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Jovens brasileiros brilham na Suíça tocando e ganhando prêmio musical

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No total, 22 jovens brasileiros encantaram a plateia suíça com um "passeio" por diversos gêneros musicais: teve música clássica, mas também forró, bossa nova, choro, sertanejo swissinfo.ch

Jovens talentosos brasileiros, que estudam música numa escola da Suíça, fizeram um concerto em Genebra com a participação de músicos do projeto Neojiba, de Salvador. Com repertório sobre o Brasil, a apresentação emocionou o público. Dois dos brasileiros ganharam prêmios como destaques do ano na Escola de Altos Estudos de Música de Genebra.

A história começa assim: há alguns anos, jovens talentosos brasileiros de diferentes regiões do Brasil deixaram o país para estudar música na Suíça. Alguns anos se passaram, e eles, agora, vêm colhendo os frutos – em forma de prêmios e aplausos – de anos de esforço e dedicação. Eles participaram de dois eventos importantes que aconteceram em Genebra: um concerto só com música de compositores brasileiros e uma premiação musical realizada por uma das escolas mais importantes da Suíça.

Na quarta-feira (26), dezoito jovens que estudam na Escola de Altos Estudos de Música de Genebra (Hemge) tocaram música popular brasileira – do clássico ao popular -, numa apresentação que contou com a participação de quatro músicos do Neojiba, de Salvador (projeto que promove a inserção social por meio da música), que vieram à Genebra com o apoio do Consulado do Brasil. Juntos, eles fizeram um “passeio” por diversos gêneros musicais: teve música clássica, mas também forró, bossa nova, choro, sertanejo. E muitos aplausos e gritos de “bravo” vindos da plateia, formada por aproximadamente 200 pessoas, que saíram de lá emocionadas. O clima era de Brasil – até nos termômetros, que marcavam mais de 30 graus.

Um dos músicos que se apresentaram foi o Natanael Ferreira, de 24 anos, estudante da Hemge, que ganhou esta semana o prêmio de melhor instrumentista de corda em mestrado solista do ano da escola. “O prêmio representa muito para mim porque é um feedback. Eu só toco, estou focado. Quando vem um prêmio desses, eu consigo olhar e ver que o trabalho está dando certo”. Ele também tem muito orgulho de levar o nome do Brasil por aí afora. “Nasci em um bairro pobre em Anápolis. Sempre está na minha cabeça de onde eu venho e quão gratificante é esse retorno, poder ganhar essa recompensa”, diz o jovem, que já ganhou outros prêmios na Suíça e França.


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Carol Lima, de 20 anos, foi a outra brasileira que recebeu reconhecimento público: a contrabaixista ganhou um prêmio designado a instrumentistas de corda que se destacaram nos estudos (bacharelado) na Hemge. “Já tinha ganhado um prêmio da escola para música de câmara com um quarteto de contrabaixo em 2017. É uma honra poder mostrar a capacidade do Brasil. Estamos aqui e podemos fazer coisas importantes. Não somos conhecidos como músicos clássicos, mas também podemos entrar nesse meio com relevância”, disse a jovem que, como os demais, tem música para tocar e história para contar.

Há três anos na Suíça, Carol estudou em projeto social em Belo Horizonte, Minas Gerais. Em 2016, depois de muito estudo, ganhou bolsa para a Escola de Altos Estudos de Música de Genebra.  Quando relembra como foi aquele período, Carol se emociona: “Quando eu vim pra cá, tive apoio de muitas pessoas. Fiz vaquinha online. Eu tinha ganhado uma bolsa, mas para as despesas do primeiro mês e para a passagem, eu precisava de dinheiro. Muita gente me ajudou”, diz, acrescentado que a família, que nunca esteve na Suíça, soube do prêmio pelo celular. “Minha família ficou muito feliz. Meu pai e minha mãe conhecem a minha história toda, acompanharam tudo. Para eles, também é importante”.

