Navigation

Como o fracasso da iniciativa contra a imigração afeta a relação da Suíça com a Europa

As leis trabalhistas são um ponto polêmico no acordo-quadro que está sendo negociado entre a Suíça e a União Europeia. Keystone/Ennio Leanza

Por que a última iniciativa para limitar a imigração da UE falhou? O que isso significa para as relações futuras entre o país alpino e o bloco europeu? As reações de políticos suíços e da UE, bem como do analista político Claude Longchamp, fornecem algumas respostas.

Este conteúdo foi publicado em 30. setembro 2020 minutos

Após as votações de cinco questões no domingo, 27 de setembro, incluindo a imigração da UE, a ministra da Justiça, Karin Keller-Sutter, disse à mídia que o resultado mostrou que os eleitores endossam a política do governo de acordos bilaterais com o bloco europeu - principal parceiro comercial da Suíça.

"Também é uma boa notícia para nossos parceiros europeus, já que os cidadãos suíços votaram por relações estáveis ​​com a UE", disse ela, acrescentando que os tratados bilaterais são a melhor solução possível para política externa.

Keller-Sutter ainda afirmou que o governo decidirá nas próximas semanas sobre uma proposta de acordo jurídico para regular os mais de 120 tratados bilaterais existentes entre a Suíça e o bloco europeu.

IOs funcionários da UE também saudaram o resultado da votação. "É um belo domingo para a democracia e para a Europa", disse Paolo Gentiloni, o Comissário Europeu para a Economia. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, tuitou uma declaração apontando o resultado da votação na Suíça um “sinal positivo” para as relações futuras entre a Suíça e a UE.

Conteúdo externo

A iniciativa de alteração nas regras de migração entre Suíça e UE havia sido apresentada pelo partido de direita anti-UE, o Partido Popular Suíço, que atualmente detém a maioria dos assentos no parlamento. O presidente do partido, Marco Chiesa, culpou a crise da Covid-19 pela derrota nas urnas. Ele disse que o vírus e suas consequências obscureceram a campanha. “Mas vamos continuar a lutar pelo país e retomar o controle da imigração”, declarou.

Então, o que a perda significa para o partido, seis anos depois de ter garantido a vitória por pouco com uma iniciativa anti-imigração semelhante? E quais são os efeitos do resultado das urnas nas futuras relações com a UE? Levamos essas questões ao analista político Claude Longchamp.

Longchamp diz que o Partido Popular deve agora procurar mais alianças com os partidos de centro-direita. swissinfo.ch

swissinfo.ch: Em 2014, a iniciativa do Partido Popular Suíço "contra a imigração em massa" foi aceita por pouco. Agora, uma iniciativa parecida claramente falhou. O que está diferente hoje?

Claude Longchamp: Na iniciativa de 2014 contra a imigração em massa, mesmo o governo e o parlamento não foram muito claros sobre o que isso significava. A iniciativa deste ano, por outro lado, foi mais radical e deixou claro para todos que um “sim” teria consequências: a aceitação teria desencadeado a retirada do primeiro acordo bilateral com a UE que rege a livre circulação de pessoas e o mercado interno com a UE.

Em 2014, o Partido do Povo Suíço estava em sua melhor forma. E, na época,  [seu líder] Christoph Blocher era um mestre indiscutível da comunicação política no país. Nenhum desses fatores se repete hoje, embora o Partido do Povo ainda seja o partido mais forte da Suíça.

Também naquela época, o número de pessoas vindas de outros países para a Suíça era muito maior. Hoje, no entanto, a imigração não está mais no topo do barômetro de preocupação [um estudo anual que examina o que preocupa as pessoas na Suíça]. As pessoas estão mais preocupadas em ter dinheiro suficiente para se aposentar ou com altos custos de saúde e prêmios de seguro saúde.

A iniciativa anti-imigração de 2020 foi considerada um termômetro importante em relação a um acordo de regulação institucional com a UE há muito tempo pendente. O caminho agora está livre para o acordo avançar?

CL: Se tivéssemos concordado com a iniciativa, o acordo provavelmente estaria fora de questão.

Mas o "não" de hoje não indica um "sim" automático ao acordo regulatório. O Conselho Federal (governo) não é a favor e também há muito ceticismo no parlamento. Os sindicatos também não apoiam, como deixaram claro há dois dias [em carta ao Conselho Federal].

Uma saída seria um acordo mais simples com alguns adendos sobre apenas os três pontos de conflito mais importantes [medidas de proteção do mercado de trabalho, regras de cidadania para os imigrantes da UE e auxílios estatais]. Isso talvez tornasse possível um acordo. Se, por outro lado, prevalecer o ceticismo, a Suíça se defrontará com um debate de princípios, especialmente sobre jurisdição e proteção salarial no país.


Adaptação: Clarissa Levy

Em conformidade com os padrões da JTI

Em conformidade com os padrões da JTI

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Participe da discussão

Partilhar este artigo

Modificar sua senha

Você quer realmente deletar seu perfil?