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Movido pela dança

Saiba como Felipe Rocha conquistou um lugar na renomada companhia de dança Béjart Ballet Lausanne e tornou-se o único brasileiro a compor o seleto grupo de 40 bailarinos.

Como boa parte dos bailarinos, Felipe Rocha começou sua carreira no balé clássico para depois passar para a dança moderna. Divulgação

Desde cedo, o mineiro Felipe Rocha, 32 anos, sabia que seu negócio era a dança. Aos 13 anos, entrou para a Escola de Dança do Palácio das Artes de Belo Horizonte e desde então nunca mais deixou os palcos. Ganhou concursos, bolsas de estudo e mudou-se em 2001 para a Alemanha para continuar sua profissionalização. Em 2009, saiu da Alemanha para realizar mais uma conquista: integrar a equipe do renomado Béjart Ballet, com sede Lausanne. Hoje, Rocha é o único brasileiro entre os 40 bailarinos da companhia.

“Sempre fiz e gostei da dança clássica, mas sentia que o estilo mais moderno, mais contemporâneo tinha mais a ver comigo”, explica. Segundo ele, entrar para o BéjartLink externo era a grande oportunidade para poder trabalhar mais com essa “dança que exige ainda mais interpretação e atuação do bailarino, e que está mais próxima às pessoas.”

Balé para o povo

Nascido em Marselha, França, em 1927, Maurice Béjart começou sua trajetória no mundo da dança aos 14 anos. Estudou balé clássico em Londres e Paris. Mas foi durante uma turnê com o Balé Cullberg, no qual dançava desde 1949, que Béjart despertou para a necessidade de se criar coreografias mais expressivas.

Assinou sua primeira coreografia em 1952 para o filme sueco “L’oiseau de feu” (“O pássaro de fogo”), em que ele é o principal intérprete. Depois não parou mais.  Coreografou mais de 200 balés, a maioria destinados às suas companhias. Em 1953, ao lado de Jean Laurent, fundou o  “Les Ballets de l’Etoile”, mais tarde rebatizado de “Ballet-Théâtre de Paris”.

Em Bruxelas, Béjart fundou o Balé do Século 20. Em 1987,  criou o Béjart Ballet Lausanne, na Suíça. Com suas coreografias, Béjart procurou ao longo de sua vida aproximar o balé das massas, tornar essa arte mais acessível. E conseguiu. O coreógrafo faleceu em 2007 aos 80 anos. 

Rocha não teve a oportunidade de conhecer pessoalmente Maurice Béjart, que faleceu em 2007. Mas hoje dança várias das coreografias criadas pelo bailarino, coreógrafo e diretor de ópera francês, que em 1987 mudou-se para Lausanne e fundou o Béjart Ballet Lausanne.  Grupo esse que acabou se tornando uma das companhias de dança mais reconhecidas do mundo.

Em 2009, quando surgiu uma vaga no Béjart, Rocha atuava no Theater Chemnitz, composto por um corpo de ópera, companhia de balé,  filarmônica, um grupo de teatro e outro de teatro de marionete  na cidade de Chemnitz, na Alemanha. Sua carreira na Alemanha, no entanto, já havia começado bem antes, em 2001, quando ganhou uma bolsa de estudos e foi para a Akademie des Tanzes Mannheim.  Lá teve a oportunidade de estudar com nomes de peso da área como Birgit Keil, ex-primeira bailarina do Teatro de Stuttgart, e Vladmir Klos, ex-primeiro bailarino do Teatro de Stuttgart.  

Após três anos de intenso treinamento, Rocha fechou contrato para trabalhar na companhia Badisches Staatstheater Karlsruhe.  E ali atuou durante cinco anos. De lá, saiu em 2008 para se juntar ao grupo do Theater Chemnitz, onde ficou até 2009.

De Minas Gerais para o mundo

Seus primeiros passos na dança, no entanto, foram bem antes, em Belo Horizonte, Minas Gerais, onde Rocha nasceu e morou com a família. Aos 13 anos, ele conseguiu entrar para a Escola de Dança do Palácio das Artes de Belo Horizonte (Fundação Clóvis Salgado). Um ano depois, ganhou uma bolsa de estudos para o Centro Mineiro de Danças Clássicas. “Sempre quis me movimentar. Sempre fui muito ligado à música”, explica o bailarino. 

Felipe Rocha dança “Strange Waters”, coreografia assinada pelo inglês Philip Taylor. Felipe Rocha

Nestes cinco anos de Béjart, Rocha diz que sua inspiração e motivação vem da vontade de conhecer o mundo, de explorar as diversas culturas e hábitos, as diferenças de perspectivas. “Me considero um cidadão do mundo. Viajamos muitos, somos 40 bailarinos, cada um bem diferente do outro. E isso deixa tudo mais interessante”, afirma.

Na hora da competitividade ou das dificuldades de trabalhar em grupo, ele explica: “Procuro estar em paz com todo mundo. Respeito é fundamental, acima de tudo. Afinal, todos estamos ali por causa da dança.”

 No Brasil com Béjart Ballet

Em 2011, Rocha teve a oportunidade de ir ao Brasil se apresentar com o Béjart Ballet no Teatro Municipal de São Paulo. Na plateia estavam seus pais, sua tia e irmã, que vieram de Belo Horizonte especialmente para assisti-lo. “Nunca imaginei que eu estaria ali no Teatro Municipal de São Paulo, um teatro que é uma referência, com a minha família na plateia me assistindo. Foi uma grande emoção”, conta.  

Do Brasil, Rocha diz que  o “Grupo Corpo” é sua companhia do coração. A  companhia de dança com sede em Belo Horizonte  tornou-se nos últimos anos uma referência mundial em dança moderna.

Mas, segundo Rocha, ainda são poucos os bailarinos que conseguem viver completamente da dança no Brasil. “Muitos profissionais têm que ter um segundo trabalho para poder se manter”, explica. Para esse brasileiro, no entanto, a dança tem sido generosa. Com seu empenho e resiliência, tem conquistado palcos no mundo inteiro,  podendo alimentar assim um ciclo virtuoso de crescimento e realização profissional.  

Que venha a nova geração

Um total de cinco jovens bailarinos brasileiros participará este ano da competição internacional Prix de LausanneLink externo, que ocorrerá do dia 1 ao 8 de fevereiro em Lausanne. O objetivo do evento, que já está em sua 43ª edição,  é promover jovens talentos (entre 15 e 18 anos) de todo o mundo.

Para a edição de 2015, 700 jovens de diversas nacionalidades se inscreveram, mas apenas 70 deles, de 18 nacionalidades, foram selecionados. Durante a competição, os jovens profissionais serão avaliados por especialistas da área em diversas categorias, tais como habilidades artísticas, técnica e capacidade física. Os vencedores levam bolsas de estudo e cursos de dança. Assim, podem dar prosseguimento ao sonho de tornarem-se estrelas da dança. 

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