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Bunker vira casa de refugiados

O bunker foi construído para abrigar até 100 pessoas. swissinfo

Um centro de recepção para estrangeiros em busca de asilo político acaba de ser aberto num antigo bunker militar.

Governo suíço justifica medida como forma de economia. O protesto é grande: não só de estrangeiros, mas sobretudo da população local.

Esse é um dos intermináveis temas da política interna suíça: como lidar com as enormes massas de estrangeiros, que batem na porta de um dos mais ricos países europeus, à procura de abrigo?

As leis se tornaram mais rigorosas nos últimos anos, sobretudo para impedir a chegada de mais refugiados “econômicos”. Uma das medidas foi tomada no início de abril: desde então, o governo suíço cortou a ajuda financeira em dinheiro vivo para os estrangeiros que acabam de chegar e solicitam asilo político.

A chamada “ajuda de urgência” – que se compõe apenas de cama e comida – passou a ser responsabilidade dos cantões. Ela é dada a estrangeiros em processo de espera até sua partida definitiva do território suíço.

O cantão de Berna, que vive atualmente um grande déficit de caixa, teve uma idéia brilhante para economizar recursos: abrigar esses refugiados nas profundezas de um vale montanhoso. O prédio que irá abrigá-los é um antigo fortificação subterrânea em concreto armado. Esse abrigo, ou “bunker” como é conhecido na Suíça, não dispõe de janelas e pode acolher até 100 pessoas, incluindo famílias. Os primeiros refugiados acabam de chegar na última quarta-feira (09.06).

Escolha deliberada

O bunker localiza-se próximo ao desfiladeiro de Jaun. Nessa região vivem apenas vinte habitantes e conta ainda com três teleféricos, dois restaurantes e um camping.

Para Dora Andres, diretora da polícia do cantão de Berna, a escolha foi deliberada. “Nós sabemos que os solicitantes de asilo preferem viver nos centros urbanos, onde estão muitas pessoas. Porém os que são levados para o bunker, são aqueles que devem abandonar o país”.

“Se nós os colocamos num lugar tão distante das cidades, eles se sentirão menos confortáveis e compreenderão que a Suíça não quer mais sua presença”, acrescenta Andres. “Dessa forma, eles aceitarão mais facilmente a recusa oficial do seu pedido de asilo e sairão do país”.

Os refugiados que, para evitar sua expulsão e por não terem justificativas plausíveis, escondem seus nomes e passaportes, também são enviados ao bunker em Jaun. Dessa forma a polícia espera forçar um pouco mais o espírito de cooperação.

Para abrigar os refugiados no bunker, o governo cantonal irá gastar diariamente 93 francos (73 dólares) por cabeça. Até o momento, essas pessoas viviam em prisões, onde os custos são maiores (100 francos diários por cabeça).

Mau exemplo

Grupos suíços de apoio ao refugiado foram os primeiros a criticar a medida de economia. “Esse alojamento subterrâneo servem apenas para aterrorizar os solicitantes de asilo, do que ajudá-los a retornar aos seus países”, afirma Jürg Schertenleib, do grupo OSAR. “Acredito que essas pessoas irão preferir viver ilegalmente na Suíça, do que passar uns dias no bunker de Jaun”.

Segundo o ativista, mais de mil refugiados recusados serão atingidos pelos cortes de ajuda social do governo federal suíço. Na sua opinião, a medida só irá piorar a situação.

“O resultado é que agora cada um dos cantões desse país irá se esforçar para ser menos atrativos aos refugiados do que os outros, como forma de não pagar a ajuda de urgência”.

Para a organizão OSAR, a melhor solução seria dar uma ajuda de custo aos refugiados recusados, para que eles possam retornar aos seus países.

População não quer saber de refugiados

Outros críticos ferozes da solução criativa do cantão de Berna são os habitantes de Jaun e de Boltingen, a comuna vizinha ao desfiladeiro. Eles acreditam que os refugiados irão colocar suas vidas de perna para o ar, nessa região paradisíaca e rural. Muitos já têm até medo de um aumento da criminalidade ou de prejuízos consideráveis para o turismo local.

De qualquer maneira, o projeto-piloto já foi iniciado. Nos próximos meses as autoridades cantonais irão avaliar, se a solução “fortificada” poderá servir como uma solução na complicada questão das ondas migratórias internacionais.

swissinfo, Isobel Leybold
tradução de Alexander Thoele

– Número de refugiados com status reconhecido na Suíça em 2003: 24.729

– Solicitantes de asilo político aceitos temporariamente: 24.467

– Solicitantes de asilo à espera de uma decisão oficial: 41.272

– Entre os cantões suíços, o de Berna é aquele que mais recebeu refugiados depois do cantão de Zurique.

– Até o final de abril, 8.300 solicitantes de asilo se encontravam no cantão de Berna. Dentre eles, 2.900 eram apenas aceitos provisoriamente e 2.400 precisavam abandonar a Suíça, depois que seus pedidos foram recusados pelas autoridades.

– Cerca de 60% dos estrangeiros solicitantes de asilo político acabaram permanecendo no cantão de Berna de forma ilegal.

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