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Repressão leva jovens aos traficantes

Meio milhão de suíços fumam maconha. Keystone Archive

Especialistas acreditam que o fechamento sucessivo “coffeshops” na Suíça, onde é vendida maconha, possa incentivar o contato dos jovens fumantes com traficantes de rua.

Estes não vendem apenas a cannabis em locais públicos, mas também drogas pesadas como cocaína e heroína.

Depois que a maioria dos parlamentares decidiu não tratar da revisão da lei de entorpecentes, a polícia de vários cantões na Suíça continua a fechar um “coffeshop” atrás do outro e a reprimir a produção ilegal de maconha. Várias plantações foram destruídas e os produtos derivados confiscados.

Um exemplo é o cantão de língua italiana Tessin: apenas duas, das 75 lojas especializadas na venda de produtos da maconha, continuam abertas. A comercialização desses produtos era algo tolerado pela lei, mas nunca chegou a ser legalizada.

Drogas leves e pesadas

“Nosso trabalho está sendo afetado por essa repressão, pois antes sabíamos exatamente o que os consumidores de cannabis compravam nesses estabelecimentos”, explica Sandra Méier. Essa suíça, porta-voz do Departamento Federal de Saúde Pública, também acredita em riscos: – “traficantes de rua possam incentivar os jovens a experimentar outros tipos de drogas mais pesadas”.

Trata-se de uma lei de mercado. Diferentes pesquisas mostram que um traficante vende um grama de cocaína por 70 francos suíços, enquanto cobra 15 francos suíços por um grama de maconha. A comercialização de drogas mais pesadas, onde o risco de vício é maior, permite lucros proporcionalmente mais elevados.

“Por isso acreditamos que existe o risco de que os jovens sejam incitados a experimentar outros tipos de drogas”.

Um grande perigo

Para outros especialistas como Thilo Beck, do Instituto de Psiquiatria da Universidade de Zurique, “não existe nenhuma prova de que o consumo de cannabis leve ao uso de drogas mais pesadas”. Porém ele acredita que muitos jovens fariam a experiência, caso lhe sejam oferecidos esses tipos de entorpecentes.

“A decisão do Parlamento federal, de não descriminalizar a maconha, pode criar uma confusão em relação ao entendimento dos riscos do consumo de drogas”, afirma Beck. “É típico que adolescentes queiram experimentar coisas novas”.

“Minha grande crítica é que os políticos colocam a maconha no mesmo patamar das drogas pesadas. Essas sim provocam realmente dependência graves”. O psiquiatra acredita que essa posição não ajudaria a criar uma comparação realista, o que aumenta a dificuldade para os jovens de diferenciar essas duas realidades.

Consumo elevado de maconha na Suíça

Segundo o Instituto Suíço de Prevenção do Alcoolismo e outras Toxicomanias, mais de 500 mil pessoas – sobretudos jovens de menos de trinta anos – consomem regularmente ou ocasionalmente maconha. Por essa razão, o Departamento Federal de Saúde Pública defendia no Parlamento a descriminalização do consumo.

“As leis devem refletir a realidade da sociedade. A revisão da lei de entorpecentes teria permitido um certo controlo do Estado sobre a venda da cannabis”, lembra Thomas Zeltner, diretor do órgão público.

Os cantões suíços devem continuar a aplicar as leis ainda vigentes, o que provoca uma grande frustração para os policiais e também diversas associações de docentes. “A situação não é satisfatória. Apesar do pouco sucesso, a polícia deverá continuar seu trabalho de penalizar os consumidores de maconha”, conclui Sandra Méier.

swissinfo, Elisabeth Meen
traduzido por Alexander Thoele

500 mil pessoas consomem regularmente ou esporadicamente maconha na Suíça.
Estimativas mostram que um jovem em quatro com menos de 25 anos fuma vários joints por semana.
Em 14 de junho a Câmara dos Deputados suíça decidiu não debater sobre a revisão do projeto de uma nova lei de entorpecentes.

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