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Max Frisch, o arquiteto das palavras

Max Frisch no México, em 1956. Josef Müller-Brockmann/Max Frisch Archiv, Zürich

Como abordar um ícone da literatura como Max Frisch? Para comemorar o centenário do escritor, morto em 1991, o Museu Strauhof de Zurique deu a palavra aos seus leitores. Um percurso surpreendente.

“Claro que eu sei que tenho leitores há alguns anos e até já os vi, mas não acho que andamos no mesmo ônibus”, escreveu Max Frisch em 1975, em “Montauk”. O escritor suíço, nascido em 1911, se surpreenderia hoje com o que seus leitores sabem e dizem sobre ele.

O Museu Strauhof de Zurique tem mais de três horas de material filmado sobre Max Frisch. Dezessete ilhas temáticas abrangem uma vasta gama de conhecimentos, que compõem o percurso da exposição. Os visitantes descobrem quais foram os clássicos modernos, os marcos da vida de Max Frisch e também seu público, de amadores a profissionais.

“Terrivelmente complicado”

Um estudante comenta: “Eu não acho que vou ler um outro livro de Max Frisch. Achei ‘Homo Faber’, bastante desagradável e escrito de maneira terrivelmente complicada.”

Por outro lado, o diretor alemão de origem turca Fatih Akin, diz: “Eu era bom em alemão porque o método usava muitas peças de teatro e romances históricos. Líamos muito Heinrich Böll e Max Frisch.”

Os curadores da exposição não se limitam a elogiar Frisch. Às vezes, os entrevistados também põem em dúvida a importância do autor.

Assim, a artista Maja Vieli explica: “os temas abordados por Frisch simplesmente não me interessam mais”. Ela se identificava, quando adolescente, com as questões levantadas pelo escritor sobre identidade e escolhas de vida. “Hoje, só a vontade de partir ainda me interessa”, admite.

“Max Frisch não é para todos”, afirma a curadora Annemarie Hürlimann à swissinfo.ch. “Entrevistamos pessoas na rua e ficamos decepcionados: muitas pessoas nem conhecem Frisch. Mas, em Berlim, encontramos um jovem turco que o tinha lido em turco.”

Perguntas sobre questões

Uma parte essencial do trabalho de Frisch consiste de perguntas altamente sofisticadas. “Você pode imaginar um casamento sem humor?”, escreve em um amuleto de papel, na exposição. “Não”, responde.

“Suponhamos que você nunca tenha matado um ser humano: como você explica nunca ter chegado lá?”, pergunta Max Frisch em onze questionários no “Diário 1966-1971”. As perguntas são às vezes provocantes e evocam emoções em quem lê. “Você gosta de alguém? O que lhe faz ter certeza disso?”

Em uma das entrevistas em vídeo, a estudante Eva Sperschneider acha a questão do valor da nota que se queima fascinante. As perguntas de Frisch, muitas vezes pueris e ingênuas, conseguiram impressionar tanto o ex-chanceler alemão Helmut Schmidt, que esse acabou convidando-o a fazer parte de sua delegação para uma visita de Estado à China.

Max Frisch e as mulheres

Os personagens principais de Max Frisch são sempre homens: Gantenbein, Stiller, Faber, Don Juan. E o amor é um tema muito importante em sua obra.

Depois de ler “Homo Faber”, Lea, uma jovem estudante resume o problema desta forma: “As mulheres cansam Faber. Quando sua lâmina de barbear não funciona, ele pode desmontar o barbeador e ver onde está o problema. Mas uma mulher não pode. É por isso que elas são tão cansativas…”

“Sou feliz de ser suíço, mas não me sinto obrigado a acreditar que a Suíça seja um país melhor do que os outros”, declara Max Frisch em 1957, durante um discurso de 1° de agosto (dia nacional da Suíça), o que não agrada nada as mentes conservadoras da época.

“Max Frisch se tornou uma figura de identificação para muitos suíços, jovens e velhos, que não seguiam o conceito rígido da pátria e da Suíça conservadora”, comentam os curadores da exposição. Para Frisch, que disse em 1974 que a independência e a neutralidade da Suíça era uma ilusão, o conceito de “pátria” não tinha nada de agradável. “Quem fala de patriotismo se impõe mais um peso em seus ombros.”

Max Frisch hoje

Nascido há um século, Max Frisch morreu em 4 de abril de 1991 em Zurique. O que interessa hoje a Annemarie Hürlimann é “o desejo do distante seguido sempre do retorno à casa”. Para a curadora, “a exposição oferece um monte de coisas porque, além das entrevistas, que duram dois a três minutos, tem também muitos vestígios de suas obras.”

Assistir tudo leva cerca de seis horas, mas em apenas uma hora já é possível viajar em uma obra cuja riqueza nunca foi desmentida.

Depois dos estudos de língua e literatura alemã em Zurique, Max Frisch (nascido em 15 de março de 1911) embarca em uma carreira de repórter, antes de retomar os estudos e se formar como arquiteto, profissão exercida até 1954, quando estreia como escritor.

Em 1942, ganha o concurso para a construção de uma piscina pública no centro de Zurique, rebatizada agora de “Max Frisch-Bad”. Abre então seu próprio escritório de arquitetura. No mesmo ano se casa com Gertrud Constanze von Meyenburg, com quem tem três filhos.

Após seu primeiro romance, “Eu amo o que me queima” (1943), começa a escrever peças de teatro. Segue então “Santa Cruz”, “A Grande Muralha da China”, “Don Juan ou o Amor da Geometria”, “Biederman e os incendiários”, “Andorra” e “Biografia de um jogo”, peças comparadas às de Bertolt Brecht, sobre questões estéticas e políticas da ilusão de palco e transformação do mundo.

Em 1951, recebe uma bolsa da Fundação Rockefeller e passa um ano nos Estados Unidos. Em 1954 se separa de sua família, fecha o escritório de arquitetura e se dedica exclusivamente à literatura. De 1958 a 1963 tem um caso com a escritora Ingeborg Bachmann. Em 1962, com 51 anos, conhece Marianne Oellers, uma estudante de 23 anos, com quem se casa em 1968. Este segundo casamento dura até 1979.

Continua como romancista (“Não sou Stiller”, “Homo Faber”, “Montauk” …), questionando com originalidade, o lugar do indivíduo no mundo e o assunto da história.

Morre de câncer, em 04 de abril de 1991, em seu apartamento de Zurique. É um dos escritores mais famosos e traduzidos da Suíça, junto com Friedrich Dürrenmatt.

Adaptação: Fernando Hirschy

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