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Cinema do Sul em destaque em Friburgo

Cena do filme As Tartarugas Também Voam, Irã/Iraque (divulgação) Festival International do filme de Fribourg

O Festival Internacional de Filmes de Friburgo mantém sua fórmula de sucesso: mostrar o que o Sul tem de bom em produção cinematográfica.

O FIFF projeta 102 filmes de 6 a 13 de março. Onze em competição, inclusive 1 do Brasil: O Diabo a Quatro.

Já temos pelo menos os contornos do Festival Internacional de Filmes de Friburgo, com a apresentação, na terça 22, do programa desse evento, considerado um dos principais acontecimentos culturais da Suíça.

O FIFF será aberto, domingo à noite, dia 6, com o Le Grand Voyage (A grande viagem), de Ismaël Ferroukhi – uma produção franco-marroquina, tendo como tema uma peregrinação à Meca (que todo muçulmano deve fazer 1 vez na vida, se tiver condições físicas e econômicas). No filme, pai e filho se descobrem e se reconciliam, justamente nessa romaria (com licença da palavra).

Na semana que se segue serão apresentados dezenas de longas metragens, dos quais 11 concorrem ao principal prêmio o Regard d’Or (olhar de ouro), além de grande variedade documentários – com 13 disputando uma recompensa – e retrospectiva da produção suíça sobre a temática do Oriente Médio.

Variedade é um dos traços principais desse festival que o diretor do evento, Martial Knaebel caracteriza como o das “cinematografias emergentes”.

Um outro cinema

Note-se que o FIFF oferece a possibilidade de descobrir um outro cinema, aquele que está excluído dos grandes circuitos de distribuição e que, em princípio, não tem nada de hollywoodiano.

“O Festival começou como uma vitrina dos filmes do Sul mas suas ambições se alargaram com o passar do tempo. Como diz o presidente do FIFF, Jean-François Giovannini: “Agora queremos mostrar as vozes originais fora dos grandes circuitos comerciais… Tentamos mostrar filmes originais, sim, que apresentem pontos de vista pessoais, mudanças de sociedades e problemas atuais”.

O desafio dos organizadores do evento é “promover filmes de qualidade no sentido de contribuir para a diversidade cinematográfica e cultural na Suíça e na Europa”.

A seleção está voltada quase que exclusivamente para a produção da África, Ásia e América Latina. Mas não exclui filmes norte-americanos ou europeus que tratem de temáticas relacionadas com problemas dos países em desenvolvimento.

Em competição

A safra deste ano deve continuar na mesma linha de programação, sempre com a pretensão de “mostrar um instantâneo do mundo” na área do cinema, embora apenas contribua para uma compreensão parcial, no duplo sentido da palavra, diz o diretor artístico do evento, Martial Knaebel. Mas o público tem se deixado levar pela escolha de Knaebel e de seus colaboradores.

No que toca aos onze filmes em competição, eles são de onze diferentes países. Oito são primeiras obras. As temáticas variam consideravelmente. Exemplos são a emigração marroquina L’Enfant endormi (a criança adormedida), de Yasmine Kassari; a guerra civil na África em La Nuit de la Vérité (noite da verdade), de Fanta Regina Nacro; o drama da mulher judia face a patriarcalismo retrógrado, em Ve Lakachta Lecha Isha (casar-se), de Ronit e Shlomi Elkabetz; a pobreza no interior da China, em Yi zhi huà naeniu (a vaca de leite malhada), de Jing Yang; ou os contrastes sociais no Rio de Janeiro em O Diabo a Quatro, de Alice de Andrade.

Este último filme, em competição portanto, narra a história de “dois homens e um garoto que disputam o amor de uma mulher em Copacabana”. Trata-se de uma produção trinacional: Brasil, França, Portugal. (No site do Festival, ao lado, clique em Edition 2005 e depois em Programme, para ver dia, hora e local da projeção desta e outras películas).

Denúncias

Quanto aos documentários em competição, à primeira vista parece merecer maior destaque Pinochet y sus 3 Generales, de Jose Maria Berzosa abordando a questão dos desaparecidos e Le Malentendu colonial (o malentendido colonial), do camaronês Jean-Marie Teno, denunciando o papel desempenhado por missões evangélicas na colonização alemã na África.

Note-se ainda que uma das características do FIFF – além da exigência de as obras serem realizadas e/ou produzidas na África, Ásia e América Latina – é de projetar unicamente filmes inéditos na Suíça. O interessado deve, portanto, chegar com espírito aberto e ter fome de conhecimento de outras culturas, de outro modo de ver as coisas.

Quem chega com essa mentalidade tem um vasto campo a explorar.

Resta que o sucesso popular tem sido total. A ponto de o festival não conseguir atender à crescente demanda. A edição de 2004 atraiu quase 30 mil pessoas, ou seja número ligeiramente inferior ao dos habitantes da cidade de Friburgo.

Neste ano, o público poderá descobrir uma dimensão espiritual – no amplo sentido da palavra – mais acentuada, numa série de retrospectivas e panoramas incluindo dois conhecidos filmes brasileiros: Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, e Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade. E de que falaremos em tempo oportuno.

Uma novidade que não passará despercebida é uma seleção de filmes relacionados com uma temática de atualidade recorrente há meio século: o conflito israelo-palestino visto por cineastas suíços, inclusive por Jean-Luc Godard. Mas voltaremos ao assunto.

swissinfo, J.Gabriel Barbosa, em Friburgo

– O Festival Internacional do Filme de Frigourg é considerado uma das principais manifestações culturais da Suíça.

– Sua originalidade é mostrar filmes que geralmente estão fora do circuito comercial.

– Este ano serão exibidos 102 filmes de 6 a 13 de março.

– Onze estarão em competição, entre eles O Diabo a Quatro, de Alice de Andrade.

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