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O último passo de Maurice Béjart

Maurice Béjart na celebração de seu 80° aniversário, em dezembro de 2006. Keystone Archive

O coreógrafo francês de 80 anos morreu na madrugada de quinta-feira, no Hospital Universitário de Lausanne (CHUV), oeste da Suíça. Ela tinha problemas cardíacos e renais.

Homenagens e reações de tristeza especialmente na Suíça, onde o criador muito popular vivia e dirigia sua companhia de balé desde 1987.

“Ele já deve estar fazendo as estrelas dançarem” declarou o ex-bailarino francês Patrick Dupond, que interpretou notadamente “Bolero”, umas das mais famosas criações do coreógrafo.

Hospitalizado há vários dias no Centro Hospitar Universitário de Lausanne (CHUV), Maurice Béjart já havia reduzido suas atividades no Béjart Balé Lausanne. Na madrugada de quinta-feira, ele deu seu último passado, desta vez para a morte, aos 80 anos.

Nascido em Marselha, sul da França, em 1927, Maurice Béjart instalou-se em Lausanne (oeste da Suíça) em 1987. Um dos maiores coreógrafos do século XX, ele tinha a ambição de fazer da dança “a arte do século”.

“Tirei a dança das óperas para implantá-la nos ginásios de esportes, nos Jogos Olimpicos, no Festival de Avignon”, gostava de dizer, orgulhoso de divulgado sua disciplina a um público amplo.

Mudar a dança

Com seus olhos azuis, sua figura colossal e seu cavanhaque, Maurice Béjart, que se converteu ao islã em 1973, sentia-se investido de uma missão quase messiânica. Mantendo a técnica clássica, ele mudou o espírito da dança tornando-a sagrada e sensual.

Se ele revolucionou o espetáculo desde sua primeira criação – “Sinfonia por um homem só”, em 1955 – Maurice Béjart também permitiu que seus bailarinos tivessem vida própria e exprimissem sua sensibilidade.

Denunciando uma arte “longe das massas”, ele favoreceu a troca do tutu pelo colante e o surgimento dos jeans no palco, sem jamais ceder aos círculos tradicionais.

Partir dignamente

Suas peças derem a volta ao mundo mas nunca conseguiram se impor nos países anglo-saxônicos. Bejart construiu sua carreira na Bélgica, onde dirigiu seu balé durante 27 anos, e na Suíça.

Ele foi sem dúvida “o criador coreográfico mais popular de todos os tempos”, na opinião do jornalista especilizado suíço Jean-Pierre Pastori. Ele vai fazer falta”.

“Muito triste”, esse amigo de Béjart não esconde “que foi melhor assim do que prolongar a vida”. “Suas forças diminiuíam e ele estava sofrendo, afirmou Pastori à rádio suíça RSR. Maurice Béjart chegou a uma tal altura, que ele devia partir com dignidade.”

Por sua vez, o escritor belga François Weyergans, próximo do coreógrafo, saudou um “criador de uma fecundidade excepcional”. “Muito pouca gente trabalhou tanto quanto ele”, acrescentou Weyergans, que estava ao lado de Béjart quando ele morreu, à meia-noite e meia, em Lausanne.

Transmitir sua arte

Desconcertante pela variedade de sua inspiração, o artista criou 140 coreografias, todas exprimindo sua paixão de viajar e seu gostou pela mestiçagem. Suas criações, por vezes desmesuradas, misturam gêneros – cinema, teatro ou ópera – e atravessam diversas épocas, estilos e civilizações.

Pedagogo, Maurice Béjart insistiu em transmitir sua arte. Suas duas escolas – cujos nomes referem-se a divindidades indus – “Mudra” em Bruxelas (1970) e em Dakar (1977) “Rudra” em Lausanne (1992), formaram alguns dos maiores bailarinos contemporâneos.

O fato de ter sido celebrado enquanto vivo, criava nele uma espécie de esquizofrenia surpreendente: “Sempre me pedem para falar de Béjart.. e finalmente, isso torna-se um objeto que separou de mim. Durante a noite, na minha cama, sou eu, mas quando é o senhor que cobrem de honras, eu não sei muito bem de quem se trata”, confidenciou ele a swissinfo alguns anos atrás.

swissinfo com agências

Nascido em Marselha, sul da França, em 1° de janeiro de 1927, Maurice Béjart é filho do filósofo Gaston Berger. Ele entrou muito cedo na dança “como num monastério”, afirmava.

Maurice Béjart aprende seu ofício na cidade natal, em Paris e em Londres. Obteve também uma licença em filosofia.

Em 1945, ele inicia a carreira em Marselha e, em 1951, monta “Sinfonia por um homem só”, com sua própria companhia, os “Balés da Estrela”.

Em 1960, a companhia é rebatizada “Balé do século XX” e se produz no Teatro Relal da Moeda, em Bruxelas.

As criações coreográficas mais marcantes dessa época são “Bolero”, com Jorge Donn como solista, “Missa para o tempo presente” e “Pássaro de Fogo”.

Em 1987, a companhia de Maurice Béjart tornou-se “Bejart Balé Lausanne”, quando o coreógrafo mudou-se para a Suíça.

Maurice Béjart criou cerca de 200 espetáculos. Também dirigiu peças de teatro e óperas. Dirigiu filmes, escreveu livros e montou espetáculos no mundo inteiro.

Entre muitas outras distinções, ele recebeu, em 1993, o “Prêmio Imperial” do Japão, considerado como o Prêmio Nobel das Artes.

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