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Cineasta Daniel Schmid falece

O cineasta suíço Daniel Schmid. Keystone

O diretor suíço de cinema e teatro Daniel Schmid morre de câncer na noite de sábado (05.08).

Considerado por muitos críticos como um dos realizadores mais importantes da Suíça, ele se destacou por várias obras como o filme “Beresina”, uma crítica ferina a valores helvéticos como as forças armadas.

Os presentes no Festival de Cinema de Locarno, um dos pontos altos da cultura helvética durante o verão, ficaram chocados com a notícia transmitida durante o final de semana. Daniel Schmid, cineasta e participante ativo no evento, não resistiu ao câncer e faleceu na madrugada de sábado para domingo.

O filme “Beresina ou os últimos dias da Suíça” (título original: “Beresina oder Die letzten Tage der Schweiz”) teve sucesso em 1999 nos festivais de Cannes e Locarno, chegando até mesmo a ser indicado pelo Ministério da Cultura para o Oscar de melhor filme estrangeiro. No mesmo ano o diretor recebeu em Locarno o “Leopardo de Honra”, uma homenagem especial por toda sua obra. No ano anterior, Schmid já havia ganhado do governo de Zurique o mais importante prêmio artístico.

Na versão atual do Festival de Locarno, que ocorre até 12 de agosto, os organizadores decidiram no último domingo fazer uma homenagem póstuma ao exibir na famosa “Piazza Grande” durante a sessão da meia noite a película “Il Bacio di Tosca”. O documentário de Schmid sobre a Casa Verdi, em Milão, sobre um asilo de idosos apenas para cantores de ópera, foi mostrado pela primeira vez em 1984 no mesmo festival. Também no domingo, o principal canal suíço de televisão, a SF1, transmitiu à noite “Beresina ou os últimos dias da Suíça”.

“Com seu falecimento, a Suíça perde um dos seus maiores diretores de cinema”, homenageia Nicolas Bideau, chefe da seção de filmes no Ministério da Cultura, que ainda lembra o sucesso de vários filmes do cineasta. “Só Beresina foi assistido por mais de 120 mil pessoas no cinema, um filme que prima pela qualidade”, afirma.

Vários talentos

Daniel Schmid nasceu em 26 de dezembro de 1941 em Flims, pequeno povoado no cantão dos Grisões (leste da Suíça). Seu pai era proprietário de um hotel. Em 1962 ele começou os estudos em história, publicidade, ciências políticas e história da arte na Universidade Livre de Berlim. Na capital alemão ele também foi jornalista, tradutor e intérprete.

De 1966 a 1969, Schmid estudou na Academia Alemã de Cinema e Televisão em Berlim, tendo trabalhado para cineastas famosos como Peter Lilienthal, Rainer Werner Fassbinder e Werner Schroeter. Nessa época ele também atuou como ator em filmes como “Händler der vier Jahreszeiten” (“Comerciante das quatro estações do ano – 1971) e “Lili Marlene” (“Lili Marleen” – 1980), de Fassbinder, e “”Der amerikanische Freund” (“O amigo americano” – 1977), de Wim Wenders.

Entre 1970 e 2004, o cineasta suíço rodou 15 filmes, dentre eles três que são considerados pelos críticos como documentários. “Imitation of Life” (“Imitação da vida” – 1983), um perfil do diretor americano de cinema Douglas Sirk, o “Il Bacio di Tosca” (1984) sobre o asilo para cantores de ópera e “Das Geschriebene Gesicht” (“O rosto escrito” – 1995), sobre homens que atuam como mulheres em peças do teatro japonês Kabuki.

Lembranças e história

O primeiro filme dirigido por Schmid foi o “Heute Nacht oder nie” (“Hoje à noite ou nunca” – 1972), onde o tema principal era o conflito entre patrões e serviçais. Com o “La Paloma”, o cineasta suíço conseguiu em 1974 realizar uma obra-prima sobre o relacionamento mórbido entre um aristocrata e uma cantora de cabaré.

Depois vieram as películas “Schatten der Engel” (“Sombras do anjo” – 1976), baseado num roteiro escrito por Fassbinder, “Violanta” (1977), uma história de incesto baseada num livro do escritor C.F. Meyer e também “Hécate” (1982), um drama sobre paixão e ciúmes. No filme “Jenatsch” (1987), Schmid une presente com o passado ao falar sobre os motivos que levaram a morte de um herói da independência do cantão dos Grisões e, em “Zwischensaison” (“Entre as estações” – 1992), o diretor fala sobre a infância passada num hotel.

Trabalho a quatro mãos com Martin Stuter

A partir de 1984, Daniel Schmid encenou sete óperas na Filarmônica de Zurique e no Grande Teatro de Genebra, incluindo também “Guilherme Tell”, de Rossini, “Il Trovatore”, de Verdi, e “Beatrice di Tenda”, de Bellini.

Os trabalhos para o que seriam seus dois últimos filmes tiveram de ser interrompidos devido à doença. “Portovero” e “Julia disappears” (“Júlia desaparece”) foram congelados no início do ano. O roteiro deste último, assim como dos três grandes sucessos – “Jenatsch”, “Zwischensaison” e “Beresina” – foi realizado pelo escritor suíço Martin Suter.

swissinfo com agências

1970: Thut alles im Finstern (Do everything in the dark)
1972: Heute Nacht oder Nie (Tonight or Never)
1974: La Paloma
1976: Schatten der Engel (Shadow of Angels)
1977: Violanta
1981: Notre-Dame de la Croisette
1982: Hécate
1983: Imitation of Life (Douglas Sirk)
1984: Il Bacio di Tosca (Tosca’s Kiss)
1987 Jenatsch
1991: Les Amateurs
1992: Hors Saison/Zwischensaison (Off Season)
1995: The Written Face
1999: Beresina

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