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Friburgo, cidade aberta ao folclore do mundo

Músicos da trupe do Teatro Real de Hué, Vietnã, prestes a participar de emissão radiofônica em Friburgo. swissinfo.ch

Pelo 33° ano consecutivo, Friburgo acolheu, com sucesso, conjuntos folclóricos de peso, procedentes dos quatro cantos do mundo.

Os “Encontros Folclóricos Internacionais” (RFI) são o único evento anual do gênero na Suíça e figura entre os melhores da Europa.

Como em todo o verão, desde 1974 – e sempre no mês de agosto – esses Encontros vêm cadenciar a vida da tranqüila de Friburgo. As ruas da cidade (35 mil habitantes) assumem aspecto de coloridas colchas de retalho. Os desfiles, espetáculos gratuitos ao ar livre, exibições de gala em recintos fechados e demonstrações didáticas de danças são atrações acessíveis a todos.

Esta edição de 2007, encerrada no domingo, 25 de agosto, reuniu grupos de dez países: Azerbaijão, Chipre, Canadá, Espanha, Paraguai, Romênia, Senegal/Gâmbia, Sri Lanka e Vietnã que deram um pouco de vibração à cidade suíça.

As músicas e danças de horizontes tão diferentes servem para “mostrar a diversidade cultural de nosso mundo”, diz Albert Bugnon, do comitê de organização, responsável pela escolha dos participantes, e um dos pilares do RFI.

“Folclore não é artigo de museu”

“É muito importante que toda pessoa saiba que tem um vizinho diferente de si mesmo, que se exprime de maneira diferente. Essa diversidade cultural é uma grande riqueza para nosso planeta”.

Bugnon faz questão de frisar que o folclore não é artigo de museu. Para os artistas de tantos países presentes em Friburgo, o folclore “é algo de hoje, a maneira deles de se exprimirem”.

Afinal, conclui, “cada um tem sua identidade, gosta de expressá-la e de compartilhá-la”.

Os “Encontros” pretendem, portanto, estimular o intercâmbio, a descoberta do outro. O que se pôde fazer este ano através das diferentes ‘propostas’: o brio e a elegância da música mughaam, do Azerbaijão, país mais conhecido pelo seu petróleo.

Através da Fanfarra Savala, da Romênia, com sua brilhante e envolvente música cigana. Através do Balé Catalão Esbart Sant Marti, integrado por 20 pessoas, acompanhadas por 12 músicos que mantêm viva a tradição da jota, do bolero e do fandango. Ou ainda do grupo “Paraguai Eté” (=Paraguai verdadeiro) com sua músicas românticas e plenas dinamismo, ao som melodioso da harpa e do violão, para citar alguns.

Mas com representantes de 10 países, a escolha era múltipla.

Folclore é o “gênio de um povo”

Esses Encontros de uma semana são mais uma prova de que o folclore continua vivo. A importância do folclore já foi evidenciada no século XX pelo interesse que compositores famosos como Bela Bartok e Villa-Lobos manifestaram por esse gênero de música.

Se a palavra folclore pode designar aspecto pitoresco ou antiquado de alguma coisa (dizendo “isso não passa de folclore” estamos dando-lhe essa conotação), o vocábulo – tirado do inglês folk, povo, e lore, saber, tradição – é “o saber tradicional de um povo”, revelado pelas suas canções, danças ou outras formas artísticas.

O termo já foi definido como o “gênio de um povo”, quer dizer, aquilo que lhe é distintivo. E como expressão de identidade, denota, então, o que lhe é mais íntimo, nos transportando às raízes, aos fundamentos, às bases de uma cultura.

Intercâmbio, arma contra o preconceito

Os”Encontros Folclóricos de Friburgo” têm, portanto, mais que razão de ser, contribuindo para evitar que parte de uma “história não escrita” caia no esquecimento.

Por outro lado, reunindo por uma semana dezenas e dezenas de pessoas de culturas tão variadas, fomenta-se um intercâmbio. Quem diz intercâmbio, diz troca, diálogo, que é uma arma eficaz contra o preconceito.

Isso só pode fazer bem à Suíça, onde o partido mais forte do país (UDC/SVP) prega uma política severa em relação aos estrangeiros. Uma política que não tem nada de abertura, mas de fechamento.

Aí estamos a um passo da xenofobia, o que não tem nada a ver com o espírito dos “Encontros Folclóricos de Friburgo”. Muito ao contrário…

swissinfo, J.Gabriel Barbosa, de Friburgo

Criado em 1974, os “Encontros Folclóricos de Friburgo” (RFI, de Rencontres Folkloriques Internationales) tornaram-se importante evento do gênero na Europa. Na Suíça, é o único de cadência anual.
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Festival semelhante em Martigny, cantão do Valais (FIFO), é bienal e tem orientação diferente na escolha dos participantes.

Existe também um festival em Neuchâtel (oeste) e outro em Zurique, ambos organizados por comunidades folclóricas de imigrantes.

Os RFI fazem parte do Conselho Internacional dos Organizadores de Festivais de Folclore e de Arte Tradicional (CIOFF), ONG ligada à UNESCO.

O RFI prioriza grupos autênticos ou tradicionais: acompanhados por instrumentos autênticos ou fielmente reconstruídos. As danças e os trajes devem ser tradicionais de uma região.

Há certa tolerância com “os grupos elaborados”, mas não com “os grupos estilizados”.

Trinta e três anos depois, os RFI necessitam de 250 ‘voluntários’ para que funcione bem.

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