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O futuro incerto da última fábrica de tecelagem artesanal suíça

Mulher em uma máquina de tear
A Tessitura Valposchiavo está em atividade desde 1955 e emprega principalmente mulheres. cortesia

Em um momento de renascimento do setor têxtil europeu, a Tessitura ValposchiavoLink externo, uma das últimas empresas de fiação e tecelagem ativas na Suíça, pode fechar suas portas.

“Continuar assim não é mais viável. Não desejamos prolongar desnecessariamente a agonia da empresa”, afirmam Adriana Zanoli e Kaspar Howald, dois membros da direção da cooperativa.

Eles assumiram o cargo em 2021 com o objetivo de revitalizar a Tessitura Valposchiavo. Em janeiro de 2024, decidiram encerrar as atividades, uma decisão cuidadosamente ponderada, mas que impactou profundamente toda a comunidade de um vale alpino. “Nosso problema é de natureza estrutural”, prossegue Howald. “A empresa é pequena demais para comportar uma gestão profissional que cuide simultaneamente do marketing e das vendas. Sem isso, ela não pode expandir e continuará deficitária.”

Há anos, de fato, a tecelagem vem operando no vermelho, e as reservas financeiras, destinadas a cobrir as perdas, estão praticamente esgotadas. Para evitar a falência, o comitê sugeriu à assembleia de acionistas a continuidade do encerramento planejado da empresa. São necessárias novas ideias para relançar a Tessitura Valposchiavo. Mas, quais?

Reportagem da Televisão da Suíça Italiana (RSI) sobre a Tessitura Valposchiavo:

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Tradição de longa data

Fundada em 1955 pela associação Pro Grigioni Italiano (PGI), a cooperativa “Tessitura di Val Poschiavo” visava combater o êxodo rural, oferecendo uma alternativa de emprego às mulheres que eram forçadas a deixar o vale em busca de trabalho em outras regiões da Suíça. Simultaneamente, o PGI almejava preservar a tradição da tecelagem artesanal, que estava se perdendo gradualmente. Por isso, além do ateliê e da loja, inaugurou uma escola profissionalizante que, desde sua criação, proporcionou a cerca de vinte aprendizes a oportunidade de obter o diploma federal de designer.

EntrevistadaLink externo pelo Almanaque dos Grisões Italianos, Letizia Pedrussio-Gisep, diretora da escola por mais de quarenta anos, revelou que, além dos objetivos explicitados, a tecelagem também buscava manter as jovens no vale para que se casassem com os agricultores locais, formassem famílias e se tornassem “o anjo do lar”, uma expressão que remete às mulheres que teciam roupas durante o inverno.

Apesar dos esforços, o despovoamento em direção a outros centros econômicos do país prosseguiu. Contudo, a arte da tecelagem foi salvaguardada. Junto com o fabricante TessandaLink externo em Val Monastero, a Tessitura Valposchiavo representa uma das últimas empresas de fiação e tecelagem ainda em funcionamento. Há setenta anos, promove o patrimônio cultural do passado e produz itens de nicho utilizando materiais naturais como seda, lã, algodão, caxemira, linho e cânhamo.

SegundoLink externo o Dicionário Histórico da Suíça, o cultivo do linho tem uma tradição milenar na Suíça. Essa planta era cultivada já no período neolítico, sendo posteriormente processada para ser fiada e tecida em tecido de linho.

Com o declínio do processamento de fibras e a ascensão do algodão, a relevância do cultivo do linho diminuiu a partir da década de 1950. Recentemente, uma iniciativa em Val MonasteroLink externo tem buscado revitalizar esse cultivo. Desde 2021, dois agricultores começaram a plantar linho. Em outubro de 2023, as primeiras fibras foram produzidas e, em seguida, transformadas em fios.

Após superar várias crises e manter um equilíbrio entre atender às necessidades dos clientes e a viabilidade da produção em pequena escala, a Tessitura Valposchiavo agora enfrenta o risco de encerramento definitivo. Isso ocorre em um momento de renascimento da indústria têxtil nas regiões alpinas. “Seria uma perda cultural profunda,” afirma Cordula Seger, diretora do Instituto de Pesquisa da Cultura dos Grisões, ressaltando que, em 2023, a tecelagem manual foi reconhecida como parte das tradições vivas do cantãoLink externo. “Se não preservarmos essas tradições, perderemos a conexão com nossa história e identidade, rompendo um valioso vínculo com nosso passado transmitido de geração em geração.”

