The Swiss voice in the world since 1935

Deep Purple tem uma velha história com Montreux

Ian Gillan e o guitarista Steve Morse, que substituiu o legendário Ritchie Blackmore. Keystone

O 40ème Montreux Jazz Festival terminou este ano com o legendário Deep Purple. Entrevista com Ian Gillan, cantor 'histórico' do grupo.

Deep Purple sãu músicos virtuosos frequëntemente catalogados apenas como
hard rock
, por causa sobretudo de “Smoke on the Water”, sucesso planetário escrito em Montreux, em 1971.

Deep Purple botou fogo no Auditórium Stravinsky, na conclusão da edição que marcou o 40° aniversário do Festival de Montreux.

Deep Purple, que teve sucessos memoráveis (de ‘Pictures of Home’ a ‘Black Night’ passando por ‘Space Truckin’ monumental, ‘Hush’ e o sempre aguardado ‘Smoke on the Water’) também novidades ruidosas (‘Rapture of the Deep’, ‘Wrong Man’, ‘Kiss Tomorrow Goodbye’).

Tudo com um volume que desafia qualquer concorrência e uma prazer de tocar permanente, sentido pelo público feliz estar lá. Deep Purple no palco continua tendo um impacto inigualável.

Swissinfo falou com cantou Ian Gillan por telefone, um pouco antes do show em Montreux.

swissinfo: Este ano só dá Deep Purple em Montreux! Vocês foram o tema do cartaz da 40a edição (criado pelo artista inglês Julian Opie) e encerram o Festival ,algo geral reservado ao gigantes do jazz…

Ian Gillan: É incrível. Desde o início, os laços entre a carreira de Deep Purple, Montreux e Claude Nobs são realmente uma bela história. Quando éramos jovens, na Inglaterra, tocávamos uma vez por semana como “residentes” num pequeno clube em que conhecíamos todo mundo. Hoje, tocar em Montreux é mais ou menos a mesma coisa. E nenhum festival é comparável a Montreux.

Muita gente, nesse meio, tem uma má reputação. Gente que só pensa em termos de lucro e de carreira. Mas também tem os que amam a música e, mesmo sem ser músico, trabalham com ela. Claude Nobs é assim. Ele faz parte dos apaixonados que assumem grandes riscos colocando na mesa seu nome, sua reputação e seu dinheiro.

swissinfo: No início dos anos 70, que representava Montreux para um roqueiro inglês?

I.G.: ” roqueiro inglês” me desumaniza um pouco, não? Somos seres humanos e músicos. Tocamos rock no palco mas não as 24 horas do dia. Eu sou razoavelmente inteligente, gosto de ler, escrever, conversar com gente interessante. Portanto, fora do palco, acho que não sou um roqueiro.

Gosto de viajar, encontrar outras culturas. O interessante é que, naquela época eu era muito jovem e todas essas experiências ficaram muito vivas em meu espírito.

swissinfo: O último disco em estúdio, ‘Rapture of the Deep’, tem uma capa muito elegante, poética, oposta aos clichês do hard rock. Vocês estão cansados dessa imagem?

I.G.: Quando você é jovem, tem sua cor predileta, seu animal predileto, seu troço predileto … O mundo é branco ou preto, você tem resposta pra tudo, a gente vê o mundo de maneira muito rígida. Ao avançar na vida, desenvolve-se uma filosofia mais larga. Então essa imagem que a gente precisa quando adolescente para compensar a falta de experiência, passa a nos aborrecer.

Estamos realmente cansados dela, acho que ela se choca com o que a gente busca. Eu me sinto, às vezes, um pouco inconfortável com isso. Eu concordo com o que é minha vida hoje e creio que, musicalmente, Deep Purple tem muito mais a dizer do que “hard rock” ou qualquer outra etiqueta.

swissinfo: Julian Opie fala da maneira de tocar ‘selvagem’ de Deep Purple…

I.G.: A palavra “selvagem” não me parece certa. Tudo é sob controle. Creio que “aventureira” seria uma palavra melhor. Antes do show, para mim, há muito excitação mas eu dedico um momento cotidiano à meditação, à sesta, eu me concentro para ser o mais calmo possível porque realmente preciso controlar minha adrenalina até o momento de entrar no palco.

