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Friburgo é “festival de trincheira”

Cineasta Vladimir Carvalho, realizador de "Barra 68". swissinfo/SRI

O festival de cinema de Friburgo é de suma importância para os "países periféricos" lembra o cineasta Vladimir Carvalho. Para o crítico Carlos Brandão é um "festival de trincheira". Ambos falavam no encerramento do evento, dia 17.

O que ocorre hoje – constata Carlos Brandão, crítico de cinema autônomo – é uma situação de “domínio absoluto da cinematografia norte-americana”. Essa cinematografia ocupa no Brasil 95% das telas, lembra Brandão. Na Suíça chega a 80%.

Falando por ocasião do Festival de Filmes de Friburgo – realizado de 10 a 17 de março – o crítico estima que na maioria dos países o nível de penetração dos filmes “made in USA” deva oscilar justamente entre esses dois níveis.

Trincheira de resistência

Uma exceção nessa predominância dos filmes norte-americanos é a França, realça ainda: “Com um trabalho inteligente junto ao Governo e as Tvs, o País conseguiu ocupar cerca de 50% de suas telas”. Fora disso, o festival de Friburgo representa “uma trincheira de resistência para o resto do mundo, tirando dois ou três países”.

O cineasta Vladimir Carvalho – que concorreu, na categoria documentários como “Barra 68”, sobre a Universidade de Brasília quase destruída pelos militares – acentua o significado do Festival (reservado a obras dos “países do Sul”) para países fora do mercado convencional, destacando que Friburgo é “uma espécie de esquina, um ponto de encontro, um estuário em que desembocam diferentes culturas”.

Carvalho lembra que na cidade se pode conviver com cinematografias da Ásia, África e América Latina ou onde queira que se faça cinema, ou seja, “países que não dispõem dessa oportunidade de intercâmbio”.

Qualidade

Carlos Brandão cita, como exemplo, dois países “que vêm produzindo filmes da melhor qualidade”: Argentina e Coréia do Sul. Qualidade que, segundo o crítico, os norte-americanos perderam há muito tempo. Não que os diretores, roteiristas e atores dos Estados Unidos sejam ruins. Mas o cinema do País – com exceção do cinema “gringo” independente que tem os mesmos problemas – “está todo voltado para a bilheteria”.

Cinematografias como a argentina, sul-coreana e iraniana buscam debater dramas, esperança, solidariedade, em suma a própria condição humana. Buscam recuperar um pouco “o lado humanizante que o ser humano vem perdendo”.

Imperialismo

Vladimir Carvalho destaca que nos chamados países periféricos se vivem os problemas mais cruciais para a humanidade: “Problemas presentes, graves, e aflorantes que angustiam suas populações, o que naturalmente o cinema reflete”.

Carvalho considera que os americanos e europeus estão com seus problemas resolvidos. Avançam e parece até que voltam aos velhos conceitos de imperialismo, “fazendo novamente a guerra, conturbando a história da humanidade” e viram as costas a países que precisam resolver dificuldades do momento.

Essas novas cinematografias precisam de espaço, porque são porta-vozes, representativas de algo novo, de algo que está germinando por baixo de todo esse sofrimento que é mundial, destaca ainda o cineasta.

J.Gabriel Barbosa

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