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Muçulmanos da Suíça temem “caça às bruxas”

La prière à la mosquée de Genève. Keystone

A Suíça mantém sob vigilância os islamistas que residem em seu território. Alguns muçulmanos temem ser vítimas de perseguição. Outros relativizam a situação.

Grupos ligados a redes internacionais foram detectados mas as autoridades não acreditam em ações diretas na Suíça.

Depois do 11 de setembro 2001, a Suíça também fechou o cerco aos integristas muçulmanos. Os resultados obtidos demonstram que o terrorismo internacional não leva em conta a neutralidade helvética.

A colaboração entre os serviços secretos e as secretarias federais de Polícia e dos Refugiados permitiu descobrir a presença de meia dúzia de grupos islamistas semi-clandestinos, alguns com até dezenas de militantes.

Dominique Boillat, porta-voz da Divisão Federal dos Refugiados, confirma as informações publicadas segunda-feira (19/4) pelo jornal “Le Temps”, de Genebra, revelando que o Hamas palestino, a Frente Islâmica Tunisiana a Frente Islâmica da Salvação (argelina) têm, entre outras organizações, ramificações na Suíça.

Nada de pânico

«Essas pessoas não representam um perigo para Suíça. Nosso país não é um alvo para eles”, afirma Rheinhard Schulze, diretor do Instituto de Estudos Islâmicos da Universidade de Berna.

“Trata-se apenas de uma pequena minoria e temos meios de controlá-los”, acrescenta Dominique Boillat.

As prova do controle exercido estão na recente detenção em Bienne, perto de Berna, de nove suspeitos de envolvimento nos atentados de Ryad, na Arábia Saudita e a apreensão de documentos ligados ao atentado contra uma sinagoga em Djerba, na Tunísia.

Cuidado com as generalizações

Na comunidade muçulmana, esse reforço da vigilância policial e a publicidade feita pela mídia causam temores de confusão entre islã e extremismo.

“Isso está se tornando insuportável. Vão confundir uma ínfima minoria dentro da comunidade muçulmana com a grande maioria dos muçulmanos”, afirmou à agência de notícias ATS o porta-voz do Centro Cultural Islâmico de Genebra, Hafid Ouardiri.

“Para nós, não existe crescimento do islamismo mas sim um crescimento da islamofobia”, segundo Nadia Karmous, diretora do Instituto Cultura Muçulmano da Suíça.

“Pessoalmente, eu nunca encontrei extremistas, insiste Hafid Ouardiri. Só existe um islã e não há islã fanático ou islã radical.”

Uma realidade complexa

Yves Besson, especialista do Islã na Universidade de Fribourg, tem outro ponto de vista “Não me surpreende que haja extremistas na Suíça. Eles existem em toda a Europa e não haveria razão para não estarem aqui”.

“Um moderado dirá que seu islã é o único mas um fanático dirá a mesma coisa”, afirma Besson, ex-diplomata no Oriente Médio. No entanto, acrescenta, associar todos os muçulmanos a extremistas é dar uma resposta simples a uma questão muito complexa”.

Essa complexisdade também é ressaltada por Ahmed Benani, especialista do mundo árabe e muçulmano contemporâneo na Universidade de Lausanne.

“O islã é atualmente a segunda religião monoteísta na Europa Ocidental”, explica Benani. “É o islã transplantado que se tornou o islã europeu, com uma adesão mais ou menos marcada à religião inicial.”

Ma Suíça, os muçulmanos vêm da Turquia, dos Balcãs, da África, da Ásia e do mundo árabe e formam um mosaico de tendências religiosas tão diverso quanto o dos cristãos ou os judeus.

“Assim, evidentemente, existem os “loucos de Deus” mas também os laicos e os ateus, sem esquecer que, como os cristãos, os muçulmanos da Europa tem apenas de 10% de verdadeiros praticantes”, afirma Benani.

“Caça às bruxas”?

«Compreendo que a comunidade muçulmana esteja inquieta”, admite Rheinhart Schulze. “Tenho a impressão que as autoridades exageram um pouco e isso contribui para dar essa impressão de que a ‘caça às bruxas’ começou”.

Ahmed Benani, da Universidade de Lausanne discorda e afirma que o termo “caça às bruxas” aplica-se a certos países árabes depois do 11 de setembro, como a Síria e a Jordânia, com desprezo quase total dos direitos humanos.

“O ambiente na Europa é muito diferente. A Suíça é um Estado de direito. Se suspeitos forem detidos, eles terão direito a um processo equitativo e existem associações para representá-los e defendê-los”, explica Benani.

Oficialmente, em todo caso, Dominique Boillat, acalma o debate. “Não há qualquer vontade das autoridades de lançar uma ‘caça às bruxas’, afirma o porta-voz da Secretaria Federal dos Refugiados.

swissinfo e agências

– Existem cerca de 300 mil muçulmanos na Suíça. A maioria provém da Turquia e dos Balcãs. Apenas 38 são de origem árabe.

– Depois dos atentados do 11 de setembro 2001, a Suíça, como outros países, reforçou a luta contra os extremistas islâmicos.

– As autoridades identificaram meia dúzia de grupos radicais com ramificações na Suíça. As maiores têm algumas dezenas de militantes.

– Essa vigilância causa temores de generalização entre certos muçulmanos.

– Autoridades e especialistas do islã relatizam esses temores.

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