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Brasileiro lança documentário sobre Afeganistão na Suíça

Imagem do filme
Cena do documentário Kaboul Song. (Foto: cortesia) marketing

Um dos destaques da edição 2014 do prestigiado festival Visions du Réel (Visões do Real), realizado anualmente na cidade suíça de Nyon, o documentário Kaboul Song chama a atenção para o trabalho do jornalista e documentarista brasileiro Wolgrand Ribeiro, de 42 anos, radicado há duas décadas em Genebra.

Co-realizador – ao lado da jornalista suíça Lisbeth Koutchoumoff – do filme que mostra o tocante retorno do cantor popular Ustad Arman ao Afeganistão após 25 anos de exílio na Suíça, Ribeiro tem seu trabalho elogiado pela crítica e faz planos para exibir a produção em importantes festivais no Brasil, como o É Tudo Verdade e o Festival do Rio.

As várias citações ao filme pela mídia suíça se sucederam à emocionante noite de lançamento, que aconteceu em 26 de abril, durante a sessão “Soirée RTS (Radio Télévision Suisse)” do festival, especialmente dedicada a produções para a televisão. A projeção foi seguida por um concerto de Ustad Arman, o primeiro realizado na Suíça, e o artista afegão foi aclamado pelo público que lotou a sala com capacidade para 462 pessoas. A emoção de todos foi grande, inclusive a do brasileiro: “O público aplaudiu de pé, foi super emocionante para todos nós. Acho que o Ustad não esperava, após tantos anos de exílio na Suíça, ter uma sala lotada o aplaudindo de pé”, conta.

Para realizar o filme, Ribeiro acompanhou Ustad em sua volta à cidade de Cabul. Convidado para ser jurado do popular programa de tevê Afhgan Star – uma cópia de American Idol, programa de revelação de novos talentos exibido nos Estados Unidos – o cantor de 78 anos dividiu seu tempo entre as gravações e a procura por lugares que marcaram sua trajetória, velhos músicos e antigos amigos.

Sempre ao lado de Ustad, que é reconhecido pelo povo afegão em todos os lugares onde vai, a câmera do brasileiro em alguns momentos parece não estar ali. A mesma sensação é obtida ao acompanhar alguns jovens aspirantes a astro afegãos que jogam suas esperanças de futuro em uma sonhada vitória no programa de tevê. O resultado é um filme que, ao contar uma história de reencontro, nos faz refletir sobre a degradação cultural de um país e a força da presença norte-americana em um Afeganistão que Ribeiro soube mostrar para além de seus estereótipos.

Experiência

A ideia de filmar Kaboul Song partiu de Lisbeth Koutchoumoff, que é nora de Ustad e sempre desejou retratar o país da família de seu marido. Quando Ustad foi convidado a participar do programa Afhgan Star, a oportunidade de realizar o projeto surgiu. Para concretizá-lo, no entanto, era preciso um profissional que conjugasse as qualidades de cineasta com a experiência de um jornalista acostumado a regiões em conflito. Foi aí que Lisbeth convidou Ribeiro, com experiência acumulada em coberturas jornalísticas realizadas em lugares como Bósnia, Palestina e Timor Leste, entre outros.

“Teve realizador que recusou o trabalho antes de mim pela falta de qualquer garantia quanto à própria segurança durante a viagem ao Afeganistão. Lisbeth queria um realizador que fosse também jornalista. Quando ela me propôs ir filmar no Afeganistão, me interessei na hora”, diz o brasileiro, que garante saber enfrentar o medo: “Isso está no sangue, na alma, querer ver como são as coisas de perto, essa curiosidade que todo jornalista tem. Nessas horas não pensamos tanto em segurança, temos experiência para garantir uma segurança mínima” diz.

“Em mim, essa vontade de ir sempre existiu, sempre me interessou essa coisa da resistência, do Afeganistão ter resistido contra os ingleses, contra os russos. O Afeganistão sempre foi um país que representou essa resistência”, continua Ribeiro, dizendo ter ficado empolgado com o projeto: “Quando a Lisbeth me falou sobre a ideia do filme, que é tratar da música do Afeganistão, que eu não conhecia, achei muito interessante a possibilidade de poder mostrar por outro ângulo um país que a gente vê toda semana no noticiário”, diz.

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Futuro

O filme Kaboul Song será exibido na grade do canal Télévision Suisse Romande (TSR), em data ainda a ser definida. Até lá, o objetivo é aproveitar as boas críticas recebidas após o festival Visions du Réel para tornar o filme mais conhecido na Suíça e no restante da Europa: “A ideia agora é fazer uma turnê pela Suíça. Estamos esperando setembro e a retomada do ano letivo após as férias escolares de verão. Depois, enviaremos o filme para vários festivais do mundo”, diz Wolgrand Ribeiro.

A experiência com o filme até aqui tem sido gratificante: “O lançamento ter sido feito no Visions du Réel foi legal porque é um dos maiores festivais de documentários do mundo, são duas semanas de projeção. Foi bom também o lançamento mundial ter sido na Suíça, onde produzimos o filme. Tivemos uma vitrine muito grande”, diz o brasileiro.

Ribeiro, que já iniciou os trabalhos para um documentário sobre um conhecido personagem da crônica policial do Rio de Janeiro (acerca do qual ele não quer dar detalhes), pretende agora lançar Kaboul Song em seu próprio país: “No Brasil, ainda estou em busca de fechar alguns contatos e parcerias para exibir o filme. Vou tentar inscrevê-lo para o próximo festival É Tudo Verdade, e também estamos estudando a possibilidade de lançamento no Festival do Rio, o que seria muito legal pra mim, pois sou carioca”, diz.

Wolgrand Ribeiro diz ter se lembrado várias vezes do Brasil durante a visita ao Afeganistão: “Existem várias semelhanças com o Brasil, inclusive o fato de gostarem tanto de música. Foi muito interessante poder mostrar esse lado. Outra coisa que me remeteu ao Brasil foi a ocupação de uma área pobre com força militar, mas sem um verdadeiro trabalho de caráter social, de promoção da cultura, da educação. No Afeganistão acontece uma intervenção baseada somente na repressão, sem quase nenhum vestígio da presença do Estado, o que lembra o Rio de Janeiro e as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs)”, diz o documentarista carioca radicado na Suíça.

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