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Suíça se surpreende com o maracatu punk de Sergipe

Músicos tocando instrumentos
O The Baggios se apresentando em Berna com a participação de Lucas Goo (centro, com camisa preta), um dos fundadores da banda e hoje residente na Suíça. swissinfo.ch

A banda brasileira "The Baggios" passou pela Suíça em sua primeira turnê europeia de 23 shows. Os três jovens músicos, originários de uma pequena cidade em Sergipe, trouxeram ritmos pouco conhecidos do folclore nordestino e o misturaram com o blues. Para o público acostumado aos clássicos da MPB, um momento de surpresa.

Não falta adubo no terreno em que cresce uma boa banda. Pegue dois jovens nascidos em São Cristóvão, a quarta cidade mais antiga do Brasil, e primeira capital de Sergipe, no Nordeste. Deixe-os, desde pequenos, escutar o punk inglês, o blues do delta do rio Mississippi e o rock ‘n’ roll americano. Coloque-os na percussão, batendo quexerés, zabumba ou tambores, seja no samba de coco ou para dançar no pisa-pólvora. E para completar, os embebede com os clássicos da MPB, seja Mutantes ou Secos & Molhados. O resultado: “The BaggiosLink externo“.

A banda sergipana pisava pela primeira vez na Europa. Na última apresentação na ReithalleLink externo, o centro cultural alternativo de Berna, em 10 de abril, já estavam esgotados, fisicamente. Os três músicos e o produtor giraram por três diferentes países e deram 23 concertos na turnê chamada “Vulcão”, um por dia. Na Suíça, a imprensa local já anunciava o show do The Baggios com um mistério: “Rock de um país infelizLink externo“. E no palco, o que apareceram, foram três jovens brasileiros, trajando roupas coloridas em estilo afro, tocando uma música que fazia todos dançarem.

Não foi difícil. Na canção “Caldeirão Das BruxasLink externo“, a guitarra de Júlio Andrade sola ritmicamente enquanto repete o refrão, que mais soa como um mantra – “Missão, Visão, Frisson, Yin-Yang”. Na bateria, Gabriel Carvalho, e no piano e baixo, Rafael Ramos, seguram o ritmo, entre funk, maracatu e o rock. Alguns suíços na plateia se espantavam de ver uma mistura tão estranha, especialmente pelo fato da língua cantada ser o português. Porém também sabiam que iriam assistir uma banda com 15 anos de estrada, que já foi indicada para o Grammy Latino e teve parcerias com estrelas conhecidas como a cantora Céu ou grupos como o Baiana System.

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A Suíça já está acostumada a receber músicos brasileiros. Porém, em grande parte, a presença nos palcos suíços é dominada pelas estrelas da MPB ou do “mainstream” musical, seja sertanejo ou axé. Roberto CarlosLink externo e João BoscoLink externo já confirmaram os shows em Zurique. Na edição 2019 do famoso Festival de MontreuxLink externo, Ivan Lins faz parte das atrações. Porém bandas alternativas, é algo raro.

Entrevistado pela swissinfo.ch, Júlio Andrade revelou a dificuldade para vir tocar na Suíça. “Tivemos de dar shows no Brasil para arrecadar fundos. Com o dinheiro, organizamos a nossa turnê europeia. Aqui tocamos em pequenos clubes e casas alternativas”. 

Se um jornalista suíço os caracterizou como embaixadores de um país triste, Julio explica o contexto. “O momento em que o Brasil vive é bem complicado. Muitas vezes a música vem para traduzir uma coisa que você está vivendo e sentindo”, disse, fazendo referência às suas letras. “Eu escrevi coisas em um disco há três anos, que continuam a acontecer e só pioram”.

O país tem um novo presidente desde o início do ano e o estado de Sergipe registrou uma queda na criminalidade em 2018, mas continua na faixa de 2,6 homicídios por dia. Segundo dados da OMS, o Brasil tem o nono maior índice de homicídios do mundo. E na canção “BrutownLink externo“, o jovem sergipano escreve “É noite e há confusão na missa. Crianças e pessoas promíscuas. Três morrerão sem ter chance de saída.

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Porém o Brasil tem os dois lados: o lado triste e o feliz. O folclore sergipano, seja Reisados e Caceteiras, existe para celebrar a vida. E quando misturado ao rock, se universaliza. Assim o The Baggios passa pela Europa e deixa a impressão que a música popular brasileira continua a cumprir o seu papel, o de surpreender. “O que mais gostei nessa turnê foi sentir que a gente estava trazendo algo de novo, que as pessoas não conheciam, e que elas dançavam assim mesmo, pedindo mais e comprando nossos discos”, declara Júlio, revelando que sua esperança é de voltar no ano seguinte.

Biografia

A banda The BaggiosLink externo foi formada em São Cristóvão, município vizinho a Aracaju, Sergipe, em 2004, por dois amigos, Júlio Andrade e Lucas Goo.

O nome foi inspirado em um músico andarilho que vivia na cidade. Em 2011 gravou o primeiro disco “The Baggios”. Depois seguiram mais três discos: Sina (2013), Brutown (2016) e Vulcão (2018).

Até 2016 a banda tocou com uma formação básica de guitarra e bateria. Hoje sua formação é Júlio Andrade (guitarra e voz), Gabriel Carvalho (bateria) e Rafael Ramos (piano, órgão e baixo).

Em 2017 a banda foi indicada para disputar o Grammy Latino. Em 2010 ganhou o prêmio da Arpub (Associação das Rádios Públicas do Brasil) de melhor banda.

O último disco conta com participações de Céu, na canção “Bem-te-vi”, e do Baiana System, em “Deserto”.

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