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Erika Stucky, entre jazz e o iodelei

O grande público conhece Erika Stucky desde sua participação no espetáculo de abertura da Expo.02. Felix Streuli

Nascida em Sao Francisco, Erika Stucky viveu seus nove primeiros anos na Califórnia antes de retornar ao vilarejo natal da sua família em Mörel, na parte germanófona do cantão do Valais (sul da Suíça).

A música dessa suíço-americana combina maravilhosamente sua dupla cultura, tanto alpina como metropolitana.

Como outros artistas suíços nascidos nos anos 1960, Erika Stucky teve sua consagração durante a ultima exposição nacional, a Expo.02, ao participar do espetáculo da abertura oficial.

Ela conquistou um lugar no circuito internacional do jazz através de um estilo que a coloca em uma posição entre Laurie Anderson, Frank Zappa e… Fifi Brindacier. Sua música vai e retorna entre o folclore suíça e texano, de um lado, e o “pesadelo da vida urbana”, do outro. Domiciliada em Zurique, mãe de uma menina de 16 anos, ela dá pelo menos um concerto por mês em várias partes do mundo e já gravou vários CDs.

swissinfo.ch: Você nasceu nos Estados Unidos e vive hoje na Suíça. Nesse sentido, você se considera mais como uma expatriada suíça ou americana?

Erika Stucky: Um pouco os dois, pois tenho dois passaportes. Mas eu não tenho apenas sangue suíço. Em 1904, meu avô Théodore Stucky saiu do seu Alto Valais natal para trabalhar como lenhador no Canadá. Depois ele se mudou para Sao Francisco, onde viveu dezoito anos. Ele tinha uma pista de boliche, um bar clandestino onde ele vendia uísque. Mas depois teve alguns aborrecimentos e foi obrigado a retornar à Suíça. Ele encontrou Philomène, com quem teve sete filhos, cinco meninos e duas meninas.

Depois três dos meninos partiram para a Califórnia em 1950 e um deles era o meu pai, Bruno. Em 1971, ele decidiu de retornar à Mörel, logo abaixo da geleira do Aletsch.

swissinfo.ch: Você tinha então nove anos quando chegou na Suíça. Você se lembra desse momento?

E.S.: Mas é claro! Lembro-me da água de Henniez: eu adorei essa água mineral bastante gasosa e pensava até que era água salgada, tão forte era o meu habito de bebidas açucaradas. De resto, tinha impressão que tudo era tão salgado. E além disso, os carros eram tão minúsculos, em uma época onde os automóveis americanos eram como monstros. Eu achava tudo interessante, inclusive até ir à confissão!

Quanto às pessoas, elas eram mais delicadas e muito mais calmas. Eu cheguei à escola, me coloquei frente a todos e disse “bom dia, eu me chamo Erika Stucky, vou lhes cantar uma canção. E então comecei com ‘You are my sunshine, my only sunshine…’.

Mas nesse pequeno ‘pueblo’ do Alto Valais, eu encontrei crianças muito tímidas. Elas não falavam, elas olhavam para o chão recitando poemas de Goethe, Rilke, Hesse ou outros. Eu tentava fazer como eles e de não olhar para ninguém, mas isso foi difícil…resumindo, a mudança foi radical!

swissinfo.ch: Como você começou a se interessar pelo iodelei, símbolo da música tradicional?

E.S.: Uma das minhas primeiras paixões foi o iodelei dos caubóis, esses potentes gritos de alegria. Mas, quando a gente vivia na Califórnia, meu pai nos bombardeava com o seu iodelei. Ele escutava muito mais esse estilo lá do que após seu retorno ao Valais. Ele tinha saudades, lhe fazia falta do chocolate, o vinho e, finalmente, o país, assim como para os outros suíços. Eu compreendo muito bem isso. Eles queriam preservar seu mundo e sua língua.

Depois, após a escola de jazz em 1985, eu criei meu primeiro grupo de música no estilo de “A-capella. A gente se chamava “The Sophistocrats”. Era eu com três outras cantoras e um baixo. Nós compramos um ônibus e fomos dar centenas de concertos em tudo quanto é lugar. Esses foram meus anos de iniciação e foi quando eu comecei a modelar minha própria musica. Para mim o iodelei não era algo cafona. Ele fazia parte do meu mundo e, ao mesmo tempo, era exótico.

Como sou binacional, tinha um olhar completamente diferente, pois me sentia bastante livre de interpretar o iodelei da minha maneira ‘flower power’. E depois, como aprendi o dialeto do Alto Valais, minha musica misturada é aceita pelos suíços.

swissinfo.ch: Então suas duas culturas se alimentam mutuamente?

E.S.: Sim, é verdadeiramente um trunfo que me permitiu escapar dos preconceitos e também à pressão das tradições. Mas se tornou sério em 1993 em Berlim, quando fui convidada pela banda de George Gruntz, cheia de estrelas do jazz. Subi no palco com um colar de dentes de alho, um calção de luta e segurando uma flor. Eu executei uma mistura de blues de New Orleans e de iodelei. Os dois mil espectadores adoraram e, nesse momento, percebi haver encontrado a minha direção. Ela sempre esteve lá, simplesmente. De repente estava calcando os sapatos do meu avo!

No início as pessoas achavam que eu era uma maluca, mas depois ocorreu a Expo.02 e o filme de Stefan Schwieter – “Heimatklänge” (Tons da Pátria) – e que teve um certo sucesso em 2007. Eu hesitei de atuar nele (com dois outros cantores de iodelei), pois não gostava do iodelei tradicional e tinha medo de estar fora do contexto, mas acabei aceitando e não me arrependi, pelo contrário.

swissinfo.ch: Você não gosta do iodelei com texto…mas escreve canções com textos?

E.S.: Ah meu Deus, essas histórias de fontes e vacas não são o meu mundo. Quando escrevo os textos, gosto de falar de aeroportos e estações de trem.

E além disso, eu faço diferenciação entre o iodelei tirolês, bastante alegre e rápido, quase esportivo e festivo, e o iodelei suíço, que soa de uma forma completamente diferente. Ele é mais triste. Eu o chamo mesmo de “iodelei-suicidário”, do título de um dos meus álbuns. Os suíços não falam muito. Eles são melancólicos e dão quase a impressão de estar com saudades do país natal, mesmo estando nele.

De todas as maneiras, eu só gosto do iodelei puro, essa espécie de grito não articulado, totalmente livre e sem mensagem. Eu não misturo com as minhas canções. Não gosto do iodelei “rock’n roll”. Ou eu faço um sushi, ou uma fondue: eu nunca coloco o sushi na fondue.

Isabelle Eichenberger, swissinfo.ch
(Adaptação: Alexander Thoele)

Iodelei (do inglês yodelling ou jodelling, às vezes escrito com grafia -eling, e este do alemão Jodeln, substantivo neutro, do verbo jodeln, é uma forma de canto utilizando sílabas fonéticas, criando um som que muda rapidamente e repetidamente. A palavra iodelei ou jodeln é uma palavra onomatopéia, ou seja, uma palavra cuja sonoridade imita a voz, ruídos de objetos ou animais.

Esta técnica vocal é usada em muitas culturas, mas é principalmente conhecida na região dos Alpes, pois a região favorece o eco por seu terreno acidentando cheios de vales, lagos e rochedos. (Wikipédia em português)

Nasceu em Sao Francisco, Califórnia, em 1962. Ela retorna à Suíça em 1971 para viver em Mörel, no Alto Valais. Hoje vive em Zurique com sua filha de 16 anos.

1980-1985: Escola de jazz e cursos de teatro em Paris. Depois escola de cinema em Sao Francisco, EUA.

1985: ela cria seu primeiro grupo no estilo de “A-Capella”. Ele se chamava “The Sophisticrats” e era formado com outras três cantoras e um baixo. Eles fazem turnês por todas as partes e dão 500 concertos.

1991: Ela funda o grupo “Bubble Town” com Marco Raoult, com quem dá centenas de concertos através da Europa.

1994: solista do grupo de jazz de George Gruntz em Berlim, com quem ela cantaria depois regularmente.

1997: ela cria em Leningrado o trio “Mrs. Bubble & Bones” e depois realiza diversas apresentações.

2002: Concerto de abertura da exposição nacional Expo.02 com o grupo Roots.

2007: participa do filme “Heimatklänge”, de Stefan Schwietert, no qual participam Christian Zehnder e Noldi Alder.

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