Aí sim é como abrir a porta da jaula e deixar sair o tigre… Finalmente, talvz seja selvagem! (risos) De fato, há um conflito em mim: minha cabeça é uma coisa e meu coração é outra!

De qualquer maneira, o desafio é que não existe rotina com Deep Purple. Tocamos freqüentemente as mesmas canções mas ninguém nunca sabe o que vai acontecer … e isso é muito difícil.

swissinfo: Alguns anos atrás, você disse que ‘Smoke on The Water’ era a única música você tinha cantado em todos os shows, desde 72. Ainda é possível ter prazer em cantá-la?

I.G.: Um prazer absoluto, total! Porque não não há só o grupo, tem o público. É quase uma coisa espiritual. Essa canção não nos pertence mais … nós somos o grupo que acompanha a multidão!

swissinfo: 1971 é o ano do incêndio do casino de Montreux e da gravação do disco ‘Machine Head’. Que imagem ficou desse ano?

I.G.: De fato, com o passar do tempo, os elementos visuais – a fumaça, o fogo, o medo – continuam presentes, mas o mais forte é a lembrança do último dia de gravação no Grande Hotel de Montreux.

Martin Birch, nosso empresário, nos disse: Tenho uma má notícia: faltam sete minutos de material e só temos 24 horas. Então ele propôs ouvir o que tínhamos gravado no primeiro dia, durante o ‘soundcheck’. E ali estavam as bases do seria ‘Smoke on the Water’ (Fumaça na Água). Roger Glover, le baixista, propôs que escrevessemos a letra no que acabávamos de viver … Aquele momento foi a conclusão de uma gravação mas dramática que jamais existiu!

swissinfo: Vocês tocam na 40a edição de Montreux, já tocaram na 30a (um CD e um DVD ‘Live in Montreux’ acabam de sair)… Podemos esperá-los para a 50a?

I.G.: Ah isso seria genial!

entrevista swissinfo, Bernard Léchot, Montreux

O 40° Montreux Jazz Festival teve este ano 100 mil pessoas que pagaram ingresso congra 88 mil no ano passado. A taxa de ocupação das três salas foi de 88%.
Incluindo os shows gratuitos, cerca de 230 mil pessoas estiveram no Festival.
Mas a situação financeira continua frágil. Claude Nobs, fundador e diretor, pede ajuda financeira às autoridades públicas.
Em novembro, sairá «Montreux Jazz Festival, 40th», um livro de 1.200 páginas falando da epopéia do Festival.

Deep Purple foi criado em 1968 e começou a fazer sucesso no ano seguinte.

Considerado como um dos fundadores do hard rock (disco “In Rock”) juntamente com Led Zeppelin, sua música também é de virtuose e influências clássi cas e até de jazz.

Foi em Montreux que Deep Purple compôs «Smoke on the Water», (Fumaça na Água) depois do incêndio do Casino de Montreux durante um show de Frank Zappa, dia 4 de dezembro de 1971 (disco «Machine Head»).

Deep Purple também estava em Montreux para gravar e os músicos foram ver o show de Zappa e presenciaram o incêndio.

Desde março de 2002, o grupo tem a fórmula ‘Mark VIII’, com Ian Gillan (cantor), Roger Glover (baixo), Ian Paice (bateria), Steve Morse (guitarra) e o mais recente, Don Airey (teclados).

Últimos discos: «Rapture of the Deep» (Edel Records 2005) et «Live in Montreux» (Eagle Vision – Naïve 2006).

O cartaz do 40° Festival de Montreux foi feito pelo artista contemporâneo inglês Julian Opie.

De maneira muito estilizada, ele representa três membros do grupo Deep Purple
em um tríptico: o cantor Ian Gillan, o baixista Roger Clover e o guitarrista Steve Morse.

Julian Opie fotografou o grupo durante um ensaio em janeiro de 2006 e trabalhou as fotos no computador.

Mais lidos

Os mais discutidos

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR