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Diamantes russos na Suíça

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Keystone

A Rússia é o principal exportador de diamantes do mundo. Até então, as gemas russas não estavam sujeitas a nenhuma sanção europeia, mas essa situação mudará agora em janeiro, mês em que a UE adota seu 12º pacote de medidas contra a Rússia. No ano passado, vários quilos de diamantes russos chegaram à Suíça.

A exportação de diamantes russos é um comércio que movimenta bilhões de francos e que, até agora, não havia sofrido nenhuma consequência da invasão russa da Ucrânia.

A Rússia é o maior exportador de diamantes do mundo, e os volumes praticamente não caíram desde o início da guerra, totalizando cerca de 3,6 bilhões de euros (3,4 bilhões de francos) em 2022. Na Europa, o setor tem escapado de quaisquer sanções.

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No entanto, a Alrosa, empresa que controla 90% desse mercado, contribui direta e indiretamente para os esforços de guerra russos. Em primeiro lugar, porque dois terços da empresa são propriedade do Estado e, em segundo lugar, porque ela financia o submarino militar Alrosa, implantado no Mar Negro.

Presença na Suíça

Para quem esses diamantes russos são vendidos? Alguns deles estão chegando ao mercado suíço? Em 2022, a Suíça importou diretamente 22 kg dessas pedras preciosas. E pelo menos 9 kg de diamantes brutos chegaram à Genebra, de acordo com informações coletadas pelo programa A Bon Entendeur da RTS.

Mas as importações diretas são apenas a ponta do iceberg. Os diamantes russos são em grande parte exportados para a Índia, Dubai e China, de onde são reexportados para todo o mundo. Nesse processo, a sua origem russa é omitida.

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Russia sanctions

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Há um novo ator se estabelecendo nesse papel de intermediário entre a Rússia e o Ocidente: a Armênia, onde as pedras são polidas e cortadas.

“Devido à situação na Ucrânia, ao surgimento de novos mercados e à tradição da Armênia de lapidar e polir diamantes, nosso setor de diamantes está crescendo”, explica Arevik Margaryan, chefe do setor de mineração do Ministério da Economia da Armênia.

“Os diamantes brutos vêm todos da Rússia. Os diamantes polidos, por sua vez, vêm da Rússia, mas também dos Emirados Árabes Unidos, da Bélgica e da Índia.”

Ao ser questionada sobre quem são os compradores dos diamantes lapidados na Armênia, Margaryan responde que são “Hermès, Tiffany, Patek Philippe etc.”

“Essas informações me foram passadas pelas empresas de diamantes que trabalham com essas marcas. É graças ao profissionalismo de nossos mestres artesãos que a Patek Phlippe e outras empresas trabalham conosco”, explica. Em um artigo publicado na imprensa especializada, Margaryan também menciona a Cartier.

Origem difícil de verificar

A indústria relojoeira suíça utiliza diamantes russos? “A Patek Philippe atribui grande importância ao fornecimento ético e à responsabilidade corporativa, e está ciente da complexidade do mercado global de diamantes”, responde laconicamente a empresa sediada em Genebra.

A Cartier, por sua vez, confia em seus fornecedores. “Nossos fornecedores garantem que os diamantes polidos que compramos não foram extraídos na Rússia após o início da guerra. Um de nossos fornecedores, que tem uma unidade de produção na Armênia, foi recentemente auditado por uma entidade independente”, explica a empresa.

De fato, rastrear a origem dos diamantes é extremamente complexo. “Eu não poderia dizer que não há diamantes russos aqui”, admite Ronny Totah, fundador da feira especializada GemGenève.

“Quando os suíços compram pedras lapidadas na Índia, por exemplo, é difícil saber de onde vem essa pedra”, acrescenta. “Ainda não encontrei uma solução”.

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Para Hans Merket, pesquisador no International Peace Information Service (IPIS) e especialista em diamantes, a situação na Suíça é motivo de preocupação. “Na Suíça, especialmente na indústria relojoeira, utilizam-se muitos diamantes pequenos. Por isso, é difícil abrir mão dos diamantes russos”, explica ele.

“No geral, a Rússia é responsável por um terço da produção mundial de diamantes. Mas no setor de pequenos diamantes, a Rússia é responsável por 60 ou 70% da produção. É por isso que a indústria relojoeira é altamente dependente desses diamantes russos.”

Hoje, o cerco ao redor dos diamantes russos está apertando. Após meses de discussão, o G7 anunciou que implementará restrições progressivas às importações de diamantes a partir de janeiro de 2024. E o 12º pacote de sanções da União Europeia contra a Rússia visa especificamente os diamantes russos.

Mas a implementação de um sistema de controle é complexa, principalmente dado o número de atores e países envolvidos. Além disso, é impossível determinar com certeza a origem de um diamante a partir de uma análise científica.

(Adaptação: Clarice Dominguez)

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