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A suíça que brilhou na passarela do samba

Retrato de Marie Louise Nery na casa do seu filho em Morges, Suíça. swissinfo.ch

Quarta-feira de cinzas. Ao invés de porta-estandartes e passistas, enfermeiros tomam conta do Sambódromo. Pandemia é o tema do Carnaval de 2021. Hora de lembrar da carnavalesca suíça Marie Louise Nery, falecidaLink externo em maio de 2020, que ajudou grandes escolas de samba no Rio de Janeiro a conquistarem o título. 

Este conteúdo foi publicado em 17. fevereiro 2021 - 16:00

Como já dizia Jorge Ben Jor, "fevereiro, em fevereiro, tem CarnavalLink externo". Porém no Brasil os festejos foram cancelados em quase todas as capitais. Lugares míticos como o Sambódromo, no Rio de Janeiro, ou o Anhembi Sambadrome, em São Paulo, são utilizados hoje como locais de vacinação, tão esperada por toda a população. Na Suíça, carnavalescos ferrenhos chegaram até a desfilar no cantão de Schwyz na segunda-feira (15.02), atraindo milhares de curiososLink externo às ruas do vilarejo Einsiedeln, apesar da proibição policial.

Esboços de fantasias feitas por Marie Louise Nery para a porta-bandeira e o mestre-sala da escola de samba GRES Portela em 1960. No fundo da imagem, instruções para as costureiras e cenógrafos. (cortesia: arquivo pessoal de Frederico Nery) swissinfo.ch

Poucos foliões sabem que, em 11 de maio de 2020, falecia no vilarejo de Morges, às margens do lago de Genebra, a figurinista e cenógrafa suíça Marie Louise Nery. Ela tinha 95 anos e foi considerada a primeira mulher carnavalesca do Rio de Janeiro. Sua história, relatada pela swissinfo.ch, é de uma estrangeira que chegou com pouco mais de trinta anos no Brasil e, como poucos imigrantes, influenciou a cultura brasileira, especialmente no teatro, literatura, artes, mas também no carnaval. 

Quando Marie desembarcou no Rio de Janeiro em 1957, o presidente Juscelino Kubischek já governava o Brasil há um ano. Sob o lema "50 anos em 5", o país viveu uma efervescência econômica, cultural e relativa estabilidade política que entrou para a história como "Os Anos Dourados". Em 1958, a música popular brasileira chegou ao exterior trazendo consigo a Bossa Nova, marcada por sucessos como "Chega de SaudadeLink externo", de Vinicius de Moraes e Tom Jobim, e "Bim Bom", de João Gilberto.

Nessa época os desfiles de carnaval ainda se realizavam no centro do Rio de Janeiro. A festa não passou despercebida por Marie Louise Nery. Em 1958, recebeu o convite para participar da comissão julgadora dos desfiles. Um ano depois, o carnavalesco Nélson de Andrade, presidente da GRES Acadêmicos do Salgueiro, convidou a suíça e seu marido, o cenógrafo e artista plástico Dirceu Nery, a desenhar os figurinos da escola. Foi uma revolução, como conta o livro "Escolas de Samba em Desfile"Link externo, publicado em 1969 pelos autores Hiram Araújo e Amaury Jório.

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"...Coube aos Acadêmicos do Salgueiro, na gestão de Nelson de Andrade, revolucionar a estrutura das Escolas de Samba ao introduzir inovações como: coreografia contada (outros dizem marcada), dinamização na concepção dos enredos, figurinos mais livres e modernos, teatralização no todo da escola pela criação de espetaculares “shows” ambulantes… Todas estas alterações – que viriam dar nova vida às Escolas de Samba – foram frutos de um trabalho de artistas de cultura erudita que encontraram nas Escolas de Samba um campo propício para o desenvolvimento de suas concepções de arte. Estes artistas foram: Fernando Pamplona, Arlindo Rodrigues, Nilton Sá e o casal Nery. A introdução destes artistas se deve a Nelson Andrade, um homem sem dúvida nenhuma de grande visão e que sentiu que o único caminho do SALGUEIRO – uma Escola pobre – seria renovar..." (ARAÉJO e JÉRIOLink externo, 1969, p. 122)

O poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade era um amigo da família Nery. Um cartão enviado em 1963. (cortesia: Frederico Nery). swissinfo.ch

No carnaval de 1959, Marie Louise criou as fantasias do enredo da Salgueiro que lembrava a obra "Viagens pitorescas e históricas", que o artista francês Debret escreveu durante sua viagem ao Brasil no século 19, acrescida de pinturas e desenhos. A Salgueiro ganhou então o segundo lugar. A novidade foram os elementos utilizados: "A beleza de elementos como enormes cestos de palha cheio de aves, cadeirinhas, guarda-sóis e outros que dançavam e pulavam, ao mesmo ritmo e de forma harmônica, maravilhou os olhos e engradeceu esse espetáculo", escreve a pesquisadora Leila Bastos SetteLink externo, bolsista da CNPq.

Uma das últimas fotos: Marie Louise Nery depois de se banhar no lago de Genebra, em Morges, em 2019. (cortesia: Frederico Nery). swissinfo.ch

Em 1960, a suíça realizou o carnaval da Portela, desenhando fantasias para o enredo intitulado "Festa d'o Casamento de D. Pedro", levando a escola a conquistar o título. A participação de Marie Louise no carnaval durou até 1968, com criações alternadas para Salgueiro e Portela.

Hoje, Marie Louise Nery está enterrada no Cemitério Municipal de MorgesLink externo, com vista para o lago de Genebra.

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