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Maienfeld: o vilarejo fantástico de Heidi

Heidi e Peter no filme de Werner Jakobs, 1965. Museo della montagna, Torino

Para muitas crianças, Heidi foi a primeira amiga no mundo dos livros. A "menina dos Alpes" é a famosa personagem criada por Johanna Spyri em 1871, cujos livros já foram traduzidos em 50 idiomas e vendidos em milhões de exemplares.

A escritora suíça se inspirou em Maienfeld, uma pequena cidade no cantão dos Grisões e que recebe hoje em dia centenas de turistas diariamente. A principal atração é a “verdadeira” casa da Heidi.

Quem não conhece Heidi, a órfã que foi levada para ser criada pelo avô numa cabana nos Alpes? Depois de se acostumar ao ancião solitário, ela ganhou amigos e se tornou feliz em meio à liberdade da natureza e dos animais nas montanhas.

Um dia ela foi levada para uma grande cidade, cheia de perigos e opressão. Na família que a recebeu, ela sofreu junto com uma menina paraplégica e infeliz, lutando com todas as suas forças para retornar ao seu lar nas montanhas.

A história acaba como deveria: Heidi retorna à casa e traz consigo mais tarde a pobre menina, que não apenas volta a andar, mas redescobre a alegria de viver. Esse país mágico, sem maldade ou escola, era a Suíça. Graças a Heidi ela entrou no imaginário de crianças no mundo inteiro.

Atualmente Heidi é um dos personagens literários infantis mais conhecidos no mundo, um fenômeno que seguramente Johanna Spyri (1827-1901) não imaginaria quando publicou o primeiro dos dois livros em 1880.

A história foi escrita em apenas algumas semanas, durante o período em que a escritora passava na casa de amigos nas proximidades de Maienfeld, um pequeno e idílico vilarejo localizado na base de grandes montanhas, não muito distante de Chur, a capital do cantão dos Grisões, região sudeste da Suíça.

Cento e vinte e sete anos depois da primeira edição, hoje os números são recordes: mais de vinte milhões de exemplares dos livros da Heidi foram vendidos no mundo e traduzidos em 50 idiomas.

Outros meios

Muitas crianças descobriram Heidi não apenas através dos livros. Um exemplo: só no cinema, a história foi adaptada dez vezes. O primeiro filme foi rodado em 1920, nos Estados Unidos, e ainda era mudo. Em 1937, “Heidi” foi interpretada por Shirley Temple em um filme considerado por muitos críticos como o ápice do “kitsch” americano. Na Suíça o primeiro filme foi rodado em 1952. O último filme de Heidi foi realizado em 2005 na Grã-Bretanha, com os atores Paul Marcus, Emma Bolger (no papel de Heidi) e Max von Sydow.

As gerações que cresceram na era da televisão também não ficaram “imunes” ao fenômeno. Uma conhecida série de desenhos animados japoneses realizados pelo produtor Isao Takahata e o diretor Hayao Miyazaki, em 1974, transformou a menina dos Alpes num ícone que atrai até hoje milhares de turistas, sobretudo asiáticos, para os Alpes suíços.

“Os japoneses eram apaixonados por essa série. Originalmente tínhamos um grande respeito pela natureza, que foi obrigada a dar lugar ao desenvolvimento econômico. Os filmes da Heidi simbolizam essa grande nostalgia que temos pela natureza”, declarou Isao a jornalistas.

Além da série, Heidi também foi popularizada através de quadrinhos, programas de televisão e espetáculos musicais. Só em Walenstadt, na Suíça, 61 delas foram realizadas durante 2005 e 2006. Cem mil pessoas vibraram com a encenação e canções sobre a menina dos Alpes e a vida da escritora Johanna Spyri.

Heidi gera negócios

Para a Suíça Heidi é não é apenas um símbolo, mas também fator econômico de importância crescente. Isso explica porque uma região inteira, ao norte do cantão dos Grisões, distante setenta quilômetros de Zurique, se autodenominou “Heidiland”.

Nessa região está Maienfeld, cidadezinha considerada a “meca” para os fãs da menina dos Alpes. Historicamente foi o local onde se inspirou Johanna Spyri, como mostra o primeiro parágrafo do livro: “Da bem localizada e antiga cidadezinha de Maienfeld, a trilha leva através de campos verdes cheio de árvores até o pé da montanha, de onde se tem uma vista majestosa do vale…”.

Com apenas 2.432 habitantes, a história de Maienfeld se perde no século IV d.C. Ela oferece aos turistas um castelo, casarões antigos com as fachadas pintadas à mão, uma igreja, uma praça central e vastos vinhedos. Mas a principal atração é a “casa original de Heidi”, uma típica cabana de montanhas decorada com objetos originais da vida rural suíça no século XIX, época onde teria vivido Heidi como descrita nos livros.

A casa está distante meia-hora de caminhada do centro da cidade, subindo as montanhas. O caminho estreito corta fazendas, córregos e florestas até chega na colina, onde os turistas encontram a placa “Heidi’s House”. Algumas vezes o afluxo de pessoas é tanto que até engarrafamentos não são descartados.

“Recebemos diariamente trezentos turistas. Nos finais de semana o número aumenta, pois temos mais famílias. Numa temporada chegamos a receber 60 mil pessoas, a grande maioria do Japão, Europa e Estados Unidos”, revela Anna Maria Stöckli, responsável pela administração do parque.

A simplicidade da menina dos Alpes

Se Heidi fosse americana, provavelmente já teria sido tema de grandes parques de diversão como a Disneylândia. Porém a Suíça não é um país de turismo de massa.

Ao querer preservar as tradições e manter o país dos Alpes como destino exclusivo, os empresários do turismo adormecem muitas vezes em relação às tendências. Apesar do afluxo crescente de turistas nas últimas décadas, apenas em 1997 Maienfeld resolveu construir um museu e parque dedicado à Heidi.

O parque não passa de um minúsculo vilarejo parado no tempo: uma pracinha, com uma fonte no meio, uma loja, uma casa histórica, um chalé e a bandeira suíça. Pela rua de terra batida se vêem cabras e galinhas, ciscando milho e a comida dada pelos visitantes.

O chalé foi construído há 300 anos e é a principal atração do parque. Lá está a casa “original” de Heidi e um pequeno museu. Quem entra no seu interior, tem impressão que voltou ao século XIX. No porão estão os utensílios para se fabricar queijo. Nos andares superiores os móveis simples de madeira e a cozinha, único espaço aquecido durante o inverno, mostram como era dura a vida dos camponeses de montanha.

“Heidi”, o “Peter das cabras” e o avô “Alpöhi” estão dentro da casa. Os turistas se colocam ao lado dos bonecos em tamanho natural e pedem para seus companheiros tirarem fotos. Pelas janelas do chalé se vêem as montanhas, os pinheiros e os campos floridos. Para a maioria dos asiáticos, esse lugar é, sem dúvida, a pátria da menina dos Alpes.

Investimentos

A redescoberta de “Heidi” tem promovido grandes investimentos em Maienfeld. Além do parque, o vilarejo oferece atualmente um hotel (Swiss Heidi Hotel) com 67 quartos, um restaurante panorâmico (Heidihof) e uma loja de lembranças, onde os fãs mais apaixonados pela menina dos Alpes podem comprar livros, souvenirs e cartões postais. Quem quiser, pode até enviá-los com um selo e carimbo especiais da própria loja que, ao mesmo tempo, também é uma estação dos Correios Suíços.

E antes de retornar aos lares, os turistas ainda visitar o “Heidiland”, um enorme complexo gastronômico localizado na beira da estrada. Lá, bonecos mecânicos de Heidi, Peter e um pequeno urso saúdam os visitantes de uma torre a cada meia-hora. Fundado em 1990, o restaurante recebe anualmente 25 milhões de viajantes que transitam entre Zurique e as conhecidas estações de esqui como St. Moritz.

Nos seus livros, Johanna Spyri idealizou a vida simples próxima à natureza nos Alpes. Ela não poderia imaginar que, mais de uma centena de anos depois, sua personagem gerasse tantos negócios. A última novidade é que Heidi também foi engarrafada: em Mels, vilarejo no cantão de St. Gallen, uma empresa com 15 funcionários produz a “Heidiland Water”, a água mineral da Heidi, que é exportada até para o Japão.

swissinfo, Alexander Thoele

Johanna Spyri nasceu em 12 de junho de 1827 em Hirzel, pequeno vilarejo no cantão de Zurique.

Em 1852, ela casou o advogado, jornalista e político Johann Bernhard Spyri, do qual o círculo de amizades pertencia também o músico Richard Wagner.

O primeiro conto de Johanna Spyri (“Uma folha sobre o túmulo de Vrony”) foi publicado em 1871, quando ela tinha 44 anos. Em 1880, ela escreveu o primeiro livro de Heidi: “Os anos de aprendizado e caminhada de Heidi” (Heidis Lehr- und Wanderjahre). Apenas um ano depois, ela escrevia o segundo livro: “Heidi pode necessitar o que ela aprendeu (Heidi kann brauchen was es gelernt hat).

Entre 1871 até seu falecimento em 1901, Spyri publicou 31 livros, 27 livros de contos e 4 livretos. Ela está enterrada no cemitério de Sihlfeld, em Zurique.

“Heidi” é considerada uma das mais conhecidas figuras da literatura infantil. Ela também marcou a imagem da Suíça no exterior.

Poucos anos depois de publicado o primeiro livro de Heidi, em 1880, ele se transformava em sucesso mundial. Até hoje as aventuras de Heidi já foram publicadas em 50 idiomas e vendidos milhões de livros.

A história de Heidi também foi adaptada dez vezes para o cinema. O primeiro filme foi rodado em 1920 nos EUA e ainda era mudo. “Heidi” é interpretada por Shirley Temple em 1937. O primeiro filme suíço foi rodado em 1952. O último filme foi realizado em 2005 na Grã-Bretanha, com os atores Paul Marcus, Emma Bolger (Heidi) e Max von Sydow.

Além dos filmes, Heidi foi eternizada por uma conhecida série de desenhos animados japoneses realizados pelo autor Isao Takahata e diretor Hayao Miyazaki, em 1974. Além de outros desenhos animados, a “menina dos Alpes” foi figura de histórias em quadrinhos, séries de televisão e vários espetáculos musicais.

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