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44° Festival de Jazz de Montreux, a aventura continua

Cena de show durante o festival em Montreux. Lionel Flusin - Montreux Jazz Festival Foundation

Phil Collins na abertura, Katie Melua no encerramento… Entre os dois, Roxy Music, Billy Idol, Keith Jarrett, Vanessa Paradis, Simply Red, Quincy Jones e...a Francofonia, só para citar alguns dos nomes da vertiginosa lista apresentada na terça-feira. Um mergulho na "cozinha" da programação.

Montreux 2010… O grande retorno de Phil Collins (1.7) que, em estreia mundial, revelará o conteúdo do seu novo álbum (de cantor, pois suas mãos não são mais capazes de segurar as baquetas), dedicado aos grandes sucessos da gravadora americana Motown e do rythm & blues histórico.

Mas também Herbie Hancock interpretando as canções de John Lennon. E na mesma noite (16.7) Quincy Jones, que se apresentará com outras estrelas em um grupo denominado “Global Gumbo All-Stars”, constituído principalmente por músicos encontrados em Montreux, onde o produtor americano é considerado um frequentador assíduo.

Outro grande acontecimento típico do famoso festival: uma noite intitulada “A Francofonia festeja a África”, que terá Angélique Kidjo e vários outros artistas reunidos para homenagear a famosa cantora Miriam Makeba. Logo depois entra em cena Youssou N’Dour (9.7), o superastro da música africana originado do Senegal.

De resto, um catálogo de nomes impressionantes atuantes como a cada ano em horizontes musicais extremamente variados: do jazz (Brad Mehldau, Pat Metheny, Keith Jarrett) ao rock (Billy Idol, Gary Moore), passando pelo pop francês (Air, Vanessa Paradis, Emilie Simon, Charlotte Gainsbourg), pop suíço (Sophie Hunger, Solange la Frange), o folk jazzy (Norah Jones, Katie Melua), blues (Buddy Guy, Joe Bonamassa), folk (Mark Knopfler), o clássico gospel (Jessye Norman), o flamenco (Paco de Lucia), o hip-hop, reggae e até a música eletrônica.

Ambiente

Sol radiante no bairro de Caux, sobre as montanhas de Montreux, na terça-feira (28/04). Uma vista impressionante para o lago Léman e os Alpes franceses. Dessa vez, os organizadores investiram no intimismo para anunciar o programa do ano. É na casa do próprio Claude Nobs, o criador do festival, que tudo acontece.

Nobs não esconde aos jornalistas presentes os problemas atuais de saúde que enfrenta. Ele começa a conversa revelando sua intenção de delegar cada vez mais a organização geral do festival à sua equipe, porém mantendo a direção de alguns projetos especiais.

Uma maneira de se aposentar do festival? Não, assegura mais tarde à swissinfo, tornando mais precisa sua intenção. “O festival se tornou cada vez mais importante, os “Montreux Jazz Café” se desenvolvem…e tenho cada vez menos vontade de atuar diretamente nos negócios, contratos, dinheiro e orçamentos. Minha recompensa, após 44 anos, é de pode passar bons momentos aqui, bons momentos com os músicos e de não ter mais o tempo roubado em reuniões excessivamente cansativas.”

Uma passagem de bastão que o público constatará no momento em que Claude Nobs não aparecerá mais no palco, todas as noites, trajando camisetas surpreendentes, para anunciar as estrelas do salão Stravinsky: “Isso é demais. Agora é o músico Alex Bugnon, um rapaz originário de Caux e que vive em Nova Iorque, que irá se ocupar desse trabalho”, explica.

Guardar a “linha” sempre defendida por ele, mas delegando. Essa é uma solução razoável: “Isso evita de fazer uma mudança brusca e global”, ressalta.

De todas as maneiras, em 2010 o grande acontecimento é o show de Phil Collins. “Meu trabalho era conseguir convencê-lo, mas passando pelo seu empresário para administrar todas as suscetibilidades. É preciso dizer que nós nos conhecemos desde tempos imemoriais: o primeiro concerto de Phil Collins em Montreux foi, no início do seu grupo Brand X, realizado no Casino, ao redor da piscina!”

Caça está aberta

Já foi dito e repetido, o setor de shows vive há alguns anos uma inflação tremenda. E o ano passado não contradisse essa situação. “Foi uma verdadeira batalha”, constata Lori Immi, programadora do festival junto a Claude Nobs. “Em quatorze anos nesse trabalho, nunca vi um ano parecido. Com a multiplicação de festivais, a concorrência se tornou feroz: chegamos a uma situação onde é o dinheiro que tudo determina. E a inflação dos cachês leva, mesmo se a gente não quer, a uma situação de encarecimento.”

Uma evolução que afeta todos os estratos de artistas? “Sim, dos menores aos mais famosos. Em dez anos, os cachês dobraram, no mínimo, sem que o prestígio do artista tivesse dobrado ao mesmo tempo. E no final, é o público que paga”, responde Lori Immi.

Frente a essa situação, a política de preços dos ingressos em Montreux se tornou bem clara: lugares para sentar extremamente caras (mas são as primeiras a serem vendidas), com preços que variam entre 220 e 280 francos (380 francos para Phil Collins!) e entre 65 e 95 francos para os lugares em pé. Sem esquecer uma vasta oferta de concertos gratuitos nas proximidades das salas do festival.

O mundo dos concertos enlouqueceu, mas graças à internet e o desaparecimento de muitas gravadoras, conhece um verdadeiro renascimento. Como é possível de se orientar na expansão em curso? “É muito excitante! Não poderia voltar atrás! O trabalho do programador não é apenas de escutar o que as grandes gravadoras querem nos mostrar, mas também de pesquisar, de ver tudo o que está acontecendo. Esse trabalho exige muita energia, mas conseguimos depois construir pontes e isso leva verdadeiramente a uma visão global da música”. E quando Lori Immi fala isso, seus olhos brilham.

Apostar na confiança

O ano de 2010 marca um passo adicional na institucionalização do festival. A francofonia estará presente nele, foi dito, mas o espírito do evento estará presente durante o Encontro de Montreux através de um concerto (22 de outubro) e um Montreux Jazz Café criado para a ocasião. Como também um Montreux Jazz Café funciona igualmente no pavilhão suíço da exposição universal de Xangai, a pedido das autoridades helvéticas.

O que diria o jovem “Funky Claude” há quarenta anos, se ele tivesse vislumbrado essa dimensão “oficial” do festival? “Nunca pensei que chegaríamos nesse ponto, para Montreux, de ter tanta notoriedade”, responde Claude Nobs. Antes de dar uma espécie de pequena lição de vida que muitos outros executivos de empresas poderiam até se inspirar…

“Quando eu lancei o festival, eu trabalhava na Secretaria de Turismo sob o comando de Raymond Jaussi, que havia aceitado a ideia. Mesmo se a utilização do jazz para fazer a promoção de Montreux não estar tão claro naquela época”, lembra-se Nobs.

“Eu o recebi recentemente em casa. Ele tem mais de noventa anos e guardou uma vitalidade incrível. Então eu lhe perguntei por que ele havia aceitado a minha contratação e deixar que eu fizesse o que queria! Ele tinha uma filosofia bem militar, muito organizada e eu chegava com umas coisas totalmente malucas. A ideia de trazer o Rolling Stones ou o Pink Floyd, que não tinha nada a ver com a política turística de Montreux… Ele me respondeu assim: – ‘Para mim, o segredo é deixar as pessoas com que trabalhamos fazer, deixá-los ser criativos, desenvolver um pouco a sua loucura”, revela Nobs.

Antes de traçar um paralelo com sua própria situação: “Tento fazer a mesma coisa com a minha equipe, por exemplo, quanto Lori Immi me dá a sua programação, com os nomes que eu não conhecia, Tento aplicar essa mesma filosofia de liberdade conosco”…Para que a aventura continue.

Bernard Léchot, swissinfo.ch
(Adaptação: Alexander Thoele)

Brasil. O tradicional cartaz anual do festival foi realizado em 2010 pelo artista brasileiro Romero Britto, cujas telas combinam o cubismo, a arte pop e

Não é a primeira vez. Romero Britto já havia realizado o cartaz da 33° edição do festival, assim como o logotipo do braço musical do festival, a Montreux Sounds.

Laços. Romero Britto vivem em Miami (EUA) e está engajado em diversas organizações caritativas e fundações culturais, dentre as quais a Fundação Montreux Jazz 2.

O 44° Festival de Jazz de Montreux se realiza de 1° a 17 de julho.

O evento é realizado principalmente em duas grandes salas de concertos, o Auditorium Stravinsky e o Miles Davis Hall. Além disso também oferece shows gratuitos ao ar livre, workshops com músicos, barracas de comidas e uma feira de artesanato.

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