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Festival de Locarno: “O Leopardo não envelhece”

Frédéric Maire se orgulha de abrir a 60a. edição do festival de cinema em Locarno. swissinfo.ch

Desde que assumiu a direção do Festival Internacional do Filme de Locarno, há um ano, Frédéric Maire consegue manter sua tranqüilidade frente às grandes expectativas de um dos mais importantes eventos culturais da Suíça.

O diretor do “Pardo”, o diminutivo carinhoso do festival, viajou por vários países do mundo para selecionar os filmes que irão dar o clima para o evento. Uma entrevista swissinfo.

swissinfo: o festival comemora em breve os seus sessenta anos de existência. Podemos dizer que ele é como um bom vinho?

Frédéric Maire: essa não é exatamente a melhor comparação. Eu diria muito mais que o “Pardo” não envelhece e que ainda conseguiu conservar toda sua juventude. O festival se caracteriza pelo seu dinamismo e frescor, sobretudo pelo fato de procurarmos sempre descobrir novos filmes e apresentar novas tendências cinematográficas.

swissinfo: Como foram os preparativos para a última edição na posição de diretor do evento?

F.M. : Nós o construímos sobre os pilares firmados no ano passado e os sucessos garantidos em 2006, tanto junto ao público como internacionalmente. Uma vez ainda, a seleção é realizada sob critérios rigorosos. Eu ressalto aqui que um grande número de filmes apresentados em Locarno se tornou posteriormente sucessos internacionais.

Em 2007 posso dizer que tivemos condições ideais para preparar essa edição do evento. Nesse sentido conseguimos assegurar a presença de diversas obras de envergadura, com as quais iremos oferecer algumas boas surpresas e reservar momentos mágicos para os fãs e cinéfilos que virão à Locarno.

De uma forma geral, os preparativos desse tipo de evento não apresentam grandes dificuldades. Podemos dizer que, com o aniversário, tivemos algumas vezes a sensação de estar orquestrando dois festivais em um.

swissinfo: Como se prepara uma edição de aniversário do Festival Internacional do Filme de Locarno dessa importância? Você acrescentou alguns elementos especiais?

F.M. : Minha primeira preocupação é de propor um programa de qualidade do ponto de vista de conteúdo. E depois, todo aniversário deve ser celebrado e reservar alguns momentos comemorativos e festivos. Eu estou muito consciente disso. Mas para mim, os verdadeiros deuses do festival são, e continuarão a ser, sempre os filmes.

Isso não impede que alguns dos longas-metragens que iremos apresentar em Locarno nos dêem a ocasião de receber algumas estrelas. O festival irá homenagear as divas do cinema italiano através do programa intitulado “Signore & Signori”, que organizamos em conjunto com a Cinecittà. Nossa idéia é fazer uma retrospectiva dos 60 anos do cinema italiano.

Esperamos evidentemente enriquecer essa viagem no tempo através da presença “virtual” de algumas grandes atrizes e o seu glamour sobre os tapetes vermelhos. Eu ressalto aqui o “virtual”, pois em Locarno não temos e nem queremos o tapete vermelho. Nós preferimos o nosso majestoso telão branco na praça principal da cidade.

swissinfo: Justamente, o anúncio da sexagésima edição do festival é sóbria e apurada. O retorno ao essencial e uma certa pureza: isso pode ser visto com a marca registrada de Frédéric Maire?

F.M. : A pureza é um termo que faz um pouco de medo, sobretudo no contexto do cinema. O cartaz de 2007 ilustra a idéia de uma tela branca enquadrada pela Piazza Grande (a praça central de Locarno). Um telão iluminado que ousa permitir tudo e que está aberta também a todos.

Nesse sentido, sim, ele é puro, pois é branco e virgem. Porém, ele deve também poder receber todos os gêneros. Sob este ângulo, o cartaz reflete a abertura absoluta de Locarno frente ao mundo do cinema.

Nos quesitos ‘pureza’ e ‘simplicidade’, elas caracterizam efetivamente a estrutura do festival. Com outras palavras: muitas das competências, do profissionalismo e poucos excessos. Somos um pouco estruturados como esses belos relógios suíços: temos uma linha pura e essencial, que esconde uma grande complexidade interior.

swissinfo: No contexto internacional e além das suas qualidades de abertura, como você definiria o festival de Locarno?

F.M. : Eu gostaria de afirmar que Locarno é “O” festival da descoberta por excelência. De fato, ao preparar o programa dessa última edição, minha equipe e eu mesmo descobrimos como Locarno já serviu de trampolim para diretores jovens e novos no mercado. Uma parte importantes destes últimos foram aplaudidos depois em Cannes ou Veneza.

Eu gostaria também de retornar à forma que sonhava Locarno: trata-se de um grande festival, muito profissional, mas modesto, que se atém mais à substância do que às mundanidades. Sob esse ângulo, o “Pardo” deve poder afirmar sua diversidade, uma verdadeira palavra-chave para a nossa manifestação. Meu desejo é que ele seja considerado como um festival “à parte”, como dizem os franceses.

swissinfo: Sobre o plano humano e profissional, como você viveu sua primeira edição do festival?

F.M. : Logo que, pela primeira vez na vida, eu subi sobre o palco na Piazza Grande, com as costas viradas ao publico e com os olhos fixados no enorme telão – como eu o fazia desde vários anos como crítico de cinema – eu tive um sentimento estranho: eu me perguntei o que estava fazendo no local. Mas eu rapidamente compreendi que o meu lugar era exatamente lá.

Ao remexer nos nossos arquivos para preparar essa edição, eu fiquei feliz de constatar que meu trabalho está alinhado com o que foi realizado pelos diretores que me precederam. Com eles, eu partilho também a preocupação de fazer do festival um verdadeiro laboratório do cinema em movimento.

swissinfo: Qual a lembrança de 2006 que você gostaria de apagar da memória?

F.M. : Eu gostaria de apagar as 24 últimas horas do festival. Você sabe, eu fui impedido por questões de ordem “técnica” (risos) de estar presente na noite de entrega dos prêmios devido a minha hospitalização por questões de saúde. Por esta ausência, eu tive a impressão de não ter concluído como deveria o festival. Resumindo: eu gostaria realmente de poder voltar nesse momento.

Já em relação às boas lembranças, elas são numerosas. Se você pedir que eu escolha apenas uma, eu diria que foi meu encontro com Aki Kaurismaki, quando ele aceitou subir ao palco contra a sua vontade, seu medo e timidez. Ele realmente é um grande diretor de cinema.

Estar ao seu lado, frente ao público de uma grande praça, que aplaudia um diretor que dificilmente aceita louvores e perceber a intensa emoção que ele sentia, permanece para mim momentos inesquecíveis do festival no ano passado.

Entrevista swissinfo: Françoise Gehring, Locarno

A 60a. edição do Festival Internacional do Filme de Locarno ocorre de 1 a 11 de agosto de 2007.
80 filmes participam da mostra principal.
160 longas- e curtas-metragens serão exibidos durante os dez dias de realização do festival.
Mais de 80 filmes serão exibidos pela primeira vez.
No total, 30 países estarão representados em Locarno.
19 filmes competem pelo “Leopardo de ouro” na competição internacional, incluindo também o cineasta suíço Fulvio Bernasconi.
O dia 7 de agosto será consagrado ao cinema suíço.
No total, 35 filmes suíços participam de diversas categorias na seleção de 2007.

Frédéric Maire nasceu em 27 de outubro de 1961 em Neuchâtel, de um pai suíço e mãe italiana.

Antes de ser nomeado para a direção do Festival Internacional do Filme de Locarno, ele trabalhou como crítico de cinema, jornalista e diretor. Ele também foi co-fundador e dirigiu a Lanterna Mágica.

Desde 1986, Maire colaborava regularmente com a organização do festival em Locarno, onde ele exerceu várias funções. Ele também fez parte da comissão de programas de 1997 a 2000.

Por ocasião do 50o aniversário do festival, Maire havia publicado um livro intitulado “Festival Internacional do Filme de Locarno, crônica e filmografia, 10 anos, 1988-1997”.

Desde 2001, Frédéric Maire é membro da comissão para o apoio à cultura cinematográfica no Departamento Federal da Cultura (seção ‘Cinema’). Ele preside esse órgão desde 2004.

Em outubro de 2005 o suíço foi convidado à reassumir o cargo de diretor artístico do Festival Internacional do Filme de Locarno, seguindo o anúncio de despedida de Irene Bignardi.

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