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Futebol: sombra, luz e zonas cinzentas

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Por ocasião do Euro 2008, o Museu de Etnografia de Genebra (MEG), conhecido por seu acervo referente à cultura indígena da Amazônia, faz uma exposição intitulada "Fora de Jogo".

Trata-se de uma mostra lúdica, um olhar múltiplo sobre o jogo de futebol e seus entornos menos reluzentes.

Somos acolhidos na quase-obscuridade por uma coleção de personagens que evocam ao mesmo tempo o futebol e a sociedade: do “deus Maradona” ou do “papa” Blatter à cortesã Victoria Bekcham, passando pelo gladiador-jogador.

Os bonecos foram fabricados em Kinshasa, nessa África que alimenta o futebol internacional e vê tantas crianças sem futuro, para as quais a realidade de uma verdadeira carreira num clube europeu nunca será acessível.

“Fora de Jogo” aborda também a beleza do gesto no futebol, mas ainda os paetês das estrelas do futebol e de suas mulheres de tendência “boneca Barbie”.

O dinheiro dos jogadores, patrocinadores, financiadores e dos espectadores está onipresente. Na exposição se vê a reconstituição de um camarote VIP, onde os convidados bebem champanhe, e de uma tribuna popular, onde se bebe cerveja.

O extremismo dos torcedores é abordado, assim como as visões líricas de personalidades como Josef Blatter ou Adolf Ogi, que vêem no esporte em geral, e no futebol em particular, um instrumento para salvar o planeta.

Depois de algumas abordagens – torcedores, nacionalismo, superstições – uma sala sublinha o aspecto convivial que deveria existir no … jogo. Aí se pode tomar um café enquanto se admira telas que abordam a atualidade no especial EURO 08 da swissinfo. De fato, a ambição do museu coincide com a de swissinfo: observar o fenômeno futebol em sua multiplicidade. Por isso somos parceiros nesta exposição.

Com o apoio do pesquisador Raffaele Poli, Christian Delécraz, curador do MEG, organizou a exposição.

swissinfo: Qual foi a idéia dessa exposição?

Christian Delécraz: Também é nosso papel abordar assuntos da atualidade. Na maioria dos museus, o que existe nessa matéria são exposições com velhas camisas, fotos referentes à glória do futebol. Ora, obras de artistas também trataram do futebol.

Nós queríamos falar de integração, de identidade, de mim, dos outros, dos fenômenos da torcida e de temas sociais muito profundos. Finalmente o futebol é um pretexto para falar da complexidade do mundo em que vivemos.

swissinfo: Depois desse trabalho, como explicar que só o futebol tenha atingido esse status de maior esporte?

C.D.: Evitamos criar um espaço “e depois?”, em que se questionasse o que ocorreria se o futebol desaparecesse, como imagina Bilal em um de seus livros. O futebol surgiu em 1863 nas escolas particulares inglesas – aliás, é por isso que são onze jogadores num time: nessas escolas cada equipe tinha 10 pessoas por quarto e um chefe de quarto!

Rapidamente o futebol chegou às classes populares e tornou-se o esporte popular por excelência. Pode ser jogado em qualquer lugar. Até mesmo com uma lata! E as regras são bem simples…

A única exceção, talvez é a do impedimento, do fora de jogo! Por isso demos esse nome à exposição e não pênalti, por exemplo. O fora de jogo não é uma falta, é uma posição que pode se tornar uma falta, mas não é uma falta em si!

Além disso, todo mundo pode jogar futebol. Como o tempo e cada vez mais caiu na área de marketing, da publicidade, dos negócios … e até da bolsa de valores! O salário dos jogadores, a presença na mídia: tudo isso suscita vocações e desejos em todo o planeta.

swissinfo: O que provoca certos problemas…

C.D.: Os mais desfavorecidos, os excluídos, sonham em vir em vir para a Europa e ter sucesso. Como ocorreu com o marfinense Didier Drogba, atualmente uma estrela do Chelsea. Mas, para um jogador que tem sucesso, quantos fracassam? Raffaelle Poli acaba de terminar um doutorado sobre as transferências de jogadores do sul para o norte. Ele me envia regularmente e-mails falando sobre jovens africanos que gostariam de vir para a Europa e que isso lhes salvaria a vida.

Isso representa sonhos, aspirações incríveis. Mesmo os que conseguem vir, quantos não fazem carreira ou fracassam na clandestinidade porque não podem mais voltar?

Para esta exposição, eu havia pensado também no título “Entre sombra e luz”. O lado iluminado dos estádios e o lado sombrio das coisas menos belas. Mas esse título não dava certo porque, finalmente, o que nos interessa é o que há entre os dois. São as zonas cinzentas…e existem muitas.

swissinfo: Você falou do hipotético fim do futebol…

C.D.: Com a dimensão que o futebol atingiu, pode-se questionar se isso não vai virar a fábula do boi e da rã, se a rã não acabará explodindo de tanto inchar! Mas antes de o futebol oficial ter sido criado na Inglaterra, já se batia bola entre os chineses ou alhures! Desde o início da humanidade praticamente existem equipes que batem em alguma coisa que rola …

swissinfo, Bernard Léchot

Esposição “Fora de Jogo”, de 21 de maio 2008 a 26 de abril 2009, no Museu de Etnografia de Genebra (MEG), Anexo de Conches, Chemin Calandrini 7, Conches.

Participaram da organização da exposição vários especialistas do Centro Internacional de Estudos do Esporte de Neuchâtel.

Entre os parceiros dessa exposição está swissinfo. A atualidade do futebol é representada na exposição por telas com o especial “Euro 2008”.

Para essa exposição, o MEG publica o livro “Fora de Jogo – Futebol e Sociedade”, sob coordenação de Raffaele Poli.

O prefácio é do sociólogo Christian Bromberger e o livro contém uma entrevista com o psicólogo e ex-jogador suíço Lucio Bizzini.

136 páginas, 120 ilustrações em cores de Éric Lafargue e Johnathan Watts e desenhos de Pierre-Alain Bertola.

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