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Blick inventa jornalismo do futuro

Visão do novo "newsroom" do grupo Blick. swissinfo.ch

A editora Ringier, o maior grupo de comunicação privado da Suíça e detentora de títulos populares como os jornais Blick, funde suas redações em uma super-redação denominada "newsroom".

O plano iniciado em 7 de março é resposta à crise das mídias tradicionais e também à revolução tecnológica. swissinfo esteve por lá.

As empresas de mídia estão sob pressão. Enquanto o número de assinantes e as vendas em banca dos títulos mais tradicionais da Suíça estagnam há anos, somente os jornais gratuitos crescem. A realidade é que o leitor mudou de rumo, a maioria em direção à internet. “O mundo da mídia muda com uma velocidade avassaladora. As pessoas consomem informação e se distraem de uma forma completamente diferente hoje do que o faziam há três anos”, afirma Marc Walder, chefe da Ringier.

Para reforçar suas palavras, o executivo apresenta aos jornalistas presentes na coletiva de imprensa o vídeo do que, em sua opinião, representa o futuro: uma apresentação da revista esportiva americana “Sport Illustrated” funcionando dentro de um iPad, as futuras pranchetas eletrônicas do fabricante Apple e que mais lembram iPhones superdimensionados. “A mobilidade é o segredo. Precisamos colocar nossas histórias nos canais corretos, vinte e quatro horas por dia”, completa. E para reforçar sua palavra, ele mostra gráficos que revelam como os jornais do grupo Ringier perderam gradualmente leitores nos últimos anos.

Assim fica claro entender que a editora suíça encontrava-se em um grande dilema. Ela anunciou então um grande plano de reestruturação e deu-lhe o nome de “newsroom”. Por trás desse enigmático nome, atualmente em voga na mídia anglo-saxã, está uma nova super-redação que reúne os quatro principais títulos da editora – os jornais Blick, Blick am Abend (edição vespertina), Sonntags-Blick (edição dominical) e o portal de informações Blick.ch, o mais popular do país na área de notícias – em um único espaço.

Jornal do futuro

Impulsionada pela crise, a ideia surgiu no verão de 2007. A questão era descobrir como produzir jornal no futuro. Para encontrar a resposta, a editora enviou seus representantes a várias outras redações já integradas no formato de “newsroom” em algumas capitais europeias. Dentre eles, o Daily Telegraph (Londres) ou o jornal dinamarquês Nordjyske Stiftstidende, onde jornalistas já trabalham de forma coordenada, produzindo ao mesmo tempo informações para o site, jornal, televisão e rádio.

As obras no prédio da Ringier, localizado em um bloco atrás da Ópera de Zurique, começaram em julho de 2009. Um ano depois, as novas instalações estavam prontas: por trás de grandes janelas de vidro, uma redação com 2.500 metros quadrados de área, 250 postos de trabalho, sem muros de separação ou salas individuais, equipadas com modernos computadores e painéis eletrônicos. Se não fosse o moderno estúdio de televisão, integrado à redação, o visitante incauto até poderia se achar dentro de um grande escritório de banco americano.

Início do projeto

No dia 7 de março de 2010, o Blick deu a largada inicial para o seu projeto de newsroom. Desde então, 200 jornalistas, fotógrafos, técnicos e designers, divididos em sete diferentes editorias – news, política, economia, esportes, people e lazer, lifestyle e a redação de imagem – produzem ao mesmo tempo as 21 mil páginas anuais dos quatro títulos.

Concretamente, isso significa que um redator comum pode preparar sua reportagem de fundo para a edição dominical, mais pesada. Ao mesmo tempo, ele escreve reportagens ou colunas para as edições diárias do Blick. E parte da sua produção vai para internet. Sendo que os meios eletrônicos têm privilégio para o que é atual. “Notícias quentes são colocadas diretamente no site, sempre cumprindo o lema ‘online first'”, explica Hannes Britschgi, redator-chefe do Sonntags-Blick.

A divisão de tarefas também se tornou mais fluida. Britschgi revela que os jornalistas do Blick também estão sendo incentivados a não se limitar mais só à escrita, mas também utilizar câmaras fotográficas ou de TV, caso haja uma ocasião.

Para exemplificar, Edi Estermann, chefe do projeto “newsroom Ringier”, aponta uma redatora da editoria “people” (sociedade), que no momento da coletiva entrevistava no estúdio de TV a modelo suíça Xenia Tchoumitcheva. “Normalmente essa jornalista só escreve, mas agora está fazendo uma nova experiência. Além de fazer a matéria, ela também exibe a entrevista ao vivo no site do Blick.ch. Isso mostra como esses dois canais saem ganhando”, conta com orgulho.

O “sismógrafo” das notícias

As denominações em inglês dadas aos diferentes espaços na nova redação do grupo Blick dão o tom da nova forma de fazer jornalismo. “Decision place” é o nome do posto de comando, um salão com uma grande mesa em forma de meio círculo, onde sentam os redatores-chefes dos quatro títulos e Marc Walder, como editor responsável. Os chefes das editorias e outros responsáveis se revezam para ocupar as cadeiras frente às duas mesas, dispostas paralelamente uma a outra frente à mesa em meio círculo.

No centro delas, uma grande mesa oval para as reuniões de pauta, sempre organizadas as 8 e 10 da manhã e às duas da tarde. Frente a eles, um telão gigantesco, cuja principal função é exibir em tempo real estatísticas do site – um sistema chamado de “sismógrafo” – além de um sistema de edição que mostra quais matérias estão sendo preparadas, televisão e também sites da concorrência.

Nos espaços laterais ficam os jornalistas, também chamado “content place”. Os ilustradores e fotógrafos compartilham o “making place”. E quando jornalistas, incluindo os redatores-chefes, precisam de tranquilidade nesse ambiente frenético para fazer uma entrevista ou escrever editorais, eles podem ir ao “lounge”, uma sala em forma de 8 decorada com sofás e mesas e dividido do resto da redação por paredes de acrílico.

25 demissões

Apesar da uniformidade do local, Marc Walder faz questão de dizer que os quatro títulos do Blick irão manter suas próprias identidades. Ele lembra que sempre ouve a frustração de muitos jornalistas com a falta de espaço no jornal para colocar suas boas histórias. “Eles costumavam perguntar se não seria possível escrever também para outros títulos da casa”, diz. Hannes Britschgi lhe ajuda e lembra que a redação de esporte já trabalha há vinte anos para o Blick e o Sonntags-Blick ao mesmo tempo, sendo que há pouco integrou também o Blick am Abend. “Eles são a prova de que o conceito do newsroom pode funcionar”, reforça o redator-chefe.

A insistência explica-se pela insegurança que ainda paira no ar. Mesmo os responsáveis confirmam que pequenas panes ocorreram desde que o projeto foi iniciado em 7 de março. O início coroou também um grande período de nervosismo entre os funcionários da casa. Em setembro de 2009 eles foram obrigados a fazer cursos para entrar no contexto do newsroom. Dois meses depois, foi anunciado que os chefes das editorias precisariam mais uma vez se candidatar aos seus cargos e concorrer até com profissionais externos.

No total, o projeto teria custado 15 milhões de francos, mas algumas fontes falam de 20 milhões. A nova eficácia também teria o seu preço: 25 pessoas foram demitidas, dos quais aproximadamente a metade de jornalistas. Para os sindicatos, newsroom é apenas um plano de corte de despesas. Já para Edi Estermann, chefe do projeto, coloca as preocupações de lado. “O trabalho para os jornalistas se tornou mais interessante, mais diversificado. Agora eles têm mais possibilidades. Minha impressão é de que a reação dos meus colegas é muito positiva.”

Alexander Thoele, swissinfo.ch

Ringier é maior empresa suíça privada no setor de mídia. Ela emprega pouco mais de 8 mil funcionários e atua em 10 países, onde publica revistas, jornais e plataformas multimídia, além de produzir programas de TV e rádio.

Na Suíça o grupo emprega 3.500 funcionários.

Em 2008, seu faturamento foi de 1,536 bilhões de francos suíços, dos quais 938,7 milhões (61%) na Suíça e 526,7 milhões (34%) na Europa central e oriental e 70,1 milhões de francos (5%) na Ásia.

A empresa foi fundada em 1833 e é dirigida pela quinta geração de uma mesma família.

Seus títulos mais conhecidos são os jornais Blick, Sonntagsblick, Blick am Abend, Blick.ch, a revista Schweizer Illustrierte (na Suíça de expressão alemã), e as revistas L’Hebdo e L’illustré (na Suíça de expressão francesa). O grupo também tem rádios: Radio Energy Zürich e Radio BE1, dentre outros.

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