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Sanatórios fecham suas portas

O sanatório "Thurgauer Schaffhauser Klinik" em Davos será fechado brevemente. (hoehenklinik-davos.ch)

Crise nos sanatórios alpinos de Davos: o ar puro das montanhas para curar doenças do pulmão e o glamour do passado já não impedem as falências generalizadas.

Três deles fecharam suas portas recentemente. Alto nível de preços na Suíça e novas tendências na saúde são responsáveis pelo fenômeno.

Davos está localizado numa região de montanhas a 1.500 metros acima do nível do mar. Essa pequena cidade suíça já chegou a ser uma “Meca” para doentes do pulmão.

Na sua época áurea, nos anos 20 e 30 do século passado, médicos de toda a Europa enviavam seus pacientes a um dos vinte e quatro sanatórios para curar dos males provocados por doenças como a tuberculose.

O romance do escritor alemão e detentor do Prêmio Nobel Thomas Mann, a “Montanha Mágica”, retrata um pouco esse realidade ao contar a história do relacionamento esquizofrênico entre pacientes e médicos no sanatório alemão Valbella Klinik em Davos.

Decadência devido à descoberta dos antibióticos

Depois da Primeira Guerra Mundial, a descoberta de antibióticos capazes de combater a tuberculose acabou provocando o fechamento de diversas clínicas.

Nos dias atuais, Davos vive mais uma vez uma grande crise: num espaço de tempo de apenas alguns meses três dos sete sanatórios suíços e estrangeiros ainda existentes fecharam as suas portas. O Valbella e outra clínica alemã encerraram as suas atividades em novembro do ano passado. O sanatório suíço Thurgauer Schaffhauser Höhenklinik fecha no final de março.

Antes tarde do que nunca

“Para nós é uma grande tristeza encerrar as atividades”, explica Herbert Bühl, presidente da fundação Thurgauer Schaffhauser Höhenklinik.

“Não poupamos esforços para manter o sanatório por mais três anos, porém tínhamos que escolher entre uma situação de altos prejuízos, o que seria um grande risco para todos, e fechar as portas agora para que nossos funcionários possam receber, pelo menos, um plano social decente de demissões”.

Também outras clínicas em Davos vivem atualmente uma situação altamente precária de finanças. Por essa razão, o Centro Holandês de Asma foi obrigado a fusionar com o sanatório alpino alemão Deutscher Hochgebirgsklinik Davos-Wolfgang e a Clínica Alpina para Crianças, uma das duas instituições suíças nesse setor. A fusão foi apoiada com dinheiro público do governo estadual.

Mudança de estratégia

Apenas o sanatório Zürcher Höhenklinik Davos, que é completamente financiado pelo cantão de Zurique e recebeu nos últimos anos recursos consideráveis para investir na sua modernização, tem chances de sobreviver no futuro.

“A taxa atual de ocupação é de 91%. Estamos funcionando muito bem, sobretudo depois que nos anos 90 decidimos nos reorientar, nos especializando em reabilitação”, revela o diretor Thomas Kehl.

Segundo Andréa Meisser, presidente da comissão hospitalar de Davos, a crise vivida por muitas clínicas e sanatórios é resultada pela reestruturação dos sistemas de saúde da Alemanha e da Suíça.

Redução de custos

“Devido à explosão de custos de saúde e as diversas tentativas oficiais de reduzi-los, cada vez menos pacientes têm suas estadias em Davos pagas pelas companhias seguradoras”, explica Meisser ao repórter da swissinfo.

“No caso do sanatório Thurgauer Schaffhauser Höhenklinik, os governos dos dois cantões responsáveis se recusam a financiar os seus custos.

Outro aspecto do problema é a tendência de tratamentos de saúde domiciliar ou no exterior. Para as companhias seguradoras, eles são mais baratos do que enviar pacientes para Davos. Por isso algumas clínicas têm problemas para ocupar suas camas. Desde maio do ano passado, o sanatório Thurgauer Schaffhauser Höhenklinik utiliza apenas 50% da sua capacidade.

Muitos empregos serão perdidos

A crise dos sanatórios e clínicas atinge profundamente a economia de Davos, já que mais de 300 empregos deverão ser cortados brevemente.

Nas ruas da pequena cidade alpina já são vistos cartazes de protesto, que pedem uma solução oficial para o problema. Muitos profissionais da saúde, habitantes de Davos, dependem dos empregos para alimentar suas famílias.

Segundo Andréa Meisser, um dos grandes desafios para a prefeitura de Davos é encontrar novos empregos para esse pessoal. Ele acredita, porém que a economia local será capaz de encontrar outras soluções. “Estou otimista no que diz respeito ao futuro de Davos como local de cura e tratamento”.

“Nós estamos vivendo um período de crise, mas que pode servir como oportunidade para reestruturar todo o setor e nos preparar para o futuro”.

Uma das possibilidades é a reorientação no sentido de modernos conceitos de saúde e bem-estar. As clínicas e sanatórios que sobreviverem devem reforçar suas competências no tratamento das doenças de pulmão, alergias e asma.

Procuram-se investidores

O governo local de Davos procura investidores para as clínicas que foram fechadas.

A cidade, que recebeu há poucos dias os participantes do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) e é também um conhecido centro turístico de esqui, chegou mesmo a criar uma comissão sobre questões de saúde. Seus três membros estão convencidos de que os tempos de ouro da “Montanha Mágica” poderão retornar.

“Esse foi um tempo fantástico, mas faz parte agora da história”, afirma Kehl. “Nós temos de acompanhar os ditames do tempo, senão estaremos selando o nosso fim”.

swissinfo, Isobel Leybold-Johnson

O livro “A Montanha Mágica” (1924) conta a história de Hans Castorp, que visita seu primo num sanatório em Davos.

Ele fica fascinado por esse mundo de pacientes e médicos e acaba permanecendo sete anos no local, partindo apenas depois da Primeira Guerra Mundial.

O escritor Thomas Mann inspirou-se numa viagem realizada em 1912, onde visitou sua esposa, que estava sendo tratada de bronquite num dos conhecidos sanatórios de Davos.

Em 1950 existiam 24 sanatórios em Davos.
Em 2005 existem apenas quatro, além do próprio Hospital de Davos.
300 profissionais da saúde irão perder seus empregos.
Davos tem 13 mil habitantes, sendo que mil estão ocupados no setor de saúde.
Também o futuro de dois sanatórios alpinos em Crans-Montana, no cantão do Valais, é incerto.

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