Diego Rinallo, professor de marketing na Emlyon Business School, destaca outro aspecto crucial: “Esse conhecimento tradicional também é composto por gestos e saberes tácitos, quase impossíveis de serem documentados e registrados em papel. Estamos correndo o risco de perder permanentemente esse conhecimento especializado.”

Pensar globalmente, agir localmente

A algumas dezenas de quilômetros de distância, a Tessanda di Santa MariaLink externo em Val Monastero, a mais antiga tecelagem da Suíça, fundada em 1928, enfrentou diversos desafios. Desde 2019, sob a nova direção de um especialista em marketing de Zurique, ela conseguiu implementar com sucesso uma mudança estratégica. Atualmente, a Tessanda emprega 18 funcionários. Prestes a celebrar seu centenário, planeja inaugurar uma nova sede, desenhada pelo renomado arquiteto suíço Peter Zumthor.

Em janeiro, um marco importante foi alcançado quando o avental ‘Marius’ conquistou a medalha de ouro no Concurso Europeu de Produtos Têxteis e Artesanato de 2024Link externo. Essa conquista não surpreendeu Rinallo. “Desde o ano 2000, percebemos um crescente interesse e apreciação por produtos regionais no setor têxtil”, comenta, ressaltando que está ocorrendo uma mudança de paradigma em relação à moda rápida e à cultura descartável em certos segmentos da sociedade. “Há uma forte demanda por produtos regionais”, concorda Seger. “Parte da população, sentindo-se desorientada pela globalização, busca reencontrar-se também por meio do patrimônio cultural.”

O especialista em marketing destaca que, hoje em dia, quem adquire uma camiseta por cinco francos está ciente de sua contribuição para uma cadeia de exploração humana e degradação ambiental. Para comercializar produtos artesanais, que não são acessíveis a todos, é essencial focar em grupos específicos de consumidores, especialmente nos grandes centros urbanos.

“A diferença de preço deve ser justificada pela história do processo criativo”, explica Rinallo. Por exemplo, o avental Tessanda é enriquecido por narrativas autênticas, que ressoam com paixão, tradição e sabedoria ancestral. Adicionalmente, a imagem dos Alpes inspira uma visão muito positiva e reconfortante, associada ao contato com a natureza e ao bem-estar, evocando imagens de ovelhas pastando em paisagens idílicas.

Relocalização do setor têxtil

Essa prática pastoral deu origem ao projeto AlpTextylesLink externo, destinado a valorizar o patrimônio cultural têxtil alpino e revitalizar a indústria lanífera.

Lançado em novembro de 2022 como parte do programa Interreg Alpine Space, o projeto beneficia-se de financiamento europeu, federal e cantonal, envolvendo 12 organizações parceiras. Entre elas estão associações comerciais, representantes da indústria têxtil, órgãos públicos, centros de pesquisa, universidades, museus e comunidades da Suíça, Itália, Áustria, Alemanha, França e Eslovênia.

“Cassiano Luminati, diretor do Polo Poschiavo, um centro de competência para o acompanhamento de projetos de desenvolvimento, explica que o patrimônio cultural alpino desempenha um papel fundamental na relocalização das cadeias de valor têxtil, que foram interrompidas pela globalização. Atualmente, a lã é considerada um resíduo especial. O objetivo do AlpTextyles é revitalizar a indústria da lã, apoiando as estruturas ainda existentes, conectando-as em rede, promovendo o desenvolvimento regional, a circularidade, a sustentabilidade, a inovação e a preservação do patrimônio intangível”.

E neste projeto depositam-se as esperanças de sobrevivência da Tessitura Valposchiavo. “Muitas vezes sonho em ver nossos teares envolvidos na produção de tecidos para as grandes casas de moda europeias, numa perfeita combinação de tradição e inovação”, confessa Adriana Zanoli.

No entanto, para a Tessitura Valposchiavo, não há mais tempo para depender apenas de sonhos. São necessárias soluções concretas que possam ser implementadas a curto prazo. Caso contrário, a harmoniosa dança entre o tecelão e o tear, caracterizada por passos rítmicos com os pés descalços no pedal, golpes vigorosos com o pente e o rápido movimento da lançadeira entre os fios de urdidura e trama, corre o risco de ser interrompida, talvez para sempre.

Adaptação: Alexander Thoele

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