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O fascínio das colheres de bambu

Alvaro Abreu com as colheres de pau, retratado no site pessoal. Cortesia

O artista brasileiro Alvaro Abreu apresenta uma variedade de formas, tons e linhas de colheres de bambu em exposição no Gewerbemuseum, em Winterthur. O fotógrafo alemão Hans Hansen dedicou um livro ao seu trabalho. 

O engenheiro Alvaro Abreu, 67 anos, sempre teve afinidade e facilidade para fazer trabalhos manuais, mas foi depois de um infarto que ele resolveu se dedicar a produzir colheres de bambu.  Como ele mesmo se define, tornou-se então um “colhereiro”. A experiência deu tão certo que suas colheres tornaram-se objeto de apreciação e reconhecimento internacional. A partir do dia 16 de novembro, suas obras estão expostas no Gewerbemuseum, em Winterthur.

A exposição “Magia das coisas simples” (Magie des Einfachen) contará com mais de 650 colheres de bambu, além de fotografias assinadas pelo alemão Hans Hansen, que em 2012 lançou um livro exclusivo com as colheres de Abreu intitulado “Alvaro Abreu Bamboo”.  Trata-se da primeira mostra do artista brasileiro na Suíça.

“Cavo e raspo bambu praticamente todos os dias, esteja sozinho, conversando na varanda ou andando na beira do mar”, conta Abreu. “Ao fazer colheres de bambu, o tempo não é uma variável relevante.” No processo, a missão do artista é procurar respeitar e realçar as especificidades de cada pedaço de bambu.

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Nenhum tipo de tinta ou verniz é utilizado. Portanto, o que se vê no final são as cores originais do bambu.  “Descobri que com o uso, as cores da madeira se tornam mais escuras e ainda mais bonitas”, explica.

Conjuntos harmoniosos

O resultado dessa jornada, que começou há cerca de 17 anos, é uma variedade instigante de colheres. “Na sua maioria são peças fortes e robustas. Muitas são de delicadeza intrigante. Algumas são leves e inteiramente flexíveis. Quando agrupadas, formam conjuntos harmoniosos”, explica Abreu.

Abreu confessa, num tom de brincadeira, mas que carrega certa verdade, que o que gosta mesmo é de ganhar um elogio. E, no início, ainda debilitado pelo problema de saúde, recebia amigos em casa, que viam seu trabalho e elogiavam. “Fui percebendo que tinha que variar as formas e estilos para que eles continuassem se surpreendendo e me elogiando”, diz.

O artista, que nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, calcula que já tenha produzido cerca de quatro mil peças. Algumas centenas foram dadas a amigos. Algumas foram destruídas por insetos. Várias estão na cozinha de sua própria casa e são usadas para cozinhar. Segundo ele, cerca de dois mil estão devidamente guardadas.

Outro fator relevante para o artista é que suas peças não estão à venda. “Ao decidir por não comercializá-las, tiro deste processo todos os aspectos que são influenciados pelo dinheiro”, afirma. O que ele faz, então, é presenteá-las aos amigos.

Interesse internacional

Com suas colheres, Abreu já fez exposições em Brasília, Rio de Janeiro, Vitória, São Paulo. Em Viena, Áustria, mostrou suas obras, em paralelo a um workshop, no saguão do Museu de Etnologia. Na Alemanha, expôs na Galeria im Kelterhaus, em Hochheim, na Galeria Handwerk e durante a EXEMPLA, feira internacional anual de artesanato, em Munique.  Em 2013, expôs na Galeria Braubachfive, em Frankfurt.

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Entre tantos encontros, o ocorrido com o reconhecido fotógrafo alemão Hans Hansen rendeu um livro. Hans Hansen, encantado com as colheres, resolveu fotografá-las. O livro “Alvaro Abreu Bamboo” reúne vinte fotografias de 108 x 28cm, em preto e branco, com as colheres em tamanho natural, acompanhadas por seis textos assinados por profissionais de diferentes especialidades, e editados em português, inglês e alemão.

Como sintetiza muito bem a vice-diretora do Die Neue Sammlung – The International Design Museum Munich, Corinna Rösner: “ao fazer estes utensílios simples para o uso cotidiano, Alvaro Abreu trata do conceito das colheres, do ato de fazer, e também – sim, também – de sua utilidade. Mas trata, antes de mais nada, da ideia de encontrar formas adequadas. Usando a classificação artística contemporânea, seria possível taxar as colheres de conceituais – ou podemos simplesmente nos deixar cativar, alegrar e inspirar por elas.”

Alvaro Abreu dedica apenas parte do seu tempo às colheres. Normalmente no período da tarde se ocupa das atividades ligadas à empresa de sistemas para gerenciamento de produção, da qual é sócio.Abreu é engenheiro mecânico e mestre em engenharia de produção. Atuou como professor da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Trabalhou também no Ministério de Educação, no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e no Banco de Desenvolvido do Espírito Santo (BANDES). Ela conta que sempre gostou de escrever. Por isso, logo após o infarto, que sofreu aos 46 anos, escreveu um livro intitulado “Crônica do meu primeiro infarto”. Abreu é casado, tem cinco filhos e cinco netos.


Site de Álvaro AbreuLink externo

Exposição no Gewerbemuseum de WinterthurLink externo

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