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Suíça produz jóias de Moçambique para o mundo

Astrid Sulger em pleno trabalho no ateliê em Maputo swissinfo.ch

As jóias feitas em chifre de zebu no ateliê de Astrid Sulger têm nomes dos elementos que se encontram nas maravilhosas praias de Moçambique.

Num pequeno espaço na periferia de Maputo nascem estas pequenas obras-primas de formas delicadas e perfeitas, feitas de um material destinado à destruição.

Um chifre é vendido a 1 metical no matadouro da capital moçambicana. Uma maneira inteligente e criativa de expandir a sustentabilidade, como factor de coesão entre o homem e a natureza em cada âmbito de actividade humana, usando criativamente os recursos locais.

“Os artesãos que trabalham aqui gostam muito daquilo que fazemos. Estão orgulhosos no fim do dia de ver transformar uma coisa que vem do matadouro numa peça bonita”, diz orgulhosa Astrid Sulger, uma suíça de Davos a viver em Moçambique há quatro anos. “Basta pouco para as peças serem bonitas graças às cores que o chifre tem, com aqueles refinados desenhos das fibras”.

De Davos para África

As jóias são produtos de belo design embora feitas com máquinas muito simples. Um grande trabalho de selecção, de corte e design é preciso para atingir resultados tão agradáveis. “É verdade: sou severa e exigente no controlo de qualidade e o produto melhorou muito neste três anos”, conta Astrid, que cresceu em Davos onde terminou o ensino superior com um diploma de comércio.

Ela trabalhou como compradora duma casa de moda durante 6 anos antes de tirar um curso de especialização em têxteis, para depois trabalhar durante três anos numa fábrica de tecelagem perto de Zurique como criadora/vendedora. Viveu ainda no Burkina Faso onde lançou seu projecto privado de tecelagem à mão com um grupo de mulheres para o mercado local.

Ao se mudar para Moçambique, apaixonou-se pela arte maconde, na província de Cabo Delgado. Fruto dessa paixão foi uma exposição e um livro sobre a escultura dos mestres maconde, ainda pouco conhecida (“Mokonde masters
encontros com artistas de Cabo Delgado, Moçambique = encounter with artists of Cabo Delgado, Mozambique”,2004, Njira, Maputo).


Do Planalto, mudou-se para Maputo onde numa pequena casa no bairro ferroviário de Maputo criou o seu ateliê, depois ter aprendido a arte de transformar chifres de zebu em matéria maleável para criar peças de várias formas para os colares, pulseiras e brincos das cores naturais.

À busca da qualidade excelente

No meio de ruelas cheias de crianças a brincar e vendedores informais de legumes e frutas, trabalham as 14 pessoas que colaboram com Astrid. Ela desenha as peças e faz o marketing. “Estou a voltar de Espanha onde participei num curso para aprender fazer um plano de negócio, e da Alemanha onde consegui pela primeira vez ter um agente. Espero que tudo corra bem e vender mais para fora porque aqui o mercado é muito limitado”, contra Astrid.

“Financeiramente é muito duro; depois de três anos de investimento e paciência esperamos vender mais. Estamos a tentar fazer uma qualidade que dá para vender fora, sobretudo para realçar a imagem de África: aqui também somos capazes de produzir aos níveis europeus. Não podemos continuar a ser estigmatizados como sendo continente que nunca consegue!”, acrescenta.

“Fui aprendendo com um mestre local. Gostava muito das peças que ele fazia e vendia no mercado de artesanato em Maputo. Tentei desenvolver o design, fazer outros padrões e sair da repetitividade das peças propostas no mercado”, explica a suíça.

“Por acaso, ou por sorte, as minhas jóias forma escolhidas para representar Moçambique numa feira na Dinamarca. E daí começou o desafio da produção. O meu mestre não conseguia já trabalhar. Deu-me dois trabalhadores e começamos a nossa primeira grande colecção”, conta Astrid, cuja fonte de inspiração para o desenho das peças são as formas da natureza, nos seus passeios à beira-mar.

Rotina de trabalho

Às oito da manhã começa o trabalho. As tarefas estão por conta de dois grupos de trabalhadores. Antes de mais nada, o chifre é posto durante alguns minutos no óleo a ferver para ficar maleável. Depois passa para as máquinas, muito simples, para ser cortado e depois para a lixa e serem moldados em bolas, cubos, gotas, círculos, nas formas dos protótipos desenhados por Astrid.

À Nélia cabe a tarefa de colar e montar os colares. “A Nélia tinha uma banca de fruta e verdura no bairro. Costumava parar na banca dela porque tem um sorriso muito bonito e cativante. Precisávamos de uma modelo para as fotos. Convidei-a e aceitou. Quando a produção começou a aumentar, o chefe da equipa sugeriu recrutá-la para trabalhar connosco. Disse-me que era o sonho dela!”, conta Astrid.

No pequeno ateliê está montada uma cadeia de produção em ponto pequeno, mas que a cada dia atinge resultados mais perfeitos e glamorosos.

As jóias são vendidas numa galeria na Estação dos Caminhos-de-Ferro de Maputo, em Joanesburgo, em Dakar e através do catálogo Fair shop da ONG Suiça Helvetas.

swissinfo, Paola Rolletta, Maputo

Astrid Sulger nasceu em Davos, cantão dos Grisões (leste da Suíça). Diplomou-se em comércio e especializou-se em tecelagem.

Trabalhou com moda em Zurique e montou um projeto de tecelagem artesanal com mulheres em Burkina Faso.

Quando mudou-se para moçambique, apaixonou-se pela arte maconde e apredeu a trabalhar com xifre de zebu com um artesão.

No ateliê atual, em maputo, trabalham 14 pessoas.

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