Perspectivas suíças em 10 idiomas

Milhões são gastos para manter reto-romano

Hotel Waldhaus, en Flims. Acogerá la sesión parlamentaria de ototño 2006 Keystone

35 mil pessoas na Suíça falam o reto-romano, um idioma derivado do latin e que é praticado apenas numa região montanhosa do país. Governo injeta milhões de francos em programas para assegurar sua sobrevivência.

Enquanto muitos criticam utilidade dos incentivos, Parlamento federal decide reunir-se num povoado da região.

Garantir a sobrevivência de um idioma é um trabalho difícil e caro. A Suíça dá um bom exemplo.

Para assegurar o uso do italiano e do reto-romano, os idiomas falados pelas duas minorias suíças, o governo investe milhões em programas especiais. Só em 2004, pouco menos de seis milhões de dólares foram transferidos para um dos seus estados, o cantão dos Grisões, onde o problema da extinção das línguas minoritárias é mais acentuado.

A maior parte dos recursos é investida no reto-romano, um dialeto ladino falado nessa região de montanhas e que se tornou, a partir de 1938, a quarta língua oficial da Suíça. Apenas 35 mil pessoas a consideram como seu principal idioma.

E para complicar ainda mais a situação, o reto-romano divide-se em cinco dialetos regionais. O “rumantsch grischun”, a língua oficial que deveria ser utilizada na administração, tem cada vez mais dificuldades para se impor.

Fronteiras lingüísticas

A recente decisão do Parlamento nacional de organizar sua sessão trimestral em Flims, devido às obras de renovação do Palácio Federal, levantou a discussão sobre o perigo de extinção do reto-romano.

Esse pequeno povoado localizado cantão dos Grisões delimita a fronteira lingüística entre o reto-romano e o alemão, idioma que predomina em toda a região. Além de deslocar-se por questões práticas, os deputados e senadores querem dar mais atenção à menor comunidade lingüística da Suíça e debater sobre os problemas das populações de montanhas.

“Trata-se de um ato simbólico, porém com um fundo sério de debater a questão do plurilinguismo na Suíça”, afirma Clá Riatsch, professor de literatura romanche na Universidade de Zurique.

Recomendações européias

O problema das minorias não foi esquecido pelo Conselho da Europa, associação política de países europeus criada dos escombros deixados pela Segunda Guerra Mundial. A primeira recomendação feita à Suíça é a rápida adoção de uma lei para atualizar o artigo 70 da constituição do país, onde o reto-romano está definido como idioma oficial.

Os especialistas europeus pedem ao governo suíço para reforçar a utilização do reto-romano nos tribunais e na administração. Porém existem as vozes críticas: – “Acho muito mais importante compreender as necessidades reais da população, do que impor uma política cultural vinda de cima”, ressalta Clá Riatsch.

“As pessoas que falam reto-romano são bilíngües. No cotidiano eles preferem falar o dialeto suíço-alemão ou o alemão comum. Por isso acho um desperdício investir dinheiro público para traduzir um manual militar nesse idioma”.

Essa opinião é partilhada por Constantin Pitsch, responsável pelo Departamento de Comunidades Lingüísticas e Culturais no Ministério da Cultura. “Nós não devemos impor um idioma, mas sim incentivar a sua utilização como na publicação de livros escritos em idiomas minoritários”.

Peso da mídia

A sobrevivência do reto-romano depende muito mais das pessoas que falam do que das decisões governamentais. “Isso não significa que o dinheiro público esteja sendo jogado fora”, lembra Riatsch.

Por exemplo, o trabalho realizado pela organização lingüística “Lia Rumantscha” é considerado por muitos como essencial como o da agência de notícias ANR (Agenzia da Novitads Rumantscha), que possibilita a publicação de jornais nesse raro idioma.

Também a televisão pretende dar mais atenção ao assunto: a Sociedade Suíça de Radio e Televisão, a estatal de comunicações do país, decidiu elevar de 20 para 22 milhões de francos o orçamento para a realização de programas em reto-romano.

Apesar dos protestos de outras unidades do grupo, obrigadas nos últimos anos a realizar importantes economias, a medida é considerada importante para a sobrevivência do idioma. “O impacto do rádio e da televiso é muito importante, lembrando inclusive que a compreensão inter-regional fica mais facilitada: hoje em dia um romanche de Surselva entende sem problemas os habitantes da Engadine, enquanto que há trinta anos isso seria inimaginável”, lembra Clá Riatsch.

A emissão de programas de rádio em reto-romano começou em 1926. Na televisão, os primeiros programas foram exibidos em 1963. Diariamente são transmitidos 14 horas de programa, sendo que o “Telesguard”, o telejornal romanche, aumentará sua duração diária de seis para dez minutos.

swissinfo, Doris Lucini
tradução de Alexander Thoele

O reto-romano deriva do latim e é um termo genérico para indicar as cinco variedades do idioma falado no cantão dos Grisões: Sursilvan, Vallader, Surmiran, Sutsilvan e Puter. No mesmo tronco linguístico estão o ladino dolomítico e o friulano, idiomas falados na Itália por mais de meio milhão de pessoas.
O “rumantsch grishun”, união dos cinco dialetos do reto-romano, foi criado em 1982 pelo professor Heinrich Schmid, da Universidade de Zurique.

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