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Copa do Mundo aproxima a Suíça e o Brasil

Garotos com a camisa do Brasil batem bola na entrada de uma fazenda suíça. Keystone

Que os brasileiros gostam de futebol é quase uma redundância. Sua memória futebolística é aguçada.

Muitos sabem que o Brasil é o único país a participar de todas as copas desde 1930 e que a Suíça jogou em oito copas. Muitos ainda se lembram, por exemplo, de quem fez o primeiro gol no último jogo da copa de 1958.

Quando Weggis foi escolhido pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) como local de treinamento para a seleção brasileira, vários amigos brasileiros curiosos nos perguntaram, semanas antes da chegada da seleção, onde se encontrava esse lugarejo e se ele era perto da fronteira com a Alemanha.

Curiosidade e história

Weggis, apesar de ser um vilarejo, é bem conhecido na Suíça graças à canção composta por Johann Lüthi em 1832 “Vo Luzärn gäga Weggis zue”, uma melodia que faz parte da Música Popular Suíça.

Para os brasileiros, muitas informações sobre Weggis e a Suíça soam bastante bizarras. A começar pelo ano de fundação. Weggis é mencionado em documentos históricos pela primeira vez no ano de 825, bem antes da descoberta do Brasil. Em 1332 entrou na Confederação Helvética – designação original da Suíça – criada em 1291.

Outro diferencial é o tamanho do município de Weggis: apenas 12 km2 de terra e 13 km2 de direitos, na superfície do Lago dos Quatro Cantões. No Brasil há 50.000 fazendas que possuem área maior do que todo o município de Weggis.

Muito diferente

A população residente permanente chega atualmente a 3.900 pessoas, tendo decrescido 4% desde 2000. Um quarto dos habitantes permanentes é de nacionalidade estrangeira. A título de comparação: Dentre os 425 municípios do Estado da Bahia há apenas um que conta menos habitantes do que Weggis.

Essa população permanente (portanto sem os turistas) tem como principal língua um dialeto do alemão (o “alemão-suiço”). O segundo idioma mais falado não é o francês ou o italiano, ambas línguas oficiais suíças, mas o português, graças aos trabalhadores portugueses e brasileiros que trabalham principalmente nos 30 hotéis e restaurantes da cidade.

Cada ano mais de 800.000 turistas de 50 países visitam o lugar durante o dia e 200.000 pernoitam nos hotéis. Dois de cada três empregos são gerados pelo turismo. Na agropecuária trabalham 5% das pessoas economicamente ativas, nos setores de educação 11%, saúde 8%, indústria 8% e nos bancos 1%.

Viver do turismo

Só há uma empresa industrial na cidade. Ela é a líder mundial na produção de máquinas de fazer café (expresso). 97% da produção é exportada e comercializada através de 62 representações espalhadas pelo mundo.

O município consegue desenvolver atividades econômicas suficientes a fim de gerar pleno emprego para praticamente toda a população. A taxa de desemprego é de 1,8%. A oferta de educação pública é ampla e diversificada, inclusive com uma escola de música; 75% da população adulta tem o nível médio ou superior concluído. Na sua página da internet o município publica as vagas para a aprendizagem industrial e comercial referentes a 20 diferentes ocupações com três a quatro anos de duração.

No âmbito da cultura a oferta é imensa e diversificada. Já em 1904 foi fundada uma orquestra sinfônica. Em junho 2006, 112.000 pessoas assistiram aos concertos e shows de conjuntos brasileiros e suíços. Essas atividades são possíveis graças ao trabalho de 75 associações de classe e de moradores atuando no município de forma voluntária.

Com a chegada dos jornalistas brasileiros, muitos aspectos de Weggis e da Suíça, não somente os televisivos, começaram a ser mais conhecidos no Brasil.

Conhecer melhor

Desde já vale destacar que os estereótipos esdrúxulos aplicados costumeiramente aos dois países não foram mais propagados, como por exemplo, que a Suíça seria o país das vacas, do queijo furado e dos bancos.

Que o Brasil é o país do esporte (não somente do futebol) e da música, os suíços já sabiam há tempo, já que muitos brasileiros trabalham na Suíça nas áreas da música, inclusive clássica, e do esporte. A Música Popular Brasileira é uma das músicas de entretenimento de alto nível mais tocadas na Suíça.

Durante as duas semanas da permanência da seleção, os suíços aprenderam muita coisa, inclusive a fazer fila para comprar ingressos. Uma brasileira que mora na Suíça disse nunca ter visto isso naquele país e de repente via filas para compra de ingressos que pareciam “mais longas do que as do INSS”.

Mas o esforço valeu a pena porque possibilitou uma aproximação entre a torcida suíça e a seleção canarinho, gerando amizade entre dois povos bastante diferentes, um preponderantemente alegre, extrovertido e comunicativo e outro de comportamento aparentemente comedido, introvertido e pouco espontâneo.

Ambos lucraram

Passadas as duas semanas de aproximação, os resultados são positivos. O técnico Parreira concluiu que as condições foram perfeitas, com exceção da chuva. Vários jogadores sentiram o calor da torcida como bom preparo para a Copa. Além disso, a equipe ganhou simpatia não somente dos suíços, mas em nível internacional, pela difusão das imagens, ao contrário das equipes da Alemanha e da Holanda que também se prepararam na Suíça, mas escondidas e fechadas à torcida e à imprensa.

Finalmente também Weggis lucrou, não somente em termos econômicos e de publicidade internacional. O Secretário de Turismo do vilarejo apontou como resultado mais positivo o rejuvenescimento de Weggis e de sua imagem, após a passagem da seleção brasileira.

Paul Ammann, sociólogo e economista, e Safira Bezerra Ammann, socióloga e assistente social.

Fontes: IBGE (BR), OFS (CH), swissinfo.

825: primeiros registros históricos de Weggis
1332 entrou na Confederação Helvética, designação original da Suíça, criada em 1291.
3.900 habitantes
12 kms2: área do município de Weggis

Paul Ammann, sociólogo e economista, é natural de Davos, no cantão dos Grisões, leste da Suíça.

Foi chefe da Coordenação de Desenvolvimento de Recursos Humanos do CNPq, Brasil. Foi chefe de planejamento da formação profissional do Ministério do Trabalho, Brasil. Foi fundador e primeiro chefe da Assessoria de Planejamento do SENAI de Brasília.

Obras: “As teorias e a prática da formação profissional” editado pelo Ministério do Trabalho, Brasil. Co-autor, com Safira Bezerra Ammann, de Brasília: “Cidadania, Exclusão e Migração” (no prelo) pela Liber Livros, Brasília.

Safira Bezerra Ammann, socióloga e assistente social, é natural de Caicó-RN, Brasil.

Obras: “Ideologia do Desenvolvimento de Comunidade no Brasil”, Editora Cortez;
“Movimento Popular de Bairro: de Frente para o Estado em Busca do…”, Editora Cortez.

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