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Esculpir com um brilho nos olhos

Janic no atelier da Quinta Utopia Luis Guita

Com “300 anos de ideias para trabalhar”, Janic é uma artista suíça que, desde a Quinta Utopia e com o Oceano Atlântico como pano de fundo, olha o mar de Sesimbra e transforma o seu ideal estético em esculturas.

A pedra é a matéria-prima de eleição, mas a criatividade de Janic não gosta de limites. Por isso, no seu atelier também podem entrar madeira, ferro, lã e tecidos.

Com uma obra onde, tendencialmente, o “gosto” por elementos geométricos ganha evidência plástica quando trabalha a pedra; a presença da cor é praticamente transversal a todo o trabalho da escultora que nasceu na Suíça, em Couvet, e aos 23 anos fixou residência em Portugal.

Ousar a liberdade criativa

“As cores da madeira” é a mais recente exposição de Janic (Jeanine Chételat Forjaz) em Portugal. Numa ação em que a vertente lúdica ganha corpo através da construção de elementos com materiais reciclados e onde o jogo com o espaço faculta-nos o percecionar de figuras antagonicamente complementares, a exposição é um momento representativo de um manifestar artístico que não se deixa agrilhoar.

Apesar de afirmar que a escultura em pedra é a sua paixão, Janic não tem problemas em reconhecer que, por vezes, num misto de ousadia e liberdade criativa, precisa de fugir a essa paixão e usar outros materiais. “Tenho a necessidade de criar uma bolha onde faço coisas malucas que são como que férias da pedra.” Na exposição “As cores da madeira”, patente até ao fim do mês na Galeria do Pavilhão Municipal da Torre da Marinha, Seixal, a paleta de cores é refletida não só na madeira, elemento dominante, mas também na lã.

Ainda na rua, à medida que nos aproximamos do Pavilhão Municipal, as peças “Aconchego” e “A árvore das patacas”, feitas a partir de troncos de pinheiro que a artista plástica podou na sua Quinta e foram (re)vestidos de lã colorida, ganham destaque pela visibilidade que o transeunte conquista sobre a exposição através de uma ampla vitrina que, do alto do primeiro andar, se oferece ao olhar exterior e, num jogo de sedução, fazem o convite à descoberta do espaço.

Do nada surge o belo

A palavra “iluminação” é usada por Janic para descrever o momento em que entrou em contacto com a escultura em pedra. No primeiro dia do curso “fiquei logo apaixonada”, revela a escultora, e acrescenta: “O que eu gosto é, a partir de um bloco de pedra, que não é nada, ver surgir algo de lindo. Pode ser considerado mais belo ou menos belo, mas é transformação da pedra. Depois, algumas peças podem ter um significado mais forte e outras nem tanto. O que tento produzir, com um bocado de egoísmo, é um objeto estético que me agrade.”

Para juntar a sua paixão pela pedra com a atração pelas cores, Janic desenvolveu uma técnica de colagem de blocos de pedra, normalmente mármore, em que mistura pigmento de cor com cola e depois “o trabalho de esculpir as peças é feito como se fosse uma pedra só”.

Na busca da resposta para as incessantes ideias, que “normalmente surgem por volta das cinco da manhã”, a mulher que afirma que o seu “prazer está na descoberta” e na “execução das peças”, pode recorrer a qualquer matéria-prima: pedra, madeira, ferro, lã ou tecidos.

“Quando começo uma peça ela já está feita na cabeça. Depois, posso fazer apenas algumas alterações. Tenho imensas ideias. Nem preciso de fazer um desenho. Quando já tenho a peça bem definida na minha cabeça, faço só um esquema para me lembrar o que é.”… “Se tiver uma ideia que acho que resulta, é o que me basta para avançar nessa direção. Por isso, algumas das obras podem mesmo ser caracterizadas de “efémeras ou oníricas” e o trabalho de “atípico e sem limites”.   

A influência suíça

Apesar de ter saído da Suíça ainda muito jovem, Janic reconhece que a herança helvética tem peso na sua abordagem ao processo criativo: “Foi a Suíça me deu a estrutura, a disciplina, que é preciso para uma pessoa trabalhar a pedra e levar as coisas adiante.”

A herança familiar também é, com orgulho, apontada pela artista como possível fator de influência: “O meu avô era uma pessoa que trabalhava a madeira, construía rodas de carroças. Não era artista porque a vida não lhe permitiu ser artista, mas era uma pessoa muito habilidosa. Penso que devo ter herdado qualquer coisa dessa parte. E o meu pai era uma pessoa muito técnica, era metrologista. Acho que também herdei daqui. Juntei as duas heranças (risos).”

Momento de particular brio na carreira artística da escultora, que deixou o seu país natal aos 17 anos de idade, foi quando, em 2011, recebeu o convite para realizar uma intervenção artística nos jardins da embaixada helvética em Portugal. Na sequência, por ocasião do dia nacional da Suíça, Janic produziu um trabalho de fusão entre patriotismo, arrojo e criatividade, que resultou numa imagem ímpar ao “vestir”, com tecido, as árvores dos jardins da embaixada que, assim, ganharam as cores da bandeira  Suíça.

Jeanine Chételat Forjaz nasce em Couvet, Suíça, onde se forma como Educadora de Infância.

Em 1970 fixa residência em Portugal.

Em 1997 faz o curso de Iniciação à Escultura em Pedra no Centro Internacional de Escultura, tendo como professor Moisés Preto Paulo, e apaixona-se pela escultura em pedra.

Posteriormente, entre outros, faz o Curso de Escultura com Hans Varela, na ARTES, e o Curso de Iniciação ao Desenho, na Sociedade Nacional de Belas Artes, com Quintino Sebastião.

Desde 2000 fez várias exposições individuais em Portugal e participou em mais de cinquenta coletivas em Portugal e no estrangeiro.

Foi distinguida com uma menções honrosas e uma medalha de ouro na Bélgica.

Figura no Livro de Ouro da Arte Contemporânea em Portugal II.

Tem esculturas em coleções particulares em Portugal e no estrangeiro.

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