The Swiss voice in the world since 1935

Ongs criam Rede Internacional pela Justiça Fiscal

Campanha pelo pagamento de impostos na China, em 1998. Keystone

Está surgindo uma nova frente de luta contra contra a globalização, desta vez contra o sistema financeiro.

Organizações não governamentais estão tentando formar uma coalisão mundial com sindicatos, Igrejas, universitários, parlamentares e instituições internacionals para lutar contra a evação fiscal.

A informática e a liberalização dos mercados permitem aos capitais de escaparem cada vez mais dos impostos.

Os grandes perdedores são os contribuintes, as pequenas empresas e os países pobres, que não têm meios de conter a evasão fiscal, privando-se de recursos para promover o desenvolvimento.

Os impostos continuam nacionais

A constatação é de organizações não governamentais (ONGS) que acabam de lançar a Rede Internacional pela Justiça Fiscal, com a intenção de lutar contra a evasão fiscal em todo o mundo.

150 pessoas em 21 países já fazem parte da Rede, que quer extender-se a sindicatos, Igrejas, universitários, parlamentares e dialogar com organizações internacionais e governos.

“Os aproveitadores da mundialização e seus conselheiros financeiros agem de maneira a solapar a coesão social, reduzindo os recursos do Estado”, afirma a Comunidade de Obras de Ajuda (CT), uma organização suíça.

A economia se globalizou mas os impostos continuam nacionais, o que leva empresas e grandes fortunas a pagarem impostos onde o fisco é mais leve.

Paraisos fiscais

“Se as grandes empresas e grandes fortunas, que falam de responsabilidade social e de ética, não pagam impostos, isso provoca o aumento da carga tributária de assalariados e das pequenas e médias empresas que não podem escapar do fisco”, afirmou a swissinfo Andreas Missbach, da Declaração de Berna, outra ong suíça engajada na Rede Internacional pela Justiça Fiscal.

Segundo o economista John Chistensen, ex-conselheiro das autoridades britânicas das Ilhas Jersey (para onde teria ido o dinheiro do ex-prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, depois de passar pela Suíça), “quase todas as multinacionais utilizam paraísos fiscais para pagar menos impostos”.

A Declaração de Berna estima que metade das transações financeiras e do comércio mundial usa centros extraterritoriais (offshore) e que hoje são parte integrante do sistema financeiro mundial.

Pressões sobre a Suíça

“Esse problema interessa também às organizações internacionais como o FMI e a OCDE, grupo dos 29 países mais industrializados”, afirma Andreas Missbach.

Tanto a OCDE quanto a União Européia vêm pressionando a Suíça para obter maior colaboração das autoridades de Berna. Um acordo sobre a fiscalidade da poupança está sendo negociado com a UE.

Segundo estimativas de especialistas, apesar da concorrência de Luxemburgo e do Reino Unido, a praça financeira suíça (200 mil empregos) administra de um quarto a um terço da fortuna privada mundial “offshore”.

As pressões devem-se a uma ambigüidade na legislação suíça: a fraude fiscal é considerada crime e pode ser objeto de assistência judiciária a outro país; a evasão fiscal não é crime.

“Conforme nossos cálculos, a Alemanha recolhe atualmente quase zero de imposto sobre grandes fortunas enquanto existem 400 bilhões de euros pertencentes a alemães em bancos suíços”, afirma Missbach.

Qual a solução?

“O acordo que a Suíça está negociando com a UE deveria ser extendido aos países pobres”, afirma Bruno Gurtner, da seção alemã da ong Attac. Segundo ele, os países pobres perdem 50 bilhões de dólares por ano em receitas, devido a fraude fiscal.

Qual a solução? “A Rede Internacional pela Justiça Fiscal não tem resposta pra tudo”, afirma Andreas Missbach. Queremos discutir muito para encontrarmos soluções.”

Para as fortunas privadas, no entanto, a Rede defende um sistema de troca de informações entre autoridades para saber se o capital foi ou não taxado no país de orrgem. Se não o caso, um mecanismo permitiria que os impostos fossem cobrados e devolvidos ao país de origem.

swissinfo, Claudinê Gonçalves

– A criação da Rede Internacional pela Justiça Fiscal começou a ser discutida no Fórum Social Europeu, em Florença, em 2002.

– As discuções prosseguiram no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, em 2003.

Especialistam estimam em:
– 10 trilhões de dólares o total de fortunas privadas depositadas em paraísos fiscais (3,4 bilhões na Suíça); deixam de ser arrecados cerca de 280 bilhões;
– 50 bilhões de dólares são perdidos pelos países em desenvolvimento em fraudes fiscais;
– 170 bilhões de francos suíços provenientes dos países em desenvolvimento estariam depositados na Suíça, em 2001.

Mais lidos

Os mais discutidos

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR