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40 anos de cartazes do Festival de Jazz de Montreux

Cartaz assinado por Keith Haring em 1983. MJF

Milton Glaser, Jean Tinguely, Keith Haring e David Bowie são alguns dos autores dos famosos cartazes do Festival de Jazz de Montreux. Agora eles comemoram 40 anos de história.

Pierre Keller, diretor da Escola Cantonal de Arte de Lausanne (ECAL) e membro do conselho da Fundação Montreux Jazz Festival, fala sobre essa interessante coleção.

“Um dia, eu disse ao Claude Nobs: eu não sei nada de música; minha carreira musical terminou na banda do exército suíço. E você, não sabe nada de arte”, lembra Pierre Keller.

O criador do Festival de Jazz de Montreux está ao lado e escuta a conversa. No início dos anos 80 que Pierre Keller decidiu assumir essa tarefa. Foi quando, em 1982, ele pediu ao artista suíço Jean Tinguely para realizar o cartaz oficial do evento.

“Eu disse para ele: desenhe-me um festival. E assim ele fez fogos de artifício. O cartaz foi um sucesso absoluto. Logo depois descobrimos que ele poderia ser um bom negócio”.

A obra de Tinguely, retrabalhada por Pierre Keller, inspirou dessa forma para a criação do logotipo oficial do Festival de Jazz de Montreux.

O swing de Keith Haring

Um ano mais tarde, o diretor do ECAL encontrou Keith Haring – e seus graffitis – em Nova Iorque. “Eu pedi que ele criasse um personagem com suingue e ele me fez o meu primeiro quadro, pelo qual eu paguei 50 dólares. É uma tela de 20 centímetros por 20 e que eu guardo em casa até hoje”.

“Depois eu convidei-o a criar um cartaz para o Festival de Jazz de Montreux. Ele me apresentou três projetos e nós guardamos os três. Depois convidamos Keith Haring para vir a Suíça, onde ele pintaria então obras originais para a cidade de Montreux. Foi lá que ele fez o famoso jipe do exército suíço. Foi fantástico!”.

Nesse ano as camisas venderam muito bem e os cartazes menos. Mais tarde Pierre Keller colocou no mercado o estoque restante. A idéia acabou rendendo um bom negócio: hoje cada um deles vale entre 8 mil e 10 mil francos.

Mulher preta, mulher rosa

Dois anos depois de Jean Tinguely, sua companheira realiza o cartaz de 1984. Além do trabalho para Montreux, ela ainda criou o cartaz do Festival de Jazz de Detroit.

“Para Montreux, foi uma mulher negra. Porém em Detroit era impossível de retratar uma grande negra. Assim Niki de Saint-Phalle a pintou em rosa”, conta Pierre Keller.

Depois veio o vigésimo aniversário do festival e a idéia de associar Keith Haring e Andy Warhol. “Eu cheguei à Nova Iorque no domingo pela manhã. Nós três estávamos no estúdio de Keith Haring, farreando o tempo todo. E ainda no domingo à noite consegui partir com três projetos”.

Bowie e Phil Collins

Nos anos seguintes, artistas como Boisrond, Combas e Nicola de Maria foram acrescidos à lista de autores dos cartazes de Montreux. Porém uma vez ocorreu um tropeço no trabalho criativo.

“Tudo ia muito bem”, resume o diretor da ECAL, “até quando Claude teve a idéia de pedir para músicos fazerem eles mesmos os cartazes”, conta.

O de 1995 foi assinado por David Bowie, lembrando o lançamento da bomba de Hiroshima. Em 1998 foi Phil Collins que ilustrou o festival com seu pequeno baterista.

Veredicto sem concessão do Pierre Keller. “Os cartazes foram duas catástrofes gráficas. Mas a gente não pode ser sempre bem-sucedido, tanto na música como na arte. E o Claude também. Cada um na sua profissão e as vacas ficarão bem guardadas, já dizia o meu pai”.

Mas os cartazes foram tão ruins? “Foram amadores”, responde Keller. Mas às vezes o amadorismo dá um certo frescor, não é verdade? “Não, de forma nenhuma. O lado infantil oferece esse frescor, mas será que podemos chamar o trabalho de David Bowie e Phil Collins de infantil?”.

Testemunho de uma época

No final, a coleção de cartazes pode ser “desigual”. Porém ela também é um importante retrato da história da arte gráfica, onde cada trabalho fala um pouco sobre a época que foi criado. Um exemplo é dado através do cartaz de Roger Bornand de 1968 ou Milton Glaser, em 1976, que ilustram bem o movimento hippie.

No conjunto, a coleção também marca o festival. Cada cartaz lembra ao espectador um bom concerto assistido, encontros com pessoas de outros países ou um ambiente especial. Para Pierre Keller, eles lembram da “fantástica colaboração com o fundador Claude Nobs”.

“Nós nos divertimos muito. Se não discutíssemos, sem as brigas costumeiras, acho que não teríamos continuado amigos esse tempo todo”. Seria essa uma amizade explosiva? “Sim, ainda mais com o Claude”.

swissinfo, Alexandra Richard

O primeiro festival organizado por Claude Nobs ocorreu em 1967, com um orçamento que não ultrapassava os 10 mil francos suíços (17 milhões em 2005)
Dez anos depois, o festival chegou a ter uma duração recorde de 23 dias.
De 1978 a 2002, mais de sete Festivais de Jazz de Montreux já ocorreram em outros países como Estados Unidos, Japão, Mônaco e no Brasil.
Em 2006, o evento chega na sua quadragésima edição. Os músicos se apresentam de 30 de junho a 15 de julho. Nesse período Claude Nobs comemora também seus 70 anos de idade.

O cartaz de 2006 foi feito pelo artista britânico Julian Opie.
Surgido no início dos anos 90, ele se destacou pela capa de um dos discos do grupo Blur e através das animações feitas para o U2.
Para o 40o aniversário do Festival de Jazz de Montreux, Julian Opie desenhou três cartazes que representam os músicos do Deep Purple.

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