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Festival de Filmes de Friburgo é um elo Norte-Sul

Cena de "A grande viagem", que abriu o FIFF (divulgação). "A grande viagem" abre o FIFF

Aceno ao Islã na abertura, temas de atualidade, inclusive brasileira, nos filmes em competição, uma tentativa de análise do mundo através do cinema em mais de cem películas.

O 19o. Festival de Filmes de Friburgo abre suas portas de 6 a 13 de março.

A apresentação desse verdadeiro mosaico da produção cinematográfica de países da África, Ásia e América Latina – geralmente excluída dos grandes circuitos de distribuição – começou domingo, 6 de março, com um filme marroquino Le Grand Voyage (a grande viagem), primeira obra de Ismael Ferroukhi.

A importância de Frrroukhi, segundo Martial Knaebel, diretor artístico do Festival de Friburgo, “é mostrar o Islã de maneira mais humana e normal, como uma religião semelhante às outras”.

No filme o pai, árabe e muçulmano, e o filho ocidentalizado na Europa, se descobrem através de uma viagem de 500 mil km, do Sul da França à Meca. Na descoberta mútua, pai e filho se aproximam e se entendem.

Elo com a atualidade

Num mundo em que o Islã é diabolizado com assimilações abusivas, em particular depois do atentados de 11 de setembro, esse filme marroquino pode servir, de fato, para aproximar culturas diferentes. O que, aliás, não deixa de ser um dos objetivos do Festival de Friburgo.

Grandes temas de atualidade aparecem nos filmes em competição – procedentes de onze países – como o conflito Iraque – Estados Unidos em Lakpohsta Ham Parvaz Mikonand (as tartarugas também voam), de Bahman Ghobadi; o problema da guerra civil étnica na África em La Nuit de la Vérité, de Fanta Regina Nacro ou ainda, ou problemas de sociedade, como em O Diabo a Quatro, da brasileira Alice de Andrade.

Alice é filha do conhecido cineasta brasileiro, Joaquim Pedro de Andrade, realizador de Macunaíma, que também figura entre os 103 filmes projetados em Friburgo no quadro de uma retrospectiva intitulada Filmar o Invisível.

“Obra de arte”

A retrospectiva propõe “uma reflexão sobre o homem”, observa Martial Knaebel. “Outros dirão reflexão sobre a alma ou sobre a consciência”. A Retrospectiva, lembra o especialista, não é uma coisa estática, algo demasiado fechado e sério.

“Com freqüência, as pessoas vêm nos dizer que cinema é lazer, passar tempo, repouso… Nós consideramos um filme como uma obra de arte ou uma tentativa de obra de arte. Vamos ver se o público de Friburgo vai também achar que cinema é obra de arte e quais as reflexões esses filmes podem aportar”, destaca ainda o diretor artístico do evento.

A mesma retrospectiva, que reúne mais de 20 filmes, inclui ainda o já quadragenário Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, e obras a que o público suíço raramente teve acesso, tirando uma ou outra exceção, como Nazareno, de Buñuel e Yeelen, de Souleymane Cissé, do Mali.

A Argentina com a parte do leão

Nos longas metragens Hors Concours o festival revela também muitas surpresas: as 12 produções projetadas em Friburgo são quase todas de 2004. Como também ocorre na Suíça, é Hollywood que predomina. Só eventos como esse festival podem trazer tais obras ao mercado europeu.

Embora na seleção fora de competição predomine obras do cinema argentino, que, constata Knaebel, são muito solicitadas nos últimos anos: “Temos três filmes de qualidade, de realizadores argentinos conhecidos e reconhecidos internacionalmente. O último de Ana Poliak (Parapalos), o último de Edgardo Cozarisnsky (Ronda Noturna) e o último de Pablo Trapero (Familia Rodante).

Já na lista dos documentários apresentados predominam filmes africanos e europeus. Há uma explicação. Poucos grandes documentários conseguem ser produzidos sem ajuda européia, seja na África, Ásia ou América Latina:”É geralmente co-produção porque é um gênero que pode ter êxito na Europa”, lembra Knaebel.

Toque suíço

Os resultados podem surpreeder. Exemplo: Cantando Bajo la Tierra – produção espanhola que homenageia os músicos de rua – é um filme elaborado por um cineasta argentino que ensina na famosa escola cubana de San Antonio de los Baños.

Há por fim certa expectativa em torno de um Panorama Palestina-Israel que traça 3 décadas de um dos conflitos mais mediatizados do mundo e que atualmente se encontraria em etapa crucial.

OS dezenove filmes do Panorama constituem uma “memória suíça” na busca do diálogo, da compreensão do outro ou pelo menos uma interrogação sobre uma situação dolorosa em que dois povos estão condenados a se entenderem mais cedo ou mais tarde.

swissinfo, J.Gabriel Barbosa, Fribourg.

Três obras brasileiras no Festival:
O diabo a Quatro (em competição), de Alice de Andrade; Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade; Deus e Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, ambas integrantes de uma retrospectiva.

OFIFF é uma verdadeira maratona para cinéfilos que apreciam cinematografias diferentes das hollywoodianas: mais de cem filmes – curtos, médios e longos metragens de ficção ou documentários.

Como escrevia o jornal La Liberte de Friburgo (5.3.05) são “imagens para lutar contra a ignorância , a indiferença, a resignação e o esquecimento”.

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