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Mais religião e menos Igreja nas escolas suíças

O crucifixo é um símbolo cada vez menos freqüente nas escolas suíças. Keystone

O que é Natal, Ramadã, Yon Kippour? Cada vez mais, as escolas respondem a essas questões através de um ensino não confessional.

Esse tendência existe inclusive nos cantões do leste do país, até pouco tempo atrás habituados a um ensino puramente religioso.

A Confederação Helvética garante a liberdade de crença e de culto. Ninguém é obrigado a seguir as lições de religião, muito menos se o ensino é dispensado por Igrejas.

As regras do federalismo suíço, no entanto, fazem com que cada um dos 26 cantões (estados) tenham suas prioriades em matéria de ensino. “A Suíça é um verdadeiro tabuleiro de xadrez quanto ao ensino religioso”, afirma Ralph Kunz, professor de teologia na Universidade de Zurique.

Em linhas gerais, a Confederação é dividida. Na região Leste, os cantões sempre colaboraram com as Igrejas católica e protestante e colocaram nos currículos escolares pelo menos uma hora semanal de religião. Na região oeste, predomina o princípio da “laicidade à maneira francesa”, com uma separação mais clara entre Igreja e Estado.

Um mundo que evolui

O horário semanal de religião nas escolas vem da època em que a quase totalidade dos alunos pertencia a uma ou outra Igreja do país. Doravante, a secularização e a imigração mudaram as coisas.

Com o objetivo de combater a ignorância e de favorecer o conhecimento recíproco, cada vez mais cantões tornam a aula de religião obrigatória, embora o ensino não seja mais confessional, doutrinário, mas uma troca de competências sobre as religiões em geral.

O cantão de Berna, por exemplo, fez essa opção há cerca de uma década. Tradicionalmente católica, a Suíça central também elaborou um programa escolar desse tipo para as escolas primárias. O cantão de Obwald, por exemplo, adotou um programa similiar em 2005.

“Como são aulas obrigatórias, o professor tem de ser neutro”, explica o professor Kunz. “Isso é válido para a religião mas também para as aulas de moral e cívica que se tornaram, na verdade, aulas de política.”

Tarefa de quem?

Os dados dos últimos recenseamentos revelam uma erosão constante quanto às religiões declaradas pela população na Suíça. Esse esforço didático, portanto, poderia surpreender.

“De fato – explica ainda Ralph Kunz – a idéia de uma instrução religiosa feita pela Igreja ou pelo Estado é apreciada. Estudos sociológicos demonstram que 80% dos suíços acham que essa instrução é importante, mesmo para os que não pertencem a uma comunidade religiosa ou até deixaram uma Igreja.”

Esse dado foi subestimado pelo governo do cantão de Zurique, que decidiu não mais subvencionar religiões. Rapidamente, os que se opuseram a essa decisão lançaram uma iniciativa popular e a questão será decidida em votação popular.

A maioria das pessoas admite que as religiões são um bem cultural a conhecer e a transmitir para as gerações futuras. No entanto, não há unanimidade sobre quem deve exercer esse papel nas escolas.

Interesses divergentes

Para Ralph Kunz, o importante é notar que os interesses divergentes é que provocam o debate. “Como cidadãos, queremos enfatizar um discurso cultural e promover a tolerância. Como crentes, estamos interessados na dimensão da fé e queremos que nossos filhos vivam uma experiência espiritual.”

Se o ensino laico corre o risco de esvaziar as aulas de religião e sua dimensão de experiência espiritual, por outro lado permite envolver minorias e atingir também as crianças de famílias atéias.

“Espero apenas que essa tendência ao ensino religioso não confessional conseguirá transmitir às crianças o respeito do outro e a alegria de descobrir as numerosas facetas da religião, conclui Ralph Kunz.

swissinfo, Doris Lucini

Nos últimos 20 anos, a porcentagem de pessoas adeptas das duas Igrejas tradicionais na Suíça (católicos e protestantes) caiu de 97 para 77%.
Os católicos romanos representam 42% da população, os protestantes 35,2%, os muçulmanos 4,3% e os ateus 11,1%.
De 1970 a 2000, o número de pessoas sem confissão decuplou.
de 1990 a 2000 o número de muçulmanos e de cristãos ortodoxos dobrou.

– A secularização crescente da sociedade e da diversidade religiosa deve-se à imigração que lançou o debate sobre a religião nas escolas.

– Considerado como um bem cultural, o ensino das religiões é geralmente atribuído à escola pública, onde é obrigatório mas não de maneira confessional.

– Em certos cantões, essa incumbência é atribuída às Igrejas locais. Em duas comunas do cantão de Lucerna, existe também o ensino do Islã. A participação dos alunos é facultativa.

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