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Decadência em Davos

Davos, a cidade mais elevada da Europa. www.davos.ch

Durante a realização do Fórum Econômico Mundial participantes dão ar internacional à pequena cidade nas montanhas suíças.

Por trás do encontro das elites econômicas mundiais, Davos vive uma realidade de decadência do turismo e da economia local.

Localizada a 1.560 metros acima do mar e com uma população estimada em apenas pouco mais do que 13 mil habitantes, Davos é um dos pontos turísticos mais conhecidos da Suíça.

Além do cenário alpino e pistas de esqui, esse pequeno vilarejo recebe durante o Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), personalidades mundiais e transforma-se, por alguns dias, no centro de atenção da mídia internacional.

Na sua última versão, o encontro decorreu sem transtornos, ou seja, os protestos foram reduzidos e nenhum alarme de bomba terrorista foi dado. Os únicos momentos de excitação foram os encontros entre estrelas de Hollywood como Richard Gere e Sharon Stone, embaixadores da ONU para os direitos humanos, e pesos-pesados da política mundial como o primeiro-ministro britânico ou presidentes de multinacionais.

Cidade sitiada

Para assegurar a integridade dos participantes do Fórum Econômico Mundial o governo suíço disponibilizou mais de seis mil soldados e policiais, que literalmente sitiaram a pequena Davos. Apesar de simpáticos mesmo sendo obrigados a permanecer no exterior a temperaturas muitas vezes abaixo de zero, eles foram intransigentes com os não-convidados: sem as credenciais nenhum estranho era aceito nas áreas sensíveis.

Os melhores hotéis e centros de convenção, onde ocorriam os encontros e palestras, estavam bloqueados por cercas de arame. Apesar do ambiente de alta segurança, as ruas cobertas de neve e barracas de lona branca nas entradas dos espaços reservados davam um clima de balneário turístico. Somente as limusines com janelas escurecidas, que corriam em alta velocidade levando convidados ilustres, lembravam que o Fórum Econômico Mundial é um evento de VIPs.

Turistas?

Muitos habitantes de Davos se perguntam se um evento de tanto prestígio internacional é realmente benéfico para sua cidade.

Os 2.300 participantes do WEF, além dos organizadores e membros dos corpos de segurança, ocupam apenas 40% da capacidade hoteleira de Davos. No total, a cidade turística oferece 24 mil camas nos seus hotéis, pensões e residências de temporada.

Um motorista de ônibus não poupa críticas: – “São poucos os turistas que querem vir para cá nessa época, quando a cidade que fica sitiada pelas forças armadas e a polícia”.

“Para nós o mês de dezembro é mais importante do que a semana do WEF”, afirma Armin Egger, secretário de Turismo na cidade.

O único ponto positivo é o poder de compra desse público de elite. Durante o evento, os homens de negócio não poupam dinheiro ao comprar nas lojas da cidade ou para organizar as centenas de festas e coquetéis para convidados exclusivos. O chamado “espírito de Davos” é exatamente essa oportunidade de trocar informações em encontros informais longe dos olhos curiosos da imprensa, o que explica a realização de um evento desse porte num vilarejo de montanha na Suíça.

Decadência em Davos

Apesar de acolher o WEF, Davos vive problemas sérios. Um deles é o fechamento de vários sanatórios alpinos, que no passado foram responsáveis pela fama mundial da cidade. Também os congressos de médicos já não ocorrem com a mesma freqüência.

Hoje em dia as autoridades locais se questionam sobre o futuro de Davos. Nos últimos cinqüenta anos ela investiu praticamente todos os recursos no turismo de inverno, deixando de lado a infra-estrutura de congressos.

Para eventos de grande porte, como o Fórum Econômico Mundial, a infra-estrutura da cidade chega muitas vezes aos seus limites. Um exemplo está na oferta hoteleira: Davos dispõe apenas de um hotel de cinco estrelas. Por isso o ex-presidente americano Bill Clinton foi obrigado na última edição do evento a ficar num estabelecimento de quatro estrelas.

Também os preços são um problema de Davos: há poucos dias um importante jornal dominical criticou os hotéis locais pelo fato deles oferecerem preços exorbitantes durante o WEF. Mesmo alguns participantes reclamaram às autoridades por essa exploração.

Desmentidos

Armin Egger, da secretaria de Turismo, desmente as acusações. “Esses foram casos isolados”, reforça o funcionário público. “Nós temos um contato estreito com os organizadores do Fórum, porém os problemas de infra-estrutura não são apenas de Davos, mas sim de todo o setor de turismo na Suíça”.

“Não é possível construir hotéis de cinco estrelas que só são ocupados durante um curto período no ano”, explica Egger. “Nosso turismo tem há anos problemas para investir em projetos inovadores”.

Outro problema, mais específico de Davos, é a concorrência de cidades como Nova Iorque e Salzburg, onde no passado já foram organizados encontros do WEF. Esses locais concorrem com a pequena Davos, pois oferecem uma melhor infra-estrutura hoteleira e de segurança e não estão localizados nos ermos de uma região de montanhas.

”A Montanha Mágica”

Em 1912 o escritor alemão Thomas Mann descreveu Davos no livro “A Montanha Mágica”, que desde então passou a ser conhecida mundialmente. Ao mesmo tempo, desde o primeiro encontro do Fórum Econômico Mundial em 1971, a cidade nas montanhas se transformou num símbolo do liberalismo mundial que terminaria por transformar o mundo.

Se Davos não conseguir se modernizar, a cidade perderá seu prestígio mundial, prevêem muitos especialistas. Apenas as autoridades parecem não acreditar nas críticas: – “O WEF cresceu em Davos e Davos irá crescer com o WEF”, afirma otimista Armin Egger.

swissinfo, Daniele Papacella

Números de Davos:
13.250 habitantes
24.000 camas em hotéis, pensões e residências de temporada.
71 hotéis, porém apenas um com cinco estrelas.
50 teleféricos e 310 pistas de esqui.

Durante muitos séculos a região de Davos era apenas uma composição de vilarejos isolados pelas montanhas.

A partir do século XVIII Davos passou a abrigar sanatórios alpinos, que seriam responsáveis pela fama mundial da cidade.

A partir dos anos 30 no último século, Davos passou também a ser conhecido como centro de esportes de inverno. Vinte anos depois esse passaria a ser um fenômeno de massa.

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