Exército suíço participa de maior simulação militar já feita no exterior

Com tropas e tanques, Suíça realiza maior exercício militar no exterior em meio a tensões na Europa
Pela primeira vez, o Exército levou 78 veículos blindados para uma simulação de guerra em larga escala na Áustria, ao lado de tropas alemãs e austríacas.
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A área de treinamento no estado da Baixa Áustria, no nordeste austríaco, tem 157 quilômetros quadrados – uma superfície aproximadamente seis vezes maior que os centros de treinamento de combate existentes dentro da Suíça.
É possível treinar com tanques e veículos off-road não apenas em rotas predeterminadas, mas onde prevalecem condições realistas similares às de uma guerra.
Para o treinamento, as Forças Armadas suíças enviaram 78 veículos do vilarejo de Thun para a Áustria. Foram necessários 11 trens de carga, com um comprimento total de 4,3 quilômetros – uma tarefa logística de grande porte.

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Treinamento de defesa
O Batalhão Mecanizado 14 e a Brigada Mecanizada 11 das Forças Armadas suíças já se encontram no local. Mais precisamente: trata-se de soldados que frequentam ali seu curso anual de atualização – o que os suíços chamam de curso de repetição (WK, na sigla em alemão).
Na Suíça, a participação nesses treinamentos é voluntária, pois não existem as chamadas “comandos para marchar” para serviços no exterior. Para as Forças Armadas, isso não deixa de ser problemático. Como noticiado pela mídia no último ano, é difícil reunir um número suficienteLink externo de soldados.
TRIAS25: o treinamento recebe um nome que reflete as unidades, divididas em defensoras e atacantes, dos três países participantes: Áustria, Alemanha e Suíça.
O major austríaco Sebastian Schubert coomenta: “O treinamento ajudará as Forças Armadas austríacas, que serão orientadas para a defesa nacional militar de acordo com o plano de desenvolvimento 2032+”.
A Áustria decidiu adotar um plano de reforço após o ataque da Rússia à Ucrânia em 2022. A Suíça também quer fortalecer suas Forças Armadas para caso de defesa em uma guerra.
Oficialmente, a Otan não desempenha nenhum papel
Nos treinamentos em larga escala, os militares presumem que o inimigo esteja usando ameaças híbridas, como campanhas de desinformação e ataques cibernéticos, com o propósito de atacar a infraestrutura essencial.
Mesmo que a Rússia não seja mencionada diretamente, fica claro que as referências dizem respeito a ela. É evidente, portanto, que ela observe com desconfiança esses treinamentos. O fato de a Áustria ser neutra não ajuda em nada. Nem de a Suíça, também neutra, contribuir com o maior contigente. E a Alemanha, membro da Otan, desempenhar um papel apenas secundário. Os oficiais não querem, porém, falar sobre tais implicações políticas.

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A ministra austríaca da Defesa, Klaudia Tanner, prefere se concentrar em ações pragmáticas. “Um fundamento das Forças Armadas de todo o mundo é ‘treinar enquanto luta’. Os treinamentos, mesmo nessa escala, são o pilar da manutenção das competências militares”, afirma Tanner.
Isso não tem nada a ver com uma aproximação da Otan. Se um Estado neutro faz treinamentos em outro Estado neutro e junto das Forças Armadas desse outro país, isso só pode trazer vantagens para todos os envolvidos, segundo a ministra austríaca.
Desgaste da neutralidade?
O general Christoph Roduner, coordenador de treinamentos das Forças Armadas suíças, afirma: “Não seguimos os processos decisórios da Otan. Seguimos nossos próprios regulamentos e nossas organizações parceiras aceitam isso. No entanto, é interessante poder nos comparar in loco com os padrões de desempenho da OTAN de outros países, quando podemos constatar se cumprimos esses padrões com facilidade”.

Os “outros in loco” são os dois pelotões das Forças Armadas alemãs que operam de acordo com tais padrões, visto que a Alemanha é um Estado-membro da Otan.
Na Suíça, o Partido do Povo Suíço (SVP) expressou preocupação de que esses treinamentos em grande escala, envolvendo três países, fossem, apesar de todas as garantias em contrário, o primeiro passo rumo a uma futura participação em treinamentos da Otan – o que seria de difícil conciliação com a neutralidade do país.

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Qual é o futuro da neutralidade suíça?
Benedikt Roos, comandante das forças terrestres suíças, faz questão de enfatizar que o TRIAS 25 é apenas um treinamento com estrangeiros, do qual ele espera obter informações valiosas para a defesa da Suíça. E Roduner diz: “Queremos depreender lições disso. Estamos aplicando nossas forças corretamente?” Na Áustria, segundo ele, essa é uma oportunidade única de teste.
Treinamentos ainda mais amplo
A manobra de quatro semanas, que continua até dia 9 de maio, é a primeira nesse formato. Nos próximos anos, mais precisamente em 2027 e 2029, as instalações de treinamento serão ampliadas no contexto da força do batalhão e, por fim, o treinamento será realizado em grande escala.
Diante de uma situação instável em termos de segurança, parece que hoje se tornam possíveis algumas coisas que seriam impensáveis há apenas alguns anos. “Sobretudo na condição de Estados neutros, devemos estar sempre preparados, porque não podemos confiar em nenhuma aliança, caso o pior aconteça”, observa a ministra Tanner.
“Por isso, vejo nesse contexto menos uma aproximação e mais uma preparação comum e uma prática conjunta para manter nossas habilidades militares em prol da defesa nacional”, completa a ministra.

Nesse sentido, é bom que as Forças Armadas austríacas tenham, nos últimos anos, reformado completamente as acomodações para tropas na área de treinamento militar de Allentsteig – a um custo de 14 milhões de euros.
Também para a Suíça a manobra em Allentsteig é um investimento financeiro no futuro: neste ano, o TRIAS 25 já custou 4 milhões de francos suíços a mais do que teria custado um curso regular de atualização dentro do país.

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Os sete grandes problemas do Exército suíço
Edição: Marc Leutenegger
Adaptação: Soraia Vilela

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