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FSM completa dez anos “em crise de identidade”

Lula: aplaudido no FSM em Porto Alegre, cancelou sua ida ao WEF em Davos devido a uma crise de hipertensão. Keystone

Enquanto os líderes mundiais discutem o pós-crise no Fórum Econômico Mundial (WEF), os participantes do Fórum Mundial Social (FSM) veem confirmadas suas críticas ao capitalismo.

Lula disse em Porto Alegre que falaria “texto claro em Davos”, mas, por problemas de saúde, teve de cancelar sua viagem à Suíça, onde receberia o prêmio de “estadista global”.

O Fórum Econômico Mundial em Davos não tem mais a mesma importância, “o mesmo glamour como em 2003, quando participei pela primeira vez”, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aplaudido por cerca de 10 mil ouvintes como uma estrela do rock, na capital gaúcha.

O Fórum Social Mundial, que nasceu em 2001 em contraposição ao WEF, comemora sua décima edição, com uma programação descentralizada, com dezenas de eventos regionais, nacionais e locais espalhadas pelo mundo.

Só o “Fórum Social 10 Anos: Grande Porto Alegre”, de 25 a 29 de janeiro, prevê mais de 500 atividades descentralizadas nas cidades de Porto Alegre, Gravataí, Canoas, São Leopoldo, Novo Hamburgo e Sapiranga.

Tanto no WEF quanto no FSM se discute as consequências da recente crise mundial. A situação política e econômica dos EUA é um sinal claro de que o mundo precisa de um outro sistema, disse Francisco Whitaker, um dos fundadores do FSM.

“Talvez não mudemos o mundo completa e imediatamente, mas a mudança agora pode vir de baixo e se propagar”, acrescentou. Whitaker defende o Fórum como plataforma para diferentes organizações, grupos e movimentos.

Propostas concretas

João Pedro Stédile, líder do Movimento dos Sem Terra, vai numa outra direção. “Precisamos não só de um programa antineoliberal e sim anti-imperialista”, disse, num tom que lembra o presidente venezuelano Hugo Chávez.

“Se dependesse dessa linha, Hugo Chávez abriria o Fórum dizendo: o governo dará um jeito”, disse Whitaker ao jornal alemão Taz.de. “O contramodelo ao neoliberalismo não existe. E de forma alguma ele pode ser decretado; ele precisa crescer de baixo para cima, senão terá pés de barro.”

Em vez de terminar em um “emaranhado de papéis”, o FSM deveria apresentar propostas concretas, pediu Lula. Um argumento semelhante é usado pelo sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, um dos idealizadores do Fórum.

Segundo ele, “para ser sustentável, o Fórum precisa, em primeiro lugar, estar presente em outras partes do mundo. E, em segundo lugar, precisa produzir “ideias e propostas críticas e sólidas” sobre os problemas urgentes da atualidade.

Pouca repercussão na mídia

O FSM 2010 tem pouca presença na mídia europeia. Até agora, só a marcha de abertura e o discurso de Lula foram destaques. “Demonstrações com samba e toque de tambor”, foi, por exemplo, uma manchete da revista alemã Stern.de. O jornal de Les Temps, da suíça francesa, lembrou o slogan que acompanh o FSM desde o início: “Um outro mundo é possível.”

“A mudança acontece de forma lenta, não espetacular; o processo do Fórum em si é invisível”, disse Withaker. Por isso, segundo ele, o FSM não está muito presente na mídia, mesmo quando tem 133 mil participantes, como no ano passado em Belém.

Também o FSM está mudando, segundo a percepção de alguns meios de comunicação. “O Fórum Social Mundial busca um novo rumo”, é a manchete do El País, da Espanha, que vê o FSM “em um clima de crise de identidade”.

“Este fórum nasceu em clara luta contra o neoliberalismo capitalista, mas agora se confronta com mais problemas, a ponto de este ano ter duas edições: a de Porto Alegre, nas mãos dos movimentos sociais de esquerda que são de alguma forma antipartidários, e a de Salvador, durante o fim de semana, com participação dos partidos, começando com todo o Partido dos Trabalhadores (PT), hoje no governo brasileiro”, escreve o diário espanhol.

Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch (com agências)

A assessoria de imprensa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou hoje que o líder não viajará à Suíça, onde participaria do Fórum Econômico Mundial, após sofrer uma crise de hipertensão.

“Está confirmado que o presidente não virá à Suíça, os médicos assim recomendaram”, disse à agência de notícias EFE o assessor de imprensa da Presidência brasileira na Suíça, João Marcos Paes Leme.

Lula receberia o primeiro prêmio Estadista Global, com o qual os organizadores do Fórum queriam homenageá-lo por seus oito anos de mandato, que terminam em 2010.

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