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LSD pode voltar como uso terapêutico

O LSD é o mais potente alucinógeno conhecido

A droga psicodélica de décadas atrás está prestes a voltar a ser usada na Suíça como medicamento.

As autoridades médicas suíças autorizaram um estudo de psicoterapia com uso de LSD em pacientes com câncer em fase terminal ou outras doenças incuráveis.

Pela primeira vez em trinta e cinco anos, o governo suíço autoriza um novo estudo clínico sobre efeitos terapêuticos do LSD em seres humanos.

O ácido lisérgico dietilamida, mais conhecido como LSD e famoso por suas características alucinógenas, já foi considerado no passado como um tratamento válido contra vários problemas psiquiátricos.

“Estou convencido que ele pode ter um grande valor em psicoterapia”, afirma Peter Gasser, terapeuta suíço que dirigirá o estudo agora autorizado.

“É preciso imaginar pessoas terrorizadas frente à morte … que têm um verdadeiro pânico de morrer, explica Gasser a swissinfo. Essas pessoas relembram toda a vida para encontrar um sentido espiritual. O LSD é conhecido por favorecer esse processo.”

Esse estudo de três meses deve começar em janeiro. Doze pacientes receberão uma dose ativa de 200 microgramas de LSD ou um placebo.

Sonho acordo intenso

“Os pacientes serão observados durante dois dias. É como um intenso sonho acordado enquanto eles podem ficar tranqüilamente deitados e ouvir música. O efeito do LSD dura em torno de oito horas”.

O estudo é patrocinado pela Associação Multidisplinar de Estudos Psicodélicos (MAPS) e custará 190 mil francos suíços.

“Tenho certeza que um dia o LSD se tornará um produto como a morfina e que os profissionais especialmente formados poderão administrá-la aos pacientes”, afirma Gasser.

A substância foi escolhida porque provoca estados mentais em que os sentidos, as percepções e humores são modificados de maneira intensa.

Mas certos críticos ponderam que ele também pode provocar “más viagens”, com ataques de pânico e de paranóia.

Geralmente seguro

O LSD é uma das drogas mais estudadas no mundo. Estudos precedentes revelaram que ela é geralmente segura em uso terapêutico. Antes de ser declarada ilegal, em 1966, muitos terapeutas a qualificaram de produto milagroso para a psicoterapia.

Como os terapeutas não podiam mais utilizá-la, ela acabou sendo esquecida.

Peter Gasser destaca que foi “muito difícil” obter o aval da comissão de ética do cantão de Argóvia (onde a experiência será realizada) e de Swissmedic, o Instituto de Produtos Terapêuticos da Secretaria Federal de Saúde Pública. A autorização foi dada dia 5 de dezembro.

Elisabeth Grimm-Bättig, presidentee da comissão de ética do cantão de Argóvia, declarou que o principal ponto de interrogação era a situação particular dos pacientes.

“Eles sabem que não dispõem de muito tempo de vida… Uma outra questão era a maneira como esses pacientes seriam informados … e também sobre os riscos de uma má experiência. Queremos que eles compreendam o que ocorre e não se sintam pressionados.”

Clima «mais libéral»

Apesas das dificuldades no processo de autorização, Peter Gasser reconhece que foi ajudado pelo clima “mais liberal” na Suíça e por uma comissão de ética “sem preconceitos”.

Durante os últimos 20 ou 30 anos, isso teria sido impossível, teria sido impossível obter a autorização para um estudo porque o ambiente era muito negativo porque a droga fora usada pelo movimento hippie e tecno com objetivo recreativo”, explica a swissinfo.

“No ano passado, escrevi uma carta ao ministro do Interior, Pascal Couchepin (do qual depende a Secretaria Federal de Saúde Pública). Ele me respondeu que, se todas as condições éticas e científicas forem preenchidas, uma autorização seria concedida.”

Albert Hofmann, o cientista suíço que, por acaso, descobriu o LSD em 1938, quando trabalhava para os laboratórios Sandoz, declarou é televisão suíça SFDRS que ficaria feliz de poder comemorar a reabilitação de seu “filho problemático”.

“Meu maior desejo se realiza. Eu não pensava ver ainda vivo o dia em que o LSD encontrará seu lugar na medicina”, acrescentou.

Albert Hofmann, que continua tendo uma excelente saúde, vai completar 102 anos em janeiro.

swissinfo, Simon Bradley

O ácido lisérgico dietilamida foi descoberto em 1938 pelo suíço Albert Hofmann, que trabalhava para a Sandoz (posteriormente associada à Ciba-Geygy, formando a Novartis).

Sandon produziu e vendeu os primeiros comprimidos em 1947 para tratar certas psicoses e desentoxicar pessoas alcóolicas.

Nos anos 60, o LSD tornou-se um produto de divertimento e de busca de misticismo, ligado ao movimento hippie, até a interdição em 1966.

Com efeitos que duram entre oito e dez horas, é o alucinógeno mais poderoso conhecido até hoje, que intensifica e deforma os sentidos, percepções e humores. Ele não provoca dependência física mas pode levar as pessoas a cometer abusos.

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