Perspectivas suíças em 10 idiomas

Na trilha do sucesso mundial, a volta para casa é sempre a Suíça

Show no Circo Voador, no Rio de Janeiro. Consulado/Swissando

Durante um dos shows de Bastian Baker em São Paulo, uma senhora visivelmente encantada com ele arriscando frases em português gritou um "Fofo" do meio da plateia. "Quê? Fô, quê", perguntou Bastian, brincando com ela e pedindo que se explicasse melhor no camarim após a apresentação. Foi com este clima de muita interação com fãs de todas as idades que o artista suíço de 23 anos conquistou o público brasileiro. Ele tocou sempre com casa cheia no Brasil e deu uma entrevista exclusiva para swissinfo.ch.

Bastou isso para risos e, claro, vários outros gritos de “fofos” ecoarem no Bourbon Street Music Club, reconhecido bar musical de São Paulo pela qualidade artística das suas atrações. Foi com este clima de muita proximidade e interação com fãs de todas as idades que o artista suíço de 23 anos conquistou o público brasileiro pelas cidades pelas quais passou.

Pela primeira vez na América do Sul, BastianLink externo mal tinha chegado do Japão quando teve de encarar a maratona de apresentações no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, Curitiba e Brasília, antes de seguir para Argentina e Chile. Embora essa turnê tenha sido inserida como abertura dos shows da cantora francesa, Isabelle Geffroy, a ZAZ, marcando a Semana da Francofonia no Brasil, o rastro de empatia e carisma deixado por Bastian demonstra que ele está pronto para comandar os palcos por aqui. E não deve demorar muito. A previsão é de que ele retorne logo no início do segundo semestre.

Exemplo disso foi sua performance no Circo Voador, um dos principais espaços para shows no Rio de Janeiro. Entre canções, como as do seu álbum de estreia “Tomorrow May Not Be Better”, ele contagiou a todos, fazendo com que o acompanhassem assim que pisou no palco. Na entrevista exclusiva para swissinfo.ch, Bastian conta um pouco sobre suas impressões do Brasil; sua trajetória pelo reconhecimento do que para ele, mais do que sucesso, é trabalho; e da sua consciência de ir na direção de uma carreira global, embora sempre considere a Suíça o seu caminho de volta.

 swissinfo.ch: Você tem arriscado algumas frases em português em entrevistas e nos shows. Está estudando?

Bastian Baker: Eu não falo português, mas sempre tento, onde quer que eu esteja, aprender a língua local e me conectar com as pessoas. Não há nada pior para um artista do que subir no palco e não conhecer a cultura, o perfil e a língua do seu público.

swissinfo.ch: Esse interesse parece ser natural dos suíços, uma vez que vocês têm quatro línguas oficiais, não?

BB: Sim, é uma característica suíça. Cresci com minha mãe falando francês, meu pai alemão e aprendi italiano e espanhol na escola. Quando fui ao Japão, procurei aprender como dizer um “Oi” ou pedir algo como “Uma cerveja, por favor” (diz ele, falando em português). Então, aqui eu posso dizer: “Eu sou Bastian Baker, um chocolate suíço, venha pegar um pedaço!” (risos)

swissinfo.ch: Depois de se apresentar no Rio de Janeiro, Porto Alegre e agora em São Paulo, tendo ainda Curitiba, Belo Horizonte e Brasília pela frente quais suas impressões sobre essas cidades?

BB: Estou impressionado com o Brasil, embora seja difícil detalhar, porque fico muito pouco tempo em cada lugar. Mas sou muito curioso. Gosto de estar com as pessoas nativas que me permitem ver além do olhar de um turista. Os meus amigos na Suíça repetiam que o Brasil é demais. Outras vezes, quando me disseram isso sobre outros locais, a realidade não foi bem assim. Mas sobre o Brasil tive de concordar. As pessoas são muito receptivas, gostei da comida, fiquei surpreso ao ver São Paulo do alto. Almocei no Terraço Itália (localizado no Edifício Itália, um dos pontos mais altos da cidade) e é realmente de impressionar. No Rio, tocar no Circo Voador foi um dos shows que mais gostei de ter feito. Embora estivesse muito cansado, ainda sob efeito do fuso horário por conta da viagem ao Japão, bastou eu subir no palco para tudo mudar. Tive uma recepção muito calorosa. Foi incrível!