O barítono Mateus Carvalho, de 25 anos, um dos quatro brasileiros que vieram de Salvador especialmente para a apresentação em Genebra, era só felicidade. Ele, que faz parte do coral juvenil do Neojiba, viajou pela primeira vez ao exterior especialmente para cantar com uma orquestra numa cidade da Suíça. “Foi uma experiência única que marcou a minha vida. Cantei solo com orquestra pela primeira vez, mas o que me deixou muito confortável foi o fato de ser música popular brasileira que, parece fácil, mas não é. Também espero ter passado o suingue, o balanço que é típico do brasileiro”, disse Mateus, que cantou sete músicas, entre elas “Garota de Ipanema” e “Carinhoso”.


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O contratenor e pianista Luan Góes, de 31, que estuda na Escola de Altos Estudos de Música de Genebra (Hemge), tocou, cantou e encantou. Enquanto dava entrevista para a swissinfo.ch, Luan foi cumprimentado pela performance, recebeu elogios em francês e agradeceu com palavras e sorriso no rosto. “Essa energia não tem igual. Saudade da nossa terra. Foi muito bonito”, disse Luan, que cantou uma peça de Villa-Lobos. “Comecei no coral infantil da UFRJ, cantando ópera desde pequenininho, e isso mudou a minha vida”, contou ele, que já estudou em Paris e há dois anos está na Suíça.

Um dos músicos do Neojiba, Caio Soares de Brito, 19, que mora em Salvador, falou que era uma honra “estar aqui nesse país que valoriza tanto a música de orquestra e nós que tocamos esses instrumentos”. “No nosso país, muita gente não dá valor à riqueza que temos. Nossa música é uma preciosidade. No Brasil, não é só o samba. Com instrumento de orquestra, podemos fazer um milhão de coisas, e a gente veio aqui mostrar a nossa arte”, explicou Caio, que cursa bacharelado em instrumento na Universidade Federal da Bahia e vem de uma família sem tradição na música: o pai é porteiro e a mãe trabalha numa escola.

Para a cônsul-geral do Brasil em Genebra, Susan Kleebank, esses jovens mostram que existe um Brasil com grande potencial. “São jovens, têm talento, são brasileiros e têm futuro. Esse é o nosso Brasil”, diz a cônsul-geral. “A mensagem desse projeto é que o Brasil é muito lindo e precisa ser conhecido. Os jovens músicos são talentosos, têm dificuldades a enfrentar, mas são firmes e querem ir adiante nos estudos. Eles têm de ser valorizados aqui e lá. O mínimo que a gente pode fazer é reconhecer e apoiar esse talento para que se tornem bons profissionais”, disse. 

Quando terminou o concerto dos músicos brasileiros, que foi aplaudido de pé, principalmente depois que eles tocaram “Aquarela do Brasil” e “Tico-Tico no Fubá”, que teve até um pouco de samba no palco, Bárbara Carvalho estava com lágrimas nos olhos. “Foi maravilhoso. “É sempre bom ver um concerto como esse: valoriza os jovens e deixa a gente maravilhada”, disse Bárbara,  que mora há 20 anos na Suíça.

A musicóloga Monica Schütz, de Genebra, que já morou no Brasil, em Salvador, durante três anos, gostou do que viu e ouviu. “Eu senti um entusiasmo, uma energia que transpareceu na plateia no fim do concerto. Todo mundo em pé, pedindo mais. Eles passam emoção. Eles deram o melhor deles e passaram uma energia super legal”.

O concerto foi um dos eventos realizados na Escola Internacional de Genebra, que abriu as portas na quarta-feira à tarde para celebrar a diversidade cultural do Brasil. Edmundo Timm, professor de teatro da escola, disse que era dever dele, como professor, apresentar aos alunos alguns nomes, como Ary Barroso. Enquanto ele falava, um dinarmarquês, que fala português, cantava no palco montado do lado de fora da escola a música “Caminhos das Águas”, de Maria Rita.

Mateus, Luan, Robinho, Adalberto, Natanael, Matheus, Caio, Weslei, Carol, Marie, Mariana, Bruna, Roberto, Erika, Carlos, Filipe, Evandro, Pedro, Otávio, João, Paulo e Marina. Essa é a escalação dessa “seleção brasileira” que está fazendo bonito na Suíça. O melhor do Brasil é, mesmo, o brasileiro.


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