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Setor financeiro suíço encolhe à medida que reguladores aumentam controle

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A pressão regulatória intensificou-se após a aquisição de emergência do Credit Suisse pelo UBS em 2023, que criou um gigante nacional com mais de US$ 3 trilhões em ativos sob gestão. Keystone / Michael Buholzer

A Suíça vê seu consagrado setor financeiro encolher, pressionado por uma regulamentação mais rígida e pela consolidação do setor, que levam pequenos gestores de patrimônio e bancos privados a fecharem as portas ou se fundirem com concorrentes.

Em outubro de 2025, 1.570 instituições financeiras possuíam licença para operar, segundo os registros públicos sobre gestores de carteira e consultores de patrimônio disponibilizados pelo regulador suíço – uma queda acentuada em relação às mais de 2.000 instituições registradas antes das novas regras entrarem plenamente em vigor, em 2022.

O número de bancos privados na Suíça também diminuiu: se há uma década o país contava com mais de 100, ele agora possui apenas 82, segundo dados da KPMG, que prevê que esse número pode ficar abaixo de 70 até 2030.

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“O setor não está se consolidando apenas porque as empresas são fracas – muitos acordos envolvem players fortes de ambos os lados”, afirmou Christian Hintermann, sócio da KPMG. “Mas a tendência geral é nítida: o número de bancos está diminuindo, as instituições estão ficando maiores, e o setor financeiro está se tornando mais enxuto, regulado e concentrado”.

Os ativos geridos na Suíça continuam a aumentar, embora em ritmo mais lento do que em jurisdições rivais emergentes, como Singapura e Hong Kong. Por outro lado, o número total de bancos, incluindo instituições locais, diminuiu: de 243 em 2020 para 230 no final do ano passado.

Especialistas afirmam que a nova regulamentação aumentou o custo e a complexidade das ações de complianceLink externo – que pode ser traduzida como “conformidade” –, particularmente para empresas menores. A Lei das Instituições Financeiras (Finia, na sigla em inglês), que entrou em pleno vigor em 2022, foi criada para alinhar a fragmentada indústria de gestão de patrimônio da Suíça aos padrões globais. A lei introduziu licenciamento para gestores de carteira e fiduciários, ampliando pela primeira vez a supervisão sobre empresas menores de gestão de patrimônio.

“Há muitos players gerindo menos de US$ 100 milhões, e não sei como podem sobreviver”, disse Sebastian Jeck, sócio da Novum Partners, uma gestora de patrimônio suíça com US$ 10 bilhões em ativos sob gestão. “Tenho certeza de que haverá mais consolidação”.

O fim do sigilo bancário e a implementação de regras internacionais de transparência fiscal também abalaram o modelo de negócios que fazia da Suíça um paraíso fiscal. Um grande exemplo foi a implementação da legislação americana conhecida como FATCA, a Lei de Conformidade Tributária de Contas Estrangeiras, que exige que instituições financeiras compartilhem informações bancárias de cidadãos ou residentes americanos com o governo dos EUA. “Não é mais um lugar para esconder dinheiro, então muitas [instituições]… não têm mais motivo para existir”, disse o gestor de um banco privado em Zurique.

A pressão regulatória se intensificou após o resgate emergencial do Credit Suisse pelo UBS em 2023, que criou um gigante doméstico suíço com mais de US$ 3 trilhões em ativos sob gestão.

“Após o colapso do Credit Suisse, houve uma mudança em toda a indústria, inclusive no [regulador]”, disse Jay Bidermann, sócio do banco privado Rahn+Bodmer, com sede em Zurique. “A regulação se tornou mais rígida, e agora é muito difícil sobreviver se sua empresa tem menos de US$ 10 bilhões em ativos sob gestão”.

Agora, as dificuldades estão alcançando até as maiores instituições. O governo suíço e a Finma, a agência reguladora do país, voltaram seu foco para bancos sistemicamente importantes. O UBS, em especial, cujos ativos equivalem a aproximadamente o dobro do PIB da Suíça, enfrenta novas regras que podem aumentar em até US$ 26 bilhões o capital exigido em um regime mais rigoroso para as instituições chamadas “too-big-to-fail” (TBTF, na sigla em inglês).

O termo “too-big-to-fail”, que pode ser traduzido livremente como “grande demais para quebrar”, é usado para designar bancos ou instituições cujo tamanho e importância no sistema financeiro tornam sua falência potencialmente catastrófica para a economia, exigindo, portanto, intervenção estatal em caso de colapso. Esse foi o caso do Credit Suisse, cuja aquisição pelo UBS foi mediada pelo governo suíço.

As reformas também ampliam os poderes da Finma, que passam a incluir instrumentos de intervenção precoce mais robustos e uma maior capacidade de responsabilizar o alto escalão da administração das instituições.

A nova regulamentação suíça contrasta fortemente com o que ocorre atualmente em outras partes do mundo. Enquanto o governo Trump busca afrouxar as regras do setor financeiro nos EUA, e a União Europeia e o Reino Unido flexibilizam ou adiam a implementação do pacote de reformas de Basileia IIILink externo para preservar a competitividade, a Suíça caminha na direção oposta.

Essa divergência gerou preocupações entre banqueiros e legisladores de que a regulamentação excessiva possa tornar os bancos suíços menos lucrativos e competitivos, além de sobrecarregar players menores, que já enfrentam custos cada vez maiores de conformidade.

“Precisamos garantir que o pacote de reformas TBTF não prejudique a competitividade e a capacidade dos bancos suíços de fazer negócios, principalmente os menores”, afirmou Benjamin Mühlemann, copresidente do Partido Radical-Liberal, principal partido pró-mercado do país.

Em resposta aos receios sobre as reformas TBTF, a agência reguladora Finma disse que, embora outros países possam estar afrouxando as regras, a abordagem suíça “reflete lições de eventos passados”.

“Para instituições com estruturas mais simples, como bancos menores, espera-se que o ônus administrativo seja mínimo. O objetivo não é sobrecarregar essas instituições, mas garantir que todos os participantes do mercado operem com governança e gerenciamento de risco adequados”, disse o regulador.

Em relação à legislação Finia e seu impacto sobre consultores e gestores de patrimônio de menor porte, o regulador afirmou que mais de 200 pedidos de licença foram apresentados desde o fim de 2022 por empresas que estão ingressando no mercado, mesmo que outras tenham encerrado suas atividades, se fundido com concorrentes ou se retirado do setor.

“A Finma está ciente de que as novas exigências representam um desafio, especialmente para as instituições menores. Por esse motivo, o órgão recomendou desde cedo que as instituições iniciassem o processo de licenciamento com antecedência”, afirmou a agência reguladora.

Ainda assim, o peso das exigências de conformidade tem desestimulado novos participantes e pressionado os que já atuam no mercado, que temem as consequências das novas regras para o setor.

“A regulamentação é um diferencial, especialmente para clientes internacionais”, disse Jamie Vrijhof-Droese, sócio-gerente da WHVP, empresa de gestão de fortunas voltada para clientes americanos. “Mas precisa estar em equilíbrio com a realidade dos negócios”.

Reportagem adicional de Martin Arnold, em Londres, e Josh Franklin, em Nova York

Esta matéria foi corrigida para esclarecer que os ativos do UBS equivalem a aproximadamente o dobro do PIB da Suíça.

Adaptação: Clarice Dominguez

Copyright The Financial Times Limited 2025

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