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“Podemos ter orgulho do cinema suíço”

Frédéric Maire assegura que o festival continuará importante para ele.

O Festival Internacional do Cinema de Locarno abre no início de agosto. O jornalista suíço Romand Frédéric Maire irá dirigi-lo pela penúltima vez. A partir do final de 2009, ele será diretor da Cinemateca Suíça em Lausanne. swissinfo o entrevista e fala sobre o festival e planos futuros.

swissinfo o entrevista e fala sobre o festival e planos futuros.

swissinfo: É difícil de preservar a italianidade de um festival como o de Locarno?

Frédéric Maire: A italianidade é um conceito muito vasto. Nesse sentido, na Piazza Grande, nós iremos projetar o filme “Marcello, Marcello” realizado por um diretor suíço de origem italiano. Um filme rodado na Itália e em italiano: devemos então considerá-lo suíço ou italiano?

Sim, quando falamos em italianidade, estamos nos referindo ao cinema italiano ou italófono. Assim estamos sendo confrontados a dificuldades objetivas.

Locarno tem suas raízes em um território italófono, que aprecia o cinema italiano ou realizado nesse idioma. Porém sofremos uma concorrência muito grande do Festival de Veneza e, em menor escala, dos de Roma e Turim. De fato, por questões de mercado, os distribuidores italianos fazem de todo o possível para apresentar seus filmes em Veneza, já que o objetivo é ter mais visibilidade na Itália. Talvez não seja justo dizer isso, mas é o que vimos na prática.

De qualquer maneira, Locarno se defende muito bem. Ele é um festival centrado sobre as descobertas, que privilegia uma certa marginalidade e a diferença, fora dos grandes sistemas italianos como Rai-Medusa (um importante promotor de filmes financiados pela televisão), por exemplo. Locarno se transformou na plataforma do cinema italiano independente, diferente e realizado com poucos recursos.

swissinfo: Locarno recebe esse ano um grande protagonista do cinema italiano: Nanni Moretti, a quem foi dedicada uma retrospectiva. Ele é uma personalidade bem complexa, não?

F.M: Eu e o Nanni nos respeitamos mutuamente. Após ter concordado com a realização da retrospectiva, Moretti nos disse imediatamente que ele era bem minucioso. Já no nosso primeiro encontro, ele expôs suas exigências, acrescentando também que tinha pouco tempo. No final das contas, ele acabou nos dedicou um tempo enorme.

Nanni Moretti aceitou de estar presente em Locarno, que ele já conhece, pois o cinema vem antes de tudo, em sua opinião. Ele virá para cá falar de cinema como diretor, ator, produtor e diretor de festival. Essa retrospectiva, que pode parecer evidente para alguns italianos, mas que não o é na verdade, propõe uma visão em 360 graus, completada por uma exposição e a apresentação de um livro.

swissinfo: Em Locarno, o cinema suíça é uma realidade cada vez mais presente. Qual o seu olhar da produção helvética na atualidade?

F.M: Ela é, de certa forma, positiva. O novo filme do diretor Lionel Baier, é um dos concorrentes. Em minha opinião, ele é um dos melhores autores do novo cinema suíço. Esse é um cinema que apresentou o filme de Úrsula Méier em Cannes durante a semana da crítica.

No Festival de Locarno também haverá uma forte presença de diretores da parte francesa da Suíça. Também alguns filmes feitos pelos nossos concidadãos de língua alemã são bem interessantes, mas ainda estão em fase de produção e não estarão prontos para serem exibidos no festival.

Não é possível ter todos os anos um grande sucesso comercial na Suíça e, ao mesmo tempo, grandes filmes de autor. Talvez isso ocorra no momento que tivermos uma indústria cinematográfica mais sólida e dispondo de mais dinheiro. Sempre haverá altos e baixos.

swissinfo: Há três anos o festival dedica um dia inteiro ao cinema suíço. Se três anos é pouco para fazer um balanço, você poderia nos dizer se houve sinais encorajadores quanto ao impacto de um tal evento?

F.M: Certamente. Esse dia é um excelente cartão de visita para o cinema suíço e atrai um público cada vez maior. Os espectadores têm, dessa forma, a ocasião de avaliar a qualidade do nosso cinema e de ser orgulhoso do que vêem. Para promover ainda mais essa produção, decidimos redimensionar esse dia.

Em 2008, nós iremos dedicar-lhe também aos atores, que são elementos importantes do cinema helvético e que merecer ser valorizados. Os atores suíços que fazem sucesso no exterior são numerosos. Eles se tornam tão bem sucedidos, que acabam desaparecendo logo depois das produções helvéticas.

swissinfo: Você conseguiu colocar o cinema no centro do festival, privilegiando o conteúdo sobre a aparência. Em Locarno também haverá algumas estrelas, mundanismo e tapete vermelho. O cinema suíço pode viver sem isso?

F.M: Esses são aspectos que podem perfeitamente coabitar e, eu creio, Locarno é um bom exemplo disso. Nós não iremos desenrolar o tapete vermelho ou oferecer mundanismo em excesso, é verdade. Porém as estrelas virão à Locarno, pois elas gostam da sua atmosfera. Anthony Hopkins irá apresentar seu filme para três mil pessoas antes de poder passear pela cidade em tranqüilidade. Locarno não precisa de smoking ou champagne.

swissinfo: Em 2009, você abandona a direção do festival para assumir outros desafios profissionais. Essa foi uma decisão difícil de ser tomada?

F.M: Não, não foi. Antes de aceitar a direção do Festival Internacional de Cinema de Locarno, eu sabia perfeitamente que não poderia exercer essas funções por muito tempo. Com relação à experiência dos meus predecessores, os tempos mudaram. Trata-se de um trabalho duro, onde é preciso se engajar a fundo e que exige muita energia. É necessário correr de um canto ao outro do mundo, sem perder o controle de outras mil coisas que estão ocorrendo.

Logo que a vida oferece repentinamente novas oportunidades, a hora de fazer uma escolha soou. Todo mundo sabe a que ponto eu amo Locarno. Lá eu nasci do ponto de vista cinematográfico. Eu segui passo a passo a realização do festival. Porém precisei definir meu futuro: eu aceitei o desafio de dirigir a Cinemateca Suíça. Porém eu estou e continuarei ligado ao festival.

Interview swissinfo, Françoise Gehring

O diretor artístico do Festival Internacional de Cinema de Locarno foi nomeado para dirigir a Cinemateca Suíça. Frédéric Maire irá dirigir o festival até 2009 e assume suas novas funções em novembro de 2009.

A Cinemateca Suíça abriga 70 mil filmes nos seus arquivos, duas milhões de fotografias e 100 mil cartazes. Sediada em Lausanne (cantão de Vaud), ela está também entre as mais importantes instituições cinematográficas do mundo.

Jornalista e crítico de cinema, o suíço Frédéric Maire, fundador do grupo “Lanterna Mágica”, é diretor do Festival Internacional de Cinema de Locarno desde 2005. Os organizadores do festival procuram agora um sucessor.

Os organizadores do Festival de Locarno divulgaram a lista de filmes que serão exibidos durante a 61ª edição do evento.

Entre as produções escolhidas, poderão ser vistos os longas brasileiros: Estrada Real da Cachaça, comandado por Pedro Urano, que integra a semana da crítica; Filmefobia, do mineiro Kiko Goifman, selecionado para competir na mostra Filmmakers of the Present; Um Amor de Perdição, dirigido por Mario Barroso, que compete o Leopardo de Ouro.

Os curta-metragens Saltos, de Gregório Graziosi, que faz parte da mostra Playforward, e Dez elefantes, dirigido por Eva Randolph, pela competição Leopards of Tomorrow, também foram selecionados.

O júri da mostra Filmmarkes of the Present terá a participação do diretor Cao Guimarães (A Alma do Osso).

O festival será realizado entre 6 e 16 de agosto. (Texto: Cinema em Cena).

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