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Empresas dominam doações políticas na Suíça, diz estudo

Políticos no Parlamento suíço.
Deputados-federais votando no último dia da sessão de outono no Parlamento Federal, em 26 de setembro de 2025. Keystone / Alessandro Della Valle

A Suíça finalmente se equiparou à média europeia em transparência sobre financiamento político, mas especialistas alertam para graves lacunas: doações abaixo de 15 mil francos seguem ocultas, empresas dominam as contribuições, e não há limite de valores.

Desde 2023, a Suíça possui regras de transparência. Antes disso, não se sabia quem financiava a política no país. Atualmente, dois terços de todas as doações a campanhas de votação e metade de todas as doações a partidos têm seus doadores identificados.

Como a Suíça se posiciona em comparação com a Europa? Os dados do portal holandês Follow the MoneyLink externo (FTM) permitem essa comparação. Em 2024, o FTM pesquisouLink externo em toda a União Europeia como os partidos se financiam e de onde vêm suas doações.

Comparação com os Estados da UE

Em termos de transparência no financiamento partidário, a Suíça fica em 13º lugar entre 23 países da UE no que diz respeito a votações e eleições, e em 11º lugar no que se refere a doações a partidos nacionais. Os dados da UE provêm de relatórios anuaisLink externo dos partidos e registros nacionais.

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As regras de divulgação diferem de país para país. “A Suíça está em uma posição sólida no meio da tabela”, avalia Toine Paulissen, cientista político da Universidade de Leuven, que pesquisa o financiamento de campanhas de referendo na Europa – como na Irlanda, no Reino Unido ou na República da Moldávia. Os referendos são particularmente interessantes para análise, pois os partidos têm menos a ganhar diretamente neles do que em eleições.

“Grandes gastos em campanhas de votação revelam prioridades”, afirma Paulissen. Pois: “Promessas eleitorais não custam nada, mas campanhas de votação são caras.”

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No entanto, o alto limite para divulgação enfraquece as regras suíças de transparência, critica Paulissen. Isso porque doadores de valores inferiores a 15 mil francos permanecem anônimos. Campanhas com orçamento inferior a 50 mil francos nem sequer estão sujeitas à obrigação de divulgação. Por isso, muito dinheiro permanece nas sombras e as verdadeiras relações de força seguem desconhecidas, segundo Paulissen.

De acordo com um estudoLink externo da UE, o limite médio para doações na União Europeia é de 2.400 euros (2.242 francos), cerca de seis vezes menor do que na Suíça. Além disso, o GRECO, organização anticorrupção do Conselho da Europa, recomendou em seu último relatórioLink externo que a Suíça reduza o limite de 15 mil francos.

Um exemplo positivo de transparência em campanhas é a República Tcheca: as campanhas devem realizar todos os gastos a partir de uma conta bancária específica, e essas contas são acessíveisLink externo ao público.

$A transparência tem ainda outro propósito, explica Paulissen: “Ela deve fortalecer a confiança no sistema político”. Segundo um estudo recenteLink externo do GFS, instituto suíço de pesquisa social e estatística, a pedido da SRG-Swissinfo, muitos na Suíça compartilham essa opinião: 80% da população têm a impressão de que a influência de grupos de interesse na política é excessiva e que o dinheiro permite influência política desproporcional.

A Suíça foi o último país do Conselho da Europa a introduzir, no outono de 2023, regras de transparênciaLink externo para o financiamento político. Essas regras valem para campanhas em eleições e votações nacionais, bem como para partidos no Parlamento nacional.

Campanhas que gastam mais de 50 mil francos devem divulgar suas receitas totais e todas as doações acima de 15 mil francos. Além disso, os partidos parlamentares devem publicar anualmente suas receitas e grandes doadores. Todos os dados são enviados à Autoridade Suíça de Controle Financeiro, que os publicaLink externo publicamente. Atualmente, o ministério suíço da Justiça avalia o quão eficazes são essas regras.

Quem são os grandes doadores?

Na Suíça, qualquer pessoa pode doar, e o quanto quiser. A lei apenas proíbe doações anônimas e doações provenientes do exterior. Isso está em linha com os padrões na União Europeia. Doações anônimas são proibidas em três quartos dos países da UE, assim como doações vindas do exterior.

Apenas na Bélgica, Dinamarca, Suécia, Países Baixos e Alemanha (até mil euros, cerca de 934 francos) doações do exterior são permitidas.

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Em 2024, apenas 10% de todas as doações partidárias divulgadas e apenas 2% das doações para campanhas de votação e eleitorais na Suíça vieram de pessoas físicas. O restante provém de empresas, associações profissionais, sindicatos e ONGs. A política suíça baseia-se no dinheiro de organizações com interesses econômicos – ou, pelo menos, ideológicos.

Recentemente, gerou controvérsiaLink externo uma doação da empresa de telecomunicações Swisscom, majoritariamente de propriedade do Estado suíço.

A associação de empresas de construção civil “Infra Suisse” doou no ano passado cerca de 140 mil francos para uma campanha em favor de mais rodovias, enquanto a empresa pública de energia “Axpo” – uma sociedade anônima pertencente a cantões suíços – financiou com um quarto de milhão de francos uma campanha em favor de mais energias renováveis.

No contexto das campanhas de votação de 2024, foram divulgadas doações de 31 milhões de francos para campanhas. Metade desse valor veio de associações empresariais. Mas também ONGs ambientais, associações de proprietários, associações médicas e sindicatos contribuíram com milhões.

Na União Europeia, por outro lado, as doações políticas vêm principalmente de pessoas físicas. Na Suíça, são as organizações que financiam mais a política. Uma diferença marcante – mesmo considerando que a coleta e a categorização de dados variam de país para país.

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A predominância das organizações nas doações suíças é, para Fernando Casal Bértoa, cientista político da Universidade de Nottingham, um reflexo das regras suíças fracas. As regras suíças não estabelecem limites máximos para doações. Isso é particularmente problemático para doações de organizações jurídicas, principalmente empresas.

“Empresas, por definição, não têm interesse público”, explica o cientista político. Segundo Casal Bértoa, empresas que recebem contratos públicos enfrentam conflitos de interesses.

Para que a transparência fortaleça a confiança na política, seria necessário limitar a influência do dinheiro e impedir uma “corrida armamentista financeira”, afirma Casal Bértoa: “Quem permite gastos ilimitados, provoca receitas ilimitadas. A questão é: de onde vêm essas receitas?”

O Conselho da Europa, segundo Casal Bértoa, recomenda proibir completamente doações de empresas, ao contrário da situação atual na Suíça. Conforme um estudoLink externo da UE de 2021, apenas cinco países da UE permitem doações de empresas controladas pelo Estado – nesse contexto, a doação da empresa suíça de energia Axpo seria ilegal em muitos lugares. Metade dos países da UE proíbe doações de empresas com grandes contratos estatais, como empresas automobilísticas. Em 13 países da UE, doações de pessoas jurídicas são geralmente proibidas.

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Partidos precisam de doações

Para Wouter Wolfs, a ausência de restrições e limites às doações na Suíça é problemática por outro motivo.

O cientista político da Universidade de Leuven pesquisa financiamento de partidos. “No fim das contas, os argumentos devem prevalecer, não os orçamentos de propaganda”, diz ele. Na opinião pública, não deve surgir a impressão de que a influência política é comprável. Esse problema é ainda mais relevante porque a Suíça não possui financiamento estatal para partidos.

Os partidos suíços são associações comuns sem apoio do Estado. Apenas as frações parlamentares recebem verbas para seus escritórios: em 2024, foram 7,4 milhões de francos no total. Se somarmos esse valor às receitas publicadas dos partidos, o financiamento estatal corresponde a cerca de 25%, bem abaixo da média da UE.

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É aí que Wolfs propões uma intervenção. A transparência só cria confiança quando todos competem em condições equitativas. Por isso, um financiamento público bem calibrado é importante. “Os partidos não devem se tornar marionetes do Estado nem brinquedos de ricos doadores.” É necessário equilibrar o financiamento estatal e as doações privadas.

Segundo os dados, o financiamento estatal de partidos na Suíça é menor do que em qualquer outro país europeu, exceto Malta. Em média, na UE, mais da metade do orçamento dos partidos vem de recursos públicos. Na Irlanda, os partidos vivem quase inteiramente de dinheiro público.

Autoridade não confia nos dados

No final de agosto de 2025, a Autoridade Suíça de Controle Financeiro publicou pela segunda vez as receitas dos partidos nacionais. Em 2024, eles arrecadaram 22,4 milhões de francos. Contudo, a autoridade declarou que os dados não permitem “uma visão completa sobre o financiamento político”. A conclusão sobre as regras suíças de transparência é desanimadora, já que a própria autoridade afirma que elas não permitem uma visão geral confiável.

Colaboração: Jennifer Steiner und Luca Obertüfer

Edição: Benjamin von Wyl

Adaptação: Karleno Bocarro

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A pesquisa foi realizada no âmbito do Prêmio Média Newcomer.

Você pode pesquisar e comparar os dados disponibilizadosLink externo pelas autoridades suíças na plataforma do WAV Recherchekollektiv.

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