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Grandeza e decadência do centro-direita

A cara de insatisfeitos dos deputados do PDC Jean-Michel Cina (à esquerda) e Philipp Stähelelin. Keystone

Quarta-feira (10/12), o Parlamento suíço vai eleger ou reeleger os 7 membros do Executivo Federal. Enfraquecido, o Partido Democrata-Cristão (PDC) pode perder um dos seus dois ministérios.

O PDC está no governo federal há mais de um século e atravessa uma grave crise.

Pode parecer paradoxal, mas o grande partido governamental foi a principal força de oposição quando o Partido Radical criou o novo Estado federal, em 1848. Os católicos eram contra a criação do novo Estado. Derrotados na guerra civil do Sonderbund (1847), eles ficaram à margem da Suíça moderna criada em 1848.

Os radicais mantiveram os católicos distantes do comando do Estado. As medidas hostís à Igreja católica se multiplicavam. Politicamente, os católicos ficaram limitados aos cantões onde eram majoritários.

O marco de 1874

Mas os católicos suíços recusam o isolamento. Para serem ouvidos, eles utilizam os instrumentos da democracia direta, o referendo e a iniciativa popular.

Na revisão total da Constituição federal (1874) os católicos conservadores mostraram que podiam bloquear o funcionamento do Estado. Os radicais preferiram então uma aproximação com os adversários e as portas se abriram.

Um primeiro católico conservador é eleito para o Supremo Tribunal de 1879, outro à presidência da Câmara em 1887 e ao governo federal em 1891.

Essa colaboração com os radicia intensifica-se com o crescimento de um inimigo comum: o socialismo. A greve geral de 1918 reforça ainda mais essa aliança. Em 1920, os radicais, enfraquecidos pela introdução do sistema de eleição proporcional, cedem mais um ministério aos católicos conservadores.

Guinada para o centro

Os católicos conservadores tentam ampliar sua ação para além da defesa dos interesses dos católicos.

A primeira tentativa foi o desenvolvimento do movimento cristão-social. Depois da encíclica Rerum novarum de Leão XIII (1891), os católicos abarcaram teses sociais. Querem, assim, responder às preocupações da classe operária e afastar as sirenes do socialismo.

Outro impulso é dado pelo Concílio Vaticano II (1962-1965). Na política suíça, os católicos se reestruturam e fundam, em 1970, o Partido Democrata-Cristão (PDC).

A nova denominação demonstra que o PDC não renuncia às referências cristãs mas não pretende mais representar unicamente os católicos.

Mais que uma mudança de nome, portanto, trata-se de uma mudança de direção. O novo PDC decide ser um partido de centro. Próximo dos meios liberais em política econômica e financeira, ele não hesita em se aproximar dos socialistas em matéria de política social.

Mas o PDC continua sendo um partido católico. Em 1972, tinha apenas 14% de seus eleitores protestantes.

Essas raízes católicas também tem vantagens. Católicos conservadores, depois democratas-cristãos, significa um eleitorado fiel. Dos anos 20 aos anos 80, o partido mobilizou entre 20 e 23% dos eleitores. Durante esse mesmo período, tinha entre 60 e 66 deputados e senadores.

A decadência

Maior a altura maior o tombo e a queda foi brutal. Em 1987, a porcentagem de eleitores ficou abaixo de 20%. De lá para cá não parou de cair e está agora com 14%. O número de representantes no Parlamento passou de 61, em 1987, para 43 atualmente.

Duas explicações são possíveis. O fato de ser centenário faz com que o voto católico seja muito menos importante que antigamente.

A outra razão, mais importante, é que perfil centrista do PDC não seja claro para boa parte dos eleitores. A posição do PDC é ainda mais delicada quando a situação econômica do país se deteriora.

Frente às preocupações dos cidadãos (desemprego, custos da saúde, etc…), a esquerda, mas principalmente a União Democrática do Centro (UDC, direita nacionalista), propõem novas soluções enquanto democratas-cristãos e radicais limitam-se a defender sua própria política, sem nada de novo.

Foi nesse contexto que ocorreram as eleições legislativas de 19 de outubro último. Amplamente derrotados pela UDC e pelos socialistas, radicais e democrata-cristãos parecem a sombra do que já foram.

Resta doravante aos antigos mentores da política federal encontrar um meio de recuperar o tempo e os eleitores perdidos.

swissinfo, Olivier Pauchard
Tradução : Claudinê Gonçalves

A erosão do PDC no plano federal:

– 1983: 60 cadeiras no Parlamento e 20,2% do eleitorado.

– 1987: 61 cadeiras e 19,6% do eleitorado.

– 1991: 51 cadeiras e 18% do eleitorado.

– 1995: 50 cadeiras no Parlamento e 16,8% do eleitorado.

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