pelos Estados Unidos e no Canadá, durante a reunião de presidentes sobre o mesmo tema. Em julho, participam do movimento internacional pela anulação da dívida externa do paíes do terceiro mundo e, em setembro, protestam durante reunião do Banco Mundial e FMI.

Todos parecem crer realmente que “um mundo novo é possível”, slogam do 1º Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. O 2° FSM também será realizado na capital gaúcha, em janeiro de 2002.

Porto Alegre, ClaudinêGonçalves

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