O escultor de Oceanos
Criaturas fantásticas, personagens do fundo dos mares que se apresentam como um jogo de metamorfose entre o ser humano e os seres sub-aquáticos, artefactos civilizacionais e animais reconhecidamente expressionistas, são alguns dos elementos que dão corpo ao universo do escultor suíço Syvain Bongard.
Através do recurso à deformação da realidade, a escultura cerâmica de Bongard expressa sentimentos que se traduzem numa visão subjectiva e emocional do mundo em que vivemos. Mas, para que não nos deixemos conduzir a um qualquer nível de alienação, sempre presente em cada escultura, encontramos o grito de angústia que faz nascer o desejo de transformação.
Dar visibilidade ao submerso
“O meu trabalho actual sobresai, em relação ao que se conhece, pelo fato de algumas peças serem de muito grande dimensão, 2 ou 3 metros de tamanho, e pelo fato de o meu estilo não se basear em nenhuma vertente artística mas sim no meu trabalho muito pessoal,” testemunha Sylvain Bongard.Link externo
Com a preocupação ecológica sempre presente, o ideal de belo do universo bongardiano é também a afirmação da necessidade urgente de uma transformação dos comportamentos porque “os danos que o Homem provoca no Oceano são muito visiveis.”
“A temática do submerso, tanto dos animais como da influência humana nos Oceanos,” tem por objectivo “chamar a atenção sobre a beleza incrivel e a versatilidade das formas que se encontram no fundo do mar, sensibilizar as pessoas a tomarem uma atitude e deixarem de massacrar o Mar para ele ter uma hipótese de se recompor,” afirma Sylvain Bongard.
O reconhecimento de um trabalho ímpar
Depois de em 2011 ter apresentado o seu trabalho de escultor cerâmico no Museu de Portimão – premiado como Museu do Ano do Conselho da Europa de 2010 – , 2014 é o ano em que se assinala a chegada de Bongard aos grandes museus nacionais de Portugal. “Arte Submersa” é o nome da exposição de escultura cerâmica que Bongard apresenta, até 5 de Janeiro de 2015, no Museu Nacional do AzulejoLink externo, em Lisboa, e onde estão reunidas algumas das obras mais representativas do trabalho do suíço que aos 11 anos deixou os arredores de Genebra e veio viver com os pais para a Praia do Carvoeiro, Algarve.
“Arte Submersa é uma exposição cheia de côr e com uma qualdiade de vidrados extraordinária, e de uma grande plasticidade. Tem tido o melhor dos acolhimentos por parte de portugueses e estrangeiros, é um publico que se faz fotografar por todo o espaço da exposição”, afirma Maria Antónia Pinto Basto, diretora do Museu Nacional do Azulejo e uma das especilaistas de Porcelana Chinesa mais respeitada a nível mundial.
Com a chegada da arte de Bongard aos grandes museus, esta alcança uma visibilidade que permite avançar na direcção de uma maior projecção do trabalho escultórico e fazer com que a sua mensagem de alerta ambiental chegue a um público mais vasto. Contudo, apesar de a maior parte dos seus clientes ser composta por não portugueses, Bongard nunca realizou uma exposição fora de Portugal.
A possível evolução temática
“Vou continuar a desenvolver o tema submerso. Acho que ainda não chegou ao fim. É um tema gigantesco. Depois vou iniciar uma coisa completamente nova. Ainda não sei muito bem o que vai sair mas… quero fazer coisas um pouco mais abstractas, muito orgânicas, muito vegetal e talvez também algo que tenha a ver com o menos visivel, os animais micrsocópicos. Utilizar essas formas para desenvolver esculturas mais abstarctas.”
A Suíça no caminho do mundo
Mas, novos ventos expositivos já sopram as velas da caravela criativa de Bongard. 2014 é o ano em que o ciclo de internacionalização ganhou balanço e a espectativa é que o ano de 2015 confirme a chegada a bom porto fora de Portugal.
“Há uma galeria de arte em Bruxelas que vai iniciar a venda das minhas esculturas. É um contato que foi feito na sequência da exposição em Lisboa,” revela Sylvain Bongard. E, sobre uma possível exposição na Suíça, adianta: “Eu adorava fazer isso. Já há 3 ou 4 anos que está na minha mente. Gostaria muito de encontrar uma entidade, ou galeria, que pudesse facilitar o lado logístico para conseguir montar uma grande exposição com estes trabalhos. São peças que são muito pesadas e delicadas. A coleção tem, no mínimo, 70 esculturas e, portanto, várias toneladas.”
E é falando da Suíça natal que Bongard revela que “foi ali que tudo começou. Porque quando era criança, dos 5 até aos 17 anos, os meus pais possibilitaram o fato de eu invadir a casa deles, o jardim deles, com animais exóticos. Então, em pouco tempo, tive mais de 300 animais em casa. Não estou a falar de cães, gatos ou canários. Tinha crocodilos macacos, raposas, garças, corvos, corujas e todo o tipo de répteis, aquários e terrários. Tudo isto começou na Suíça em 1965, diria eu, e prolongou-se até 1977 em Portugal.”
Escultura explosiva
Sobre o seu processo de composição, o escultor que em 1987 começou a pintar azulejo “por curiosidade”, afirma que se socorre da sua “integração muito profunda com a natureza” para “sem fotografias nem ante-projeto” dar corpo ao trabalho. “Tenho uma ideia em mente e inicío com esta ideia em barro. Faço a escultura de uma maneira que eu diria explosiva, sem exitar e muito rapidamente. Aquilo que se vê é o resultado daquilo que eu gostaria de conseguir fazer, daquilo que está na minha mente.”
Do azulejo ao grés cerâmico
“Em 1987 , por curiosidade , comecei a pintar azulejo com a técnica majólica, a 1000°C. Achei o tema fascinante mas muito repetitivo, e pensei que haveria a hipótese de fazer uma coisa completamente nova com uma técnica antiga. Então, comprei uns fornos e avancei de uma forma autodidaccta, só através da experiência e erro. Passado um ano apercebi-me que já conseguia viver da minha produção e então avancei para uma fase de quase 20 anos em que vivi da pintura de azulejo. Depois encontrei um estilo próprio e comecei a fazer um trabalho muito pessoal, muito ligado à natureza. Em 2009, sensivelmente, quis experimentar um material completamente diferente, que é o grés cerâmico, e foi aí que comprei uns fornos de alta cozedura, de 1300°C. Então, aí descobri a minha vocação mais profunda; pelo fato de ser tridimensional e pelo fato de conseguir cores incriveis através da alta temperatura, utilizando cinzas, terra, metais, vidro, todo o tipo de óxidos. Realmente, apercebi-me que os 300°C a mais faziam toda a diferença. Conseguia texturas completamente novas. E, ainda hoje, estou fascínado por isso.”
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