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swissinfo.ch: Você teve uma recepção igualmente calorosa pelas crianças da comunidade do Morro do Borel, na Tijuca, que parecem ter te adorado.

BB: Não sei se elas me adoraram, mas eu realmente amei tê-las conhecido. Lindas garotinhas, garotos bacanas… Eu adoro estar com crianças. No ano passado, estive próximo das fronteiras da Síria e da Jordânia. Foi muito importante estar com as crianças desses locais. Quando eu tinha uns 17 anos, minha mãe me perguntou o que eu queria fazer da vida. Respondi que minha ideia era apenas poder alegrar às pessoas. 

swissinfo.ch: Em uma lista de melhor e pior de três, é possível dizer o mais gostou e do que não gostou no País?

BB: Certamente a vista de São Paulo eu gostei. Adoro ter uma visão dos locais onde vou do alto, pois normalmente é dali que você sente a vibração da cidade. Estar no alto de São Paulo foi realmente muito intenso. O segundo lugar é meio clichê, mas realmente fiquei encantado pelas pessoas no Brasil, são, sem dúvida, fantásticas. E fazer shows no Brasil é demais! As pessoas interagem, acompanham muito, se emocionam. É incrível!

swissinfo.ch: E do que não gostou?

BB: De não ter feito sol quando estive no Rio. Preciso voltar. Também não gostei da Lapa no primeiro dia que estive por lá (bairro boêmio do Rio). Eu gosto de festa e de beber, mas achei que estava um pouco demais. Já no segundo dia, fui para uma festa realmente bacana e foi muito bom. Agora no topo da minha lista do que realmente não gostei está o trânsito. Horrível! Me deu a sensação de estar perdendo meu tempo.

swissinfo.ch: Você disse que seus amigos falavam muito do Brasil, qual era a sua expectativa?

BB: Eu procuro sempre não ter muitas expectativas, até para não me decepcionar. É um mind set. Mas o que posso dizer hoje é que quanto mais se conhece o Brasil, mais se vai gostar. Venho de uma cultura europeia, que é muito diferente daqui e, é claro, tem muitas diferenças. Mas é preciso conhecê-las. É preciso mais tempo para ter uma ideia clara do país. É bem verdade que estou aqui em boas condições, mas até agora tenho gostado muito do Brasil. É muito grande, as diferenças são muitas, até mesmo na maneira de falar. Quando estava em Porto Alegre eu aprendi a dizer “Uma cerveja, por favor”; já em São Paulo se diz: “Quem aí está a fim de tomar uma breja?”. Tá bom?

swissinfo.ch: Sim, tá! (risos)

BB: Isso é o que gosto nas pessoas, a língua, poder me comunicar com elas. Mesmo agora nessa viagem ao Japão, pude trocar algumas palavras com as pessoas, conversar ainda que sabendo poucas palavras. Eu sou do tipo que em uma festa se tiver lá a mesa de europeus conversando, eu fico na dos japoneses.

swissinfo.ch: Por falar em festa, é verdade que sua carreira começou após uma apresentação na festa de um amigo?

BB: Na verdade, não foi exatamente quando eu comecei, mas quando eu tive a chance de ser descoberto. Comecei a cantar e tocar muito antes. Minha mãe conta que foi quando eu nasci. Dizia que eu cantava 24 horas por dia desde uns 3 ou 4 anos de idade. Com 5 eu tocava no restaurante do meu pai, aos 10 eu fazia parte de um coral, com 12 eu tinha uma banda que tocava em festas de casamento… 

swissinfo.ch: Seus pais são músicos?

BB: Não, mas são apaixonados por música, sempre ouviram muita música em casa. Certamente isso me influenciou, apesar de antes de ser cantor eu ter sido um jogador de hóquei no gelo.

swissinfo.ch: Você?

BB: Sim, sou um atleta, embora possa não parecer mais (risos). Eu treinava muito, 6 vezes por semana e jogava três vezes por semana. Meu pai e meu avô também. Coisa de família. É um esporte incrível.

swissinfo.ch: E sua mãe?

BB: Ela era jogadora de vôlei e depois se tornou professora. Mas sempre foram apaixonados por música.

swissinfo.ch: E o resto da família?

BB: Tenho duas irmãs. Uma mora nos Estados Unidos, onde joga tênis. A outra, mais nova, já está tocando em bares.

swissinfo.ch: Você já está familiarizado com a música brasileira, há algum cantor ou cantora que goste?

BB: Não. Eu ouço o rádio e adoro, mas não consigo saber quem são. Ouvi um que gostei muito, algo com Jor.

swissinfo.ch: Jorge Ben Jor?

BB: Pode ser. É um cantor mais antigo. Mas, enfim, adoro música, ouço tudo, não tenho limites musicais.

swissinfo.ch: Você também parece não ter limites onde ir, mas sempre volta à Suíça, não?

BB: Em um show em Klewenalp, (perto de Lucerna), meu empresário me perguntou (e ele já sabia a resposta) se eu tivesse de recriar o mundo, o que eu faria? Respondi: “Isso!”. Realmente eu recriaria a Suíça, suas montanhas, lagos, o verde, as casas do campo… Eu tenho total consciência de que vivo em um dos locais mais incríveis do planeta. Viajo muito, mas é para Suíça que eu sempre volto.

swissinfo.ch: E como lida com a expansão da sua carreira internacional, seu trabalho conquistando cada vez mais pessoas?

BB: A palavra é justamente essa: trabalho. Nós temos uma estrutura independente, trabalhamos duro para apresentar cada música, ir a cada rádio…

swissinfo.ch: Você não tem problemas com o modelo do show business, formatado dentro de um padrão tão invasivo para o artista, ainda mais por vir de um país tão mais low profile nesse sentido?

BB: O modelo americano funciona bem nos Estados Unidos. Claro que influencia o mundo inteiro, mas cada país tem sua capacidade e seu próprio jeito de comunicar. Isso é o que aprendemos por sermos independentes. Podemos entender o negócio de qualquer lugar e fazer do jeito que achamos certo. Eu acredito que o próprio artista construa sua imagem. Não vejo como nada demais. Cada um decide como se deixa levar. Também não considero o estilo da Suíça low profile. Eu diria que é um posicionamento mais racional, fazer o que tem de ser feito e fazer tudo a 100%. O melhor exemplo disso são os relógios suíços, que não são nada low profile, estão em todo lugar e com os melhores destaques. Talvez se tenha essa imagem porque quando obtemos sucesso com algo não saímos exibindo. Sabemos que não somos mais do que apenas seres humanos. Gostamos de ter vidas normais, ter a liberdade de poder andar nas ruas, ir a um restaurante sem problemas. Sem arrogância, as pessoas na Suíça conhecem meu rosto, mas ainda assim eu tenho uma vida normal. Isso é a Suíça.

swissinfo.ch: E as pressões desse mercado? Vemos muitos artistas que chegam a fazer loucuras até mesmo físicas sob a desculpa de precisar atender ao show business.

BB: Essa é a questão, as promessas do show business. Sempre prometem algo se você mudar. O sucesso vem se… No rádio dizem: “Nós gostamos da música, mas tem de mudar a mixagem”. Mudamos a mixagem e eles não tocam do mesmo jeito. No final, as coisas funcionam porque funcionam, não porque mudou isso ou aquilo.

swissinfo.ch: Você tem público de todas as idades, mas os jovens parecem se identificar muito com você. Você percebe muita diferença entre os jovens no Brasil e na Suíça?

BB: Eu não poderia dizer nada sobre a rotina no Brasil antes de passar aqui alguns meses, de morar aqui por um tempo. Passei a maior parte do tempo aqui em festas. O que eu poderia dizer é que os caras aqui são muito “easygoing” com as garotas (risos). Talvez, nós sejamos um pouco mais atenciosos, gostamos de conversar um pouco mais, conhecer um pouco mais… Aqui é tudo muito rápido.

swissinfo.ch: Em uma palavra o que você diria para o seu público no Brasil?

BB: Posso dizer em português?

swissinfo.ch: Certamente.

BB: Brasil, eu te amo! 

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