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Leuthard assina acordo com o Brasil

Doris Leuthard e Celso Amorim conversam na varanda do Palácio do Itamaraty em Brasília. Keystone

No terceiro dia de visita oficial ao Brasil, a ministra suíça da Economia, Doris Leuthard, teve encontros com autoridades brasileiras em Brasília, capital federal.

Juntamente com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a ministra suíça assinou um memorando de entendimento para a criação de uma Comissão Mista sobre Relações Comerciais e Econômicas.

Acompanhada de uma delegação de empresários suíços que têm negócios na América do Sul, a ministra suíça da Economia, Doris Leuthard faz no Brasil sua primera visita um país do grupo denominado BRIC, composto por Brasil, Rússia, Índia e China, que tornaram-se prioritários para política comercial suíça.

Depois de ter passado dois dias em São Paulo, a delegação suíça esteve quinta-feira em Brasília, capital brasileira.

Pela manhã, Leuthard esteve com o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Luís Carlos Guedes Pinto. Além de tratar de temas relativos à Rodada de Doha, a ministra suíça ouviu uma exposição de Guedes Pinto e empresários brasileiros da área de cana-de-açúcar, comercialização e abastecimento agrícola e pecuário sobre a pioneira produção brasileira de biocombustíveis.

Outro assunto da pauta foi a crescente produção de algodão e soja – itens de exportações brasileiras que ainda não fazem parte das importações suíças.

Em termos de agronegócio, a balança tende para o lado brasileiro. De acordo com dados do Ministério da Agricultura do Brasil, em 2006, a Suíça importou cerca de US$ 320 milhões em produtos do agronegócio brasileiro como celulose, suco de laranja, carne bovina, carne de frango, café, fumo não manufaturado e arroz. Em exportações, os helvéticos negociaram cerca de US$ 24 milhões com os brasileiros, principalmente com papel, chocolate e preparações alimentícias.

No final da tarde, a comitiva seguiu para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, onde foi recebida pelo ministro Luiz Fernando Furlan.

Resultado concreto

No entanto, o encontro mais importante do dia foi com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, no Palácio do Itamaraty. O encontro resultou no principal ato concreto da viagem.

Leuthard e o ministro brasileiro deram o primeiro passo para fortalecer o comércio entre os dois países: assinaram o memorando de entendimento para a criação de uma Comissão Mista sobre Relações Comerciais e Econômicas. De antemão, já ficou acertada uma reunião ainda este ano para que sejam ultimados os detalhes do entendimento bilateral. A data ainda não foi definida, mas o encontro será em terras helvéticas.

No ano passado, o comércio entre Brasil e Suíça movimentou cerca de US$ 2,1 bilhões, número 25% superior ao montante de 2005. Amorim e Leuthard concordam que a tendência é de que o comércio aumente ainda mais, pois a conversa mostrou-se produtiva.

“Hoje em dia, há um superávit em favor da Suíça, mas não estamos preocupados com déficit ou superávit. Queremos que o comércio entre os dois países seja dinâmico e que possa ser cada vez mais aprimorado”, afirmou Amorim.

“Os suíços estão impressionados com as reformas que estão em curso no país e a estabilização macro-econômica alcançada”, disse Leuthard. “O Brasil é o nosso maior parceiro na América do Sul, mas todos nós sabemos que podemos fazer melhor”, acrescentou.

A expectativa é de que o memorando de entendimento possa acelerar o estreitamento da relação entre os países e abra novas possibilidades de aproximação. “Nós queremos minimizar os problemas encontrados pelas empresas européias que querem investir no Brasil. Faz-se necessário encarar e minimizar os obstáculos”, explicou Leuthard.

A questão do Biocombustível

Nos três encontros com ministros brasileiros e em visita feita a Piracicaba (interior do estado de São Paulo), Leuthard mostrou interesse em um setor promissor da economia brasileira: energia renovável.

Depois de conhecer o Pólo Nacional de Biocombustível e uma usina paulista na quarta-feira, a ministra elogiou a tecnologia dos motores bicombustíveis (álcool e gasolina) e incentivou sua divulgação na Europa. “Os engenheiros que me acompanharam na visita ficaram muito interessados”, afirmou.

Na entrevista no Palácio do Itamaraty, a ministra deixou claro que a Suíça tem interesse na importação de fonte de energia renovável, especialmente limpa e sustentável, como o biocombustível brasileiro.

“Há uma tendência da Suíça em tratar o etanol como uma commodity energética. Creio que isso nos possibilitará bons investimentos dos dois lados”, avaliou Leuthard, já deixando a determinação para que a embaixada suíça no Brasil inicie os contatos com o Ministério da Agricultura visando estabelecer um acordo.

Em contrapartida, os helvéticos ouviram a proposição de cooperação bilateral para desenvolver tecnologia. “O projeto precisa trazer benefícios para os dois países, com a conseqüente distribuição dos recursos adicionais alcançados”, afirmou Amorim.

“A energia renovável é um elemento muito interessante para nossas conversas. Ainda temos que verificar como trabalhar, mas a Suíça pode ajudar no maquinário, nos procedimentos e no campo das pesquisas”, respondeu Leuthard.

Outro ponto discutido no Itamaraty foi a retomada da negociação multilateral da Rodada de Doha, negociações promovidas desde 2001 pela Organização Mundial do Comércio (OMC) para reduzir tarifas de importação.

Tanto suíços quanto brasileiros reforçaram que a flexibilidade deve ajudar a melhorar as relações entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento. De acordo com a ministra suíça, os dois países compartilham valores e desejos, e concordam que as conclusões das reuniões possam beneficiar a todos.

“Meu país tem a intenção de se tornar uma ponte para o sucesso da Rodada”, afirmou Leuthard, depois de ouvir do ministro brasileiro que a Suíça exerce uma liderança importante no evento. “No entanto, se a diplomacia não conseguir passar dos resultados bilaterais, se estabelecerá um problema”, completou a suíça, esperando que uma resposta ao impasse saia até o final de março.

Mercosul e Efta

Ainda no tema dos blocos econômicos, os dois também trataram dos acordos do Mercosul e a União Européia – embora a Suíça não faça parte do grupo. Amorim destacou que a conversa indicou caminhos para futuros entendimentos entre o Mercosul e a Associação Européia de Livre Comércio (EFTA), da qual a Suíça é membro, juntamente com Islândia, Liechtenstein e Noruega.

O encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acabou não ocorrendo nesta quinta. No entanto, Lula e Leuthard poderão conversar pessoalmente nesta sexta-feira, em Feira de Santana, na Bahia, onde participarão da inauguração de uma fábrica da Nestlé – a 27ª da empresa suíça no Brasil.

De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, os suíços investiram cerca de US$ 45 milhões somente neste novo pólo industrial.

“A Nestlé é um grande investidor no Brasil. Assim, os suíços estão criando cerca de mil empregos diretos e outros mil indiretos em uma região que não é muito industrializada”, disse Leuthard.

swissinfo, Abelardo Mendes Junior, Brasília

90 mil brasileiros trabalham nas empresas suíças instaladas no Brasil.
6,5 bilhões de francos suíços são os investimentos suíços acumulados no Brasil, até 2005.

A visita da ministra da Economia, Doris Leuthard, ao Brasil é a primeira a um país do grupo chamado BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China, prioritário para o comércio suíço.

Leuthard passou dois em São Paulo, em encontros com empresários suíços e brasileiros. Visitou a Escola Suíça, a Fiesp, o Escola de Agronomia Luis de Queirós, em Piracicaba (interior de São Paulo) e uma usina de produção de etanol.

Quinta-feira (08/02) a ministra – sempre acompanhada por uma delegação de empresários e executivos com negócios no Brasil – esteve em Brasília, onde reuniu-se com os ministros da Agricultura, Indústria, Comércio e Exportação e Relações Exteriores.

Com o ministro Celso Amorim, assinou um memorando de entendimento para a criação de uma Comissão Mista para Relações Comerciais e Econômicas. Uma primeira reunião sobre essa Comissão será realizada ainda este ano, na Suíça.

Sexta-feira, 09/02, Doris Leuthard participa da inauguração de uma nova fábrica da Nestlé em Feira de Santana, na Bahia, em que o presidente Lula também estará presente.

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