Perspectivas suíças em 10 idiomas

Destes Jardins vê-se Babel

Um dos "jardins suspensos" de Claudia Lima Luis Guita

Aprendeu cedo a guardar a ingenuidade e a força, que são só suas, para as transformar em arte.

Em criança, frequentou a Escola de Arte Infantil do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, tendo como professor o pintor Ivan Serpa. Desde então, valorizar o que sai de “dentro de si” e o que é “completamente verdadeiro” constituem a sua forma de estar e de se envolver na produção artística.

Cláudia Lima é a artista plástica – que nasceu no Brasil e que, com o casamento, se transformou também em suíça – cujo trabalho foi recentemente apresentado na galeria CATM (Chair And The Maiden Gallery)em Chelsea, Nova Iorque, Estados Unidos. Até 16 de novembro está patente em Lisboa, na galeria do CNAP (Centro Nacional de Artes Plásticas), com a exposição “Jardins Suspensos” , e que, brevemente, deve de ser possível  apreciar na Suíça e Alemanha.

Os Jardins Suspensos de Cláudia Lima

Pintura a óleo, tapeçaria e escultura de juta e resina, são matérias usadas para construir um trajeto que, para a artista, é “maravilhoso” e onde a arte é sentida como uma “paixão”.

 Após um percurso de muita experimentação “livre”, sem” insegurança” e com grande “naturalidade”, os trabalhos mais recentes são apresentados na exposição que ganha o nome de uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo: Os “Jardins Suspensos” da Babilónia.

 Para agradar e consolar Amitis, a sua esposa preferida, o Rei Nabucodonosor, no séc. VI a.C., mandou construir os “Jardins Suspensos”, que, através de um engenhoso sistema de irrigação, eram alimentados com água bombeada do rio Eufrates. Hoje,  os “Jardins Suspensos” de Cláudia Lima oferecem-nos um percurso entre escultura,  pintura e tapeçaria, onde nos é facultada uma proposta de suspensão, de etéreo, onde se manifesta  a procura de luz.


“Esta exposição tem um pouco de tudo. A tapeçaria, não fui eu que fui atrás dela, ela parece que já estava no meu caminho. Foi através dela que consegui desenvolver este trabalho mais tridimensional.  Acho que é quase um percurso.  Depois tem aquela fase um pouco mais, digamos, do Museu, de criança. Que é essa fase mais das cores. Porque eu era encantada pelas cores, pela vivacidade. Era a luz que eu procurava. Nestes trabalhos o que estou procurando é a luz. Depois temos a passagem para o tridimensional.  Com os “Jardins Suspensos” já estamos saindo para algo que não é tão tão físico. É uma coisa mais etérea.”

“Jardins Suspensos”, uma exposição que surge no universo de Cláudia Lima como reflexo da necessidade que a artista sente de “olhar, um pouco, para cima”. Um caminho que é construído sobre a procura da “força” e da “esperança” para uma saída “deste desequilíbrio”. Para a artista, este é o momento em que “nós temos de voar, não temos que entrar em stress. Temos de ficar um pouco suspensos. Pairar um pouco, é realmente a proposta.”

Um exemplo de linguagem global

Na Suíça, em 2003, a galeria da associação de artistas de Brissago (Galleri Amici dell’ Arte), “uma galeria muito bonita, muito encantadora,” foi o espaço que acolheu a mais recente exposição que Cláudia Lima realizou em solo helvético.

Questionada sobre para quando uma outra exposição na Suíça, a artista revela que voltar a fazer “uma exposição na Suíça é uma meta.  E também em Berlim.  Esses são os dois lugares onde estou querendo organizar uma exposição, e já há algumas coisas apalavradas.”

Apesar de ainda não estar nada “100% fechado”,  certo é que a exposição será a continuação de “Jardins Suspensos” e há vários croquis sobre os quais o trabalho será desenvolvido, em parceria com um artista suíço.

No Brasil, a mais recente exposição de Cláudia Lima foi em 2008, na Casa França-Brasil, no Rio de Janeiro. Uma exposição coletiva composta por um trio que “resultou muito bem”, onde participou, também, o alemão Lucas B, com  uma vídeo instalação, e a portuguesa Cândida do Rosário, com um trabalho de mini-texto.

A distância no tempo, em relação à última exposição no país de origem, faz a artista afirmar que tem “vontade de voltar a apresentar trabalho no Brasil,” e acrescenta que “já está na hora de voltar.”

Ultimamente, todos os anos, tem realizado exposições nos países nórdicos. Estocolmo, Copenhaga e Helsínquia são cidades que já conhecem o seu trabalho. Em Portugal, onde vive desde 1980, gosta de expor de dois em dois anos.  Mas, este ano, enquanto realizava uma visita a Nova Iorque, as situações inesperadas, de que tanto gosta, conduziram-na a participar numa exposição coletiva imprevista. 

“Fui a Nova Iorque na Páscoa,” conta Cláudia Lima, “entrei numa galeria (CATM) em Chelsea, mostrei o meu trabalho, e o curador convidou-me logo para uma exposição internacional da galeria – “Art Live Turns Five, 2011” – no próprio ano. Foi assim tudo muito rápido. Estive lá em abril e em setembro já estava expondo. Foi uma coisa louca – risos – são essas coisas que eu gosto. Inesperadas.”

Desafio da alegria criativa

Sobre o processo criativo, a artista desvenda que a partir do momento que entra no atelier “ é o material que vai puxar.” Entra já com uma “pequena ideia se vai ser pintura ou se vai ser escultura” mas o que procura é a “experiência completamente livre.”

Cláudia Lima descreve: “Dou um traço e de um traço vai puxando outro traço. Depois vou estruturando. Vou sentindo, e, depois, aí ,realmente, eu entro. Dou o toque e componho o trabalho. Porque, eu tenho que gostar, eu estou fazendo para mim. A verdade é essa, eu estou fazendo para mim. E quem tem que gostar sou eu. E não saio dali enquanto não gostar. Eu destruo, construo, faço tudo o que tiver de fazer, mas eu tenho que gostar. É um desafio. Estou em constante desafio. É quase estar ali brincando. Estar ali é uma alegria.“

Nasceu no Rio de Janeiro em 1956. Aos sete anos, ingressa na Escola de Arte Infantil do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, sob a orientação do conceituado pintor brasileiro Ivan Serpa. Trabalha assiduamente no seu próprio atelier.

 1961 a 1970 – Participa em várias exposições coletivas organizadas, todos os anos, pelo Museu. É premiada e selecionada para representar a Escola em mostras nacionais e internacionais.

 1967 – Obtém a medalha de ouro numa exposição mundial de pintura, patrocinada pelas Nações Unidas, como representante do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e do Brasil.

 1979 – Licenciou-se em Direito pela Faculdade de […]Direito Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, onde participou, por essa ocasião, na primeira exposição coletiva de artes plásticas organizada pela faculdade, tendo sido distinguida com o primeiro prémio de pintura.

 1980 – Fixa residência em Lisboa. Inicia o curso de pintura e desenho na Escola de Arte e Comunicação Visual – Arco, em Lisboa. Aí permanece até 1984.

 1984 a 85 – Frequenta a Escola Nacional de Arte Decorativa de Aubusson, França, com subsídio da Fundação Calouste Gulbenkian, aperfeiçoando-se na arte da tapeçaria, ao mesmo tempo em que nessa escola frequenta o atlelier de pintura e desenho. 

 1986 – É convidada, pela Fundação Calouste Gulbenkian, a participar do 102 eme Salon des Femmes Peintres e Sculpteurs, como artista de tapeçaria para representar Portugal.

 1987 – Colabora na formação da cooperativa cultural “A Arte da Tapeçaria e do Têxtil”, onde participa em várias exposições coletivas do grupo.

 1990 – Ao comemorar seus 50 anos, a empresa dinamarquesa v. Kann Rasmussen Industri NS, adquire uma pintura da artista para a sua sede e organiza uma exposição coletiva de todos os concorrentes selecionados em Copenhaga.

 1991 – Dedica-se à pesquisa de cartões para a técnica da tapeçaria plana.

 1996 – A Instalação “O Carnaval das Serpentinas”, no Museu do Traje, em Lisboa, faz com que realize um trabalho de pesquisa intensa da arte têxtil tridimensional, que culmina neste projeto.

 1998 – Concebe juntamente com a artista portuguesa Cândida do Rosário o projeto de instalação :”Ondas da Lusofonia”, na Expo’98 -Pavilhão da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em Lisboa.

 1999 – Realiza a 1ª exposição individual no seu país, em Brasília, no Salão Negro do Senado Federal.

 1999/2000 – Dá início à fase “Enredos” -série de trabalhos tridimensionais de pintura / escultura, realizados com materiais rústicos.

 2000 – Começa a esculpir pedra no I Simpósio Internacional de Escultura, realizado no mês de setembro, no Centro de Artes e oficios, em Borba -Alentejo -Portugal.

Cláudia Lima está mencionada nas publicações:

– “Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses III” -Fernando Pamplona
– “Arte Guia- Diretório de Arte -Espanha &Portugal 94/96” -Fernando Fernán-
Gomez.

 

fonte: site do CNAP

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR