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Cinema da Coréia do Sul vence em Friburgo

Cena de "Nakta(dul)", que levou a recompensa máxima. www.fiff.ch

Com o Grand Prix para "Nakta(dul)" - Camelo(s) - que leva também o prêmio de melhor cenário, a Coréia do Sul é a grande vencedora do Festival Internacional de Filmes de Friburgo. "Kotsom" do mesmo país recebeu menção especial e o prêmio Fipresci.

Reflexo do vigor do cinema da Ásia, várias obras do Continente foram recompensados no 16° Festival de Filmes de Friburgo, encerrado neste domingo, 17/3.

“Nakta(dul), de Park Kiyong, foi contemplado pelo júri internacional com o prêmio mais prestigioso, no valor de 30 mil francos – cerca de € 20 mil. Foi particularmente apreciado “o enfoque minimalista utilizado pelo realizador para exprimir o vazio da vida contemporânea”.

Fipresci

Outro filme sul-coreano, “Kotsom” – Ilhas das Flores – de Song Il-gon, recebeu uma menção especial do mesmo júri.

“Kotsom” foi também a obra preferida pelo júri Fipresci (Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica, presidido pelo jornalista brasileiro Carlos Brandão), que nela viu “um retrato sensível de três destinos humanos, numa escritura cinematográfica consumada e madura”. (O prêmio visa promover o cinema como arte e estimular novas tendências).

“Nakta(dul)” conta a primeira aventura extra-conjugal de um casal cansado da rotina da vida. “Kotsom” narra histórias dilacerantes de três mulheres, três destinos…

Escolha do público

A preferência do público é quase uma infelidade à onda avassaladora do cinema asiático. Preferiu “Sdeysaan (o prêmio do perdão), de Mansour Sora Wade, apresentado como uma realização Senegal/França, e “Una casa com vista al mar”, de Alberto Arvelo, da Venezuela.

“Ndeysaan” conta uma história de amor, ódio e perdão num vilarejo de pescadores em Senegal. E “Una casa…”, os sonhos de um camponês andino e de seu filho.

Já a escolha do Júri Ecumênico foi “Ge Ge”, de Yan Yan Mak, no sentido de privilegiar a “dimensão espiritual da vida” desse filme de Hong Kong, que narra a busca incerta empreendida por um jovem, em clima de poesia, respeito e ternura.

Em outro gênero, o prêmio do Júri da Imprensa Política achou que as melhores obras em concurso – porque escolheu duas – eram “After Shocks: the Rough Guide to Democracy” (depois do choque: o rude guia da democracia) de Sharma Rakesh, India, e “Zheng Zha” (luta), de Haolun Shu, China. A primeira é “um documentário notável sobre as vítimas do terremoto de Gujarat” e a segunda a luta de trabalhadores de Schenzen pelos seus direitos.

Brasil nada leva

Nessa escolha foi preterido o excelente documentário brasileiro “Barra 68”, de Vladimir de Carvalho (que conta a invasão da Universidade de Brasília pelos militares e suas conseqüências, quando a ditadura endureceu), em 1968 justamente.

Vale ainda mencionar que um outro filme asiático, predominantes no festival – dos 12 filmes que concorriam ao Grand Prix havia 8 da Ásia – recebeu o prêmio Dom Quixote, concedido pelo Júri da Federação Internacional de Cine-clubes. Trata-se de “Se Jie” (metamorfose). É uma história de um motorista de táxi e duas mulheres que sob forma de documentário “mostra a solidão e o isolamento de jovens no deserto dos arranha-céus” em Pequim.

América Latina

O cinema latino-americano, embora mais discreto, esteve também presente no Festival Internacional de Filmes de Friburgo. O filme argentino, “Solo por hoy” (Só por hoje) não deixou os espectadores indiferentes. Inclusive o Júri dos Jovens, que decidiu por “Ndeysaan”, concedeu uma menção especial à obra que mostra em Buenos Aires o cotidiano de 5 jovens que sonham com uma vida melhor. O olhar do cineasta, Ariel Rotter, é vigoroso, engraçado e realista.

A registrar ainda que o Festival realizou com sucesso uma retrospectiva importante, intitulada “Américas Negras”, destinada a mostrar o lugar dos afro-americanos na 7a. arte, no sentido de “se reapropriarem uma imagem digna”, como realçou a principal responsável pelo evento.

Nesse aspecto merece apontar a contribuição brasileira com o filme “Rio Zona Norte”(Nelson Pereira dos Santos, 1957) e “Xica da Silva” (Cacá Diegues, 1976). Ambos denunciam a condição do negro. E “Rio Zona Norte” tem o mérito adicional de prenunciar o “Cinema Novo”.

Não passou também despercebido um diferenciado panorama – intitulado “Sul, maneira de utilizar” – com projeção de mais de 20 filmes sobre problemas resultantes das migrações. Migrações que justamente estão abolindo fronteiras, nos fazendo de certa maneira “nos sentir parte do mesmo continente”, destacou uma das programadoras do festival.

O Festival de Friburgo projetou, de 10 a 17 de março, cerca de 100 obras da África, Ásia e Américas. É um evento que vem crescendo com o passar dos anos. Essa 16a. edição registrou participação de cerca de 25 mil pessoas, um aumento de cerca de 10%.

A próxima edição está prevista entre 16 a 23 de março de 2003.

J.Gabriel Barbosa

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