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Livro conta história dos suíços do Espírito Santo

Capa do Livro publicado no Espírito Santo, com textos de 1860. swissinfo.ch

A partir de agora, os descendentes dos suíços no Espírito Santo conhecerão parte da vida de seus antepassados que emigraram em meados do século XIX.

O Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, com apoio de swissinfo, publica “Viagem à Província do Espirito Santo”, dois textos do Johann Jakob von Tschudi, que esteve duas vezes na região.

Um evento importante para os capixabas descendentes de suíços ocorreu sexta-feira (17.12) em Vitória, capital do Espírito Santo.

Alguns deles estarão entre as mais de quinhentas pessoas convidadas para o lançamento de Viagem à Província do Espírito Santo, Imigração e Colonização Suíça 1860. A publicação contou com o apoio de swissinfo/Rádio Suíça Internacional.

Fotos inéditas

A cerimônia de lançamento do livro ocorre às 17 hs no Palácio Anchieta, sede do governo estadual, em presença do governador Paulo Hartung.

Por uma feliz coicidência e um trabalho sério do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, o livro inclui 16 fotografias inéditas do francês Jean Victor Frond, datadas de 1860 – as mais antigas do Espírito Santo até hoje conhecidas -e descobertas pelo pesquisador e jornalista Cilmar Franceschetto.

“Sabíamos da existência dos originais dessas fotos na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, mas elas estavam sem identificação de autoria”, explica Cilmar Franceschetto. O fato de Vitor Frond ser citado por Tschudi é que permitiu a identificação dos únicos originais conhecidos do fotógrafo francês”, explica o pesquisador.

A capa do livro sobre a emigração suíça foi feita a partir de uma foto de Victor Frond, da entrada da baía de Vitória, em 1860.

Textos inéditos em português

O dois textos que motivaram a publicação são relatos acerca das condições de vida dos suíços nas três primeiras colônias de europeus no Espírito Santo: Santa Isabel, Santa Leopoldina e Rio Novo, ambos de autoria do médico e cientista Johann Jakob von Tschudi.

Em 1860, como Enviado Extraordinário da Confederação Suíça ao Brasil,
Tschudi fez um relatório sobre as três colônias capixabas citadas e também já com as colônias de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Anteriormente ele já fizera o mesmo em Minas Gerais. Ainda estávamos na época imperial e os estados chamavam-se Províncias.

O período de imigração no Espírito Santo, de várias nacionalidades, foi de 1812 a 1900. Entre 1856 e 1894, 480 colonos suíços instalaram-se no Espírito Santo.

O primeiro grupo de suíços chegou em dezembro de 1856, depois de 58 dias de viagem a partir de Hamburgo, passando pelo Rio de Janeiro.

Era composto de 12 famílias, num total de 90 pessoas, originárias dos cantões de Argóvia, St.Gallen, Berna e Fribourg. O Projeto Imigrantes Espírito Santo do Arquivo Público Estadual (APEES) dispõe de dados até sobre a religião dos imigrantes suíços.

Relatório crítico

Em março de 1857, desembarcou no Espírito Santo um grupo de 117 suíços e 37 alemães, provenientes de Ubatuba-SP. Eles haviam se rebelado contra as condições de vida nas fazendas paulistas. Esses suíços eram originários dos cantões de Zurique, Glarus, Grisões, Argóvia, St.Gallen e Schaffausen.

Em seu relatório para o governo suíço, em 1860, Tschudi repertoria 38 famílias suíças no Espírito Santo. Elogia algumas e critica outras. Faz previsões pessimistas e mostra-se bastante crítico quanto ao futuro das colônias.

Sobre a colônia de Santa Isabel afirma não crer que “ela terá um futuro muito própero”. Foi categórico ao afirmar que a “colônia de Santa Leopoldina não tem futuro”. Quanto à colônia de Rio Novo diz que “tem potencial da terra e do clima” mas que, “com a miserável administração atual, pode-se dizer que ela não tem qualquer possibilidade de futuro”.

Vasta obra

Outro texto publicado no livro é um capítulo de Viagens na América do Sul – Reisen durch Südamerika – obra em cinco volumes editada em Leipzig, Alemanha, entre 1866 e 1869.

Tschudi, antes de ter estado no Brasil, havia feito duas viagens à América do Sul, incluindo Peru, Bolívia, Chile e Estados do Prata.

Na obra em alemão, o autor suíço é ainda mais crítico em relação às colônias no Espírito Santo do que no relatório oficial.

“No meu entender, a razão disso é que Tschudi, escrevendo uma obra na Europa, sem a conotação oficial nem diplomática, se sentiu mais à vontade para carregar nas tintas, afirma a historiadora Gilda Rocha, especialista da imigração no Espírito Santo.

Transição para o trabalho livre

Na apresentação de Viagem à Província do Espírito Santo, quinto volume da coleção Canaã, o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (ele próprio descendente de alemães) afirma que, “felizmente (…) os imigrantes superaram os obstáculos de então e não confirmaram as previsões de Tchudi”.

Para o escritor, cientista social e diretor do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, Agostino Lazzaro, a publicação representa “um avanço ao recuperarmos um fragmento importantíssimo da nossa história, que é a ocupação sitemática – implementada pelo governo da época – de grande parte do território espírito-santense”.

Gilda Rocha lembra que a “política imigrantista” do Governo Imperial” visava promover o povoamento de imensas áreas inabitadas (…) mas já pairava em muitas mentes que a colonização era um meio de promover a transição do trabalho escravo para o trabalho livre”.

swissinfo, Claudinê Gonçalves, em Vitória.

1856 – chegada dos primeiros colonos suíços ao Espírito Santo; eram 12 famílias (90 pessoas)
1860 – Tschudi relata as condições de vida de 38 famílias suíças em três colônias: Santa Isabel, Santa Leopoldina e Rio Novo.
Entre 1856 e 1894, 480 colonos suíços instalaram-se no Espírito Santo.
As fotos eram inéditas e os textos idem, em português